domingo, 9 de setembro de 2012

Reinventando-me



[...]
Acredito em sonhos, não em utopia.
 Mas quando sonho, sonho alto.
Estou aqui é pra viver, cair, aprender,
levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida
pede um pouco mais de mim.
[...]

(Tati Bernardi)



Quando assisti ao filme A invenção de Hugo Cabret (cujo trailer coloquei aqui para quem quiser assistir) não esperava me emocionar da forma como me emocionei. A história me arrancou um mar de lágrimas. 


O tempo passou, mas, a história do filme, ficou guardada em um cantinho dentro do meu coração, ali quietinha, aconchegada a mim, esperando um momento para partilhar das minhas divagações.
O filme fala sobre a desesperança e o desencanto  vividos por George Méliès. O cineasta, considerado o "pai dos efeitos especiais", viveu o auge e  a decadência do cinema após a I Gerra Mundial. 
Hugo Cabret, um órfão que vive em uma estação de trem se encontra com Méliès e acaba consertando uma das grandes invenções do cineasta: um autômato (um boneco de metal que, usando mecanismos de relógio de corda, executava movimentos). Consegue também, com a ajuda de um fã de Méliès, recuperar algumas fitas de seus filmes, fazendo-lhe uma homenagem e reinventado a vida do ex-cineasta.
Méliès havia perdido todo o sentido da vida, julgando-se esquecido pelo público. Vivia anonimamente uma vida amarga, acreditando não ter valido a pena nada do que havia feito no cinema, mas, Hugo, devolve-lhe a alegria.
Do mesmo modo como Méliès sentiu ter pedido o rumo, quando nos deparamos com circunstâncias que nos desviam do trajeto que havíamos traçado para nós, ou, que nos forçam a desistir de alguns projetos de vida, sentimo-nos, também, desmotivados e, muitas vezes, nos tornamos amargos.
Durante minha vida, por conta de inúmeras situações que se sobrepuseram umas às outras, fui obrigada a abrir mão de alguns sonhos e ideais de vida. Sendo que, por conta da Esclerose Múltipla, abri mão de outro sonho que cheguei, brevemente, a concretizar: a Arte Educação.
E não foi somente isso, a minha companheira inseparável trouxe com ela uma série de outras renúncias involuntárias: desenhar ficou difícil, as colagens, que eu adoro, também, meu ateliê de enxovais para bebê foi desativado...
A melancolia por sentir-me incapaz de atingir as metas de vida que havia planejado para mim rondou-me, chegando mesmo a compartilhar dos meus dias por algum tempo... Foi, nesse momento, que o enredo do filme que estava adormecido dentro das minhas lembranças acordou, fazendo-me perceber que, se a Esclerose Múltipla trouxe com ela algumas limitações por conta da fraqueza muscular, tremores, formigamentos e, a mais avassaladora delas, a fadiga, era necessário que eu, assim como Hugo fez com Méliès, reinventasse minha própria vida.
Se desenhar ficou difícil, recortar e colar, pior ainda, a minha arte se voltou para a expressão das minhas angústias e inquietações. Deixei, espero que temporariamente, de elaborar trabalhos minuciosos e passei a dedicar-me aos objetos, às acumulações, às interferências sobre fotografias. Reinventei minha essência criativa, mas não deixei de criar.
Não pude mais me dedicar aos enxovais de bebê porque bordar durante horas seguidas ficou  impossível, mas, se minhas mãos não conseguem mais manusear habilmente as linhas e agulhas, minha mente fervilha de ideias, então, passei a escrevê-las aqui, como forma de reinventar-me.
Não, eu me recuso a permitir que a Esclerose Múltipla tire de mim a satisfação de realizar alguns sonhos cultivados durante minha existência. Não vou deixar que ela me transforme, assim como a desesperança fez com Méliès, em um poço de amargura. Ela até pode ter modificado meus planos, ter-me feito redesenhar o projeto da minha vida e, aqui e ali, modificá-lo para readequá-lo às circunstâncias e possibilidades, mas ela não vai me fazer desistir de sonhar, pois reinventarei-me quantas vezes se fizerem necessárias para que eu possa sentir-me uma pessoa plena, dona e senhora da minha própria existência.


Um beijo reinventado!

2 comentários:

  1. Pôxa vida, hj debrucei-me nas páginas da internet para buscar mais informações sobre gliose e bainha de mielina???? meu esposo vem apresentando alguns problemas, o médico pediu uma Ressonância do crânio e detectou uma possível desminielização. estou muito preocupada!!! Pesquisei, pesquisei e cheguei até aqui, li seus depoimentos esse "Reiventando-me" me dá uma força porque eu sinto que também terei que reinventar-me, , abandonar alguns sonhos, mas terei forças para inventar outros também, tenho tido medo, do enfrentamento de alguns obstáculos que a vida tem me colocado de frente, mas percebo que outras portas devem se abrir e fique certa de que, como diz o poeta "se não abrimos a porta que se apresenta diante de nós, ela permanecerá ali, até que tenhamos coragem para abri-la e quando a abrimos outras tantas portas surgirão a nossa frente". A vida é assim, precisamos ter coragem para abrir as portas. Você teve, Bete!!! Parabéns.

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  2. Olá...

    Obrigada por ter estado aqui e por suas palavras...
    A vida, eu tenho aprendido, nada mais é que um constante reinventar-se.
    Eu entendo e compartilho dos medos que tem sentido, pois, mentiria, se dissesse que a EM não me assusta com sua face fantasmagórica, mas, como escrevi no post, tenho me reinventado dia-a-dia a fim de que essa minha companheira não me tiranize com seus desmandos de menina mimada e inconsequente...

    Um beijo grande e força, muita força e, quando precisar, estou sempre aqui...

    Bete

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