quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Quando se vê, já é Natal...

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.



Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal...


(Leticia Correa)





Eu não tenho dúvida alguma de que está havendo uma aceleração no tempo. Os dias estão passando rápido demais... os meses se sobrepõem com uma velocidade surpreendente... um natal vai embora e o outro já desponta sem ao menos dos dar tempo para digerirmos os acontecimentos entre um e outro...é, o tempo não para para esperar que assimilemos que ele tem pressa, mas muita pressa mesmo de ficar para trás.
Como sempre faço, ano após ano, hoje me peguei a refletir sobre tudo o que eu vivi entre o natal passado e o dia de hoje e, me perdoem a expressão chula, "PQP", foram coisas demais para uma esclerosada (rsrsrsrsrs)! 
2013 foi o ano da minha ressurreição! E essas não são palavras minhas, mas palavras de alguém que me conhece melhor que eu mesma, de alguém que me enxerga tão intimamente que às vezes até me assusta: minha terapeuta... É, foi ela quem me disse que eu sobrevivi, ou melhor, renasci bravamente dos acontecimentos que se sobrepuseram e quase me fizeram ruir na base. 
Eu balancei, confesso, sofri rachaduras profundas, quase fui condenada à demolição, mas eu preferi restaurar minhas estruturas e retomar o comando da minha vida, deixando de fora dela tudo o que, à primeira vista e sob um olhar parcial e encantado, parecia ser a minha sustentação. Quanta cegueira, quanta mentira, quanta falta de amor próprio! 
Aliviada... mais forte... mais de bem com a vida... mais dona de mim mesma... menos influenciável...  atravessei todos os percalços e barreiras que eu acreditava serem intransponíveis enquanto minha visão estava constantemente turvada pelo choro e, hoje, posso afirmar, com toda a sinceridade do mundo, que o natal que se comemora hoje, está sendo o que mais me trouxe motivos para me encantar com suas luzes, pois me sinto tão livre, tão de posse da minha vida, tão ausente de falsos pudores, tão liberta de falsas convenções sociais, tão eu mesma, tão real na minha forma de viver e encarar a vida, que sinto que só agora, após o 46º Natal da minha vida, eu consegui enxergar, de verdade, toda a beleza e profundidade de ser quem eu sou... esclerosada, madura, em paz com o espelho (não, eu não emagreci, apenas aprendi a me olhar com mais respeito), segura do que é bom ou não para mim, menos manipulável, ou melhor, nada manipulável, feliz, muito feliz!

Feliz Natal e beijos no coração para todos os que enxergam a si próprios como pessoas que merecem e devem ser extremamente felizes!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Psicopatia pura...




Poderíamos dizer que o psicopata é aquela pessoa que sabe a letra da música mas não sente a melodia.

(Ana Beatriz Barbosa Silva)





Um pai espanca a filha de 9 anos, com tal violência, que além de fraturas, a deixa  desmaiada de tantos chutes que lhe desferiu na cabeça...
Antes disso, espanca o sobrinho de 11 anos, deixando-o estirado no chão.
A razão disso tudo?
O primo de 11 anos passou a mão nas nádegas da prima de 9 anos.
Por que tanta violência?
Tudo em nome de uma pretensa forma de educar para que o ato libidinoso entre as crianças nunca mais se repita. No dizer do monstro disfarçado de pai, o sobrinho nunca mais fará isso com outra menina e, a filha, aprenderá a se defender de atos parecidos, pois, se assim não for, ela corre o risco de se transformar em uma prostituta no futuro.
Parece irreal, não parece? 
Eu também estou sem acreditar até agora, mas isso aconteceu com pessoas muito próximas, com as quais eu tinha contato quase que diários. Triste e doloroso demais.
O pai foi preso em flagrante, a filha está hospitalizada há uma semana em estado crítico em todos os sentidos, o sobrinho está se recuperando. 
Agora, o por quê de eu ter trazido essa história repugnante para cá?
Simplesmente, porque ela me fez refletir até onde o ser humano é capaz de ir, usando como justificativa pretensos sentimentos nobres, como amor, preocupação, desejo de educar... Sentimentos esses usados deturpadamente por mentes doentias que envolvem, que manipulam, que usam, que abusam, que fazem pessoas reféns das suas psicopatias.
Eu me preocupo demais com você, então vou controlar todos os seus passos, controlar suas amizades, controlar seus sorrisos, controlar suas lágrimas, controlar suas palavras, controlar a roupa que você usa, controlar você de todas as formas possíveis...
Eu te amo, então vou te escravizar, vou exigir de você toda a sua energia, vou te dizer palavras que te levam ao inferno, mas depois vou me desculpar e você vai aceitar minhas desculpas, com um sorriso nos lábios, porque você sabe do tamanho do meu amor. Vou monopolizar a sua atenção, ter crises injustificadas de ciúmes, vou ser injusta com você, vou te ferir da pior forma possível, mas você não vai deixar de me amar porque sabe que faço tudo isso por excesso de amor a você...
Eu só quero o seu bem, por isso eu vou te dar a melhor educação, vou te espancar quando precisar, vou te ferir moralmente, mas você vai compreender porque sabe que se eu não fizer isso, você vai se perder no caminho e tomar direções erradas, muitas vezes sem volta...
Essas são visões deturpadas do amor, do querer bem, do querer sempre o melhor para o outro. São visões de psicopatas disfarçadas de cônjuges, pais, namorados, companheiros, amigos, irmãos, tios... e por aí vai. Pessoas doentes que deveriam estar sendo tratadas psiquiátrica e psicologicamente, pois representam perigo para os objetos do seu "amor" e da sua obcessão.
Triste demais tudo isso, mas, infelizmente, não conseguimos detectar precocemente o grau de desequilíbrio de pessoas muito próximas a nós, pois, muitas vezes, quando elas dão mostras de que não são sãs, nós temos a tendência de justificar seus comportamentos, até que chega o momento em que a doença mental ou a maldade pura eclode e respinga dor e decepção para todos os lados.
Então, só aí, vemos o quanto fomos manipulados, usados, machucados e, muitas vezes, o estrago é tão grande que apenas muita força, apoio e compreensão serão capazes de resgatar um pouco do que fomos antes disso tudo. Um pouco, sim, porque totalmente eu acredito que não tem mais como ser.

Beijos enlutados pela dor da menina que perdeu a fé naquele que deveria ser seu maior protetor...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Pesos desnecessários...






Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas.. Daqui para frente apenas o que couber no bolsa e no coração.


(Cora Coralina)





Têm pessoas que são tão leves de carregar que mais parecem que são plumas a flutuarem por sobre nossas cabeças. São pessoas de riso fácil, de olhar carismático, de palavras amenas, de ouvidos disponíveis, de visão que enxerga além do que as aparências mostram. Não, não são pessoas perfeitas, longe disso, nem pessoas sem problemas, muito pelo contrário. São pessoas que enfrentam, muitas vezes, até mais dificuldades que as demais. Que vertem lágrimas doloridas,que têm feridas abertas, que têm cicatrizes na alma.
Porém, existem pessoas cujo peso emocional nos transporta para o fundo do calabouço da nossa alma. São pessoas tão pesadas, tão dotadas da capacidade de nos jogar para baixo, que fica difícil manter nossa sanidade ao lado delas. Seus lábios proferem risos sarcásticos, seu olhar transborda ressentimentos, suas palavras são cortantes feito navalha, não sabem ouvir, apenas falar das próprias maledicências que sempre são maiores que as dos demais, vivem das aparências externas e não enxergam nada além do próprio umbigo. 
Por toda a minha vida eu tenho carregado pesos desnecessários, levando na bagagem dores e ressentimentos que não eram meus, lágrimas derramadas por ingratidões que nunca foram minhas, mágoas engolidas pela falta do perdão que outros não deram, olhares de reprovação por coisas que não fiz, palavras ásperas por incompreensões que não foram minhas... 
Me sobrecarreguei de pessoas que não mereciam tanta dedicação minha. Adoeci, esclerosei, surtei, chorei, gritei, deprimi, quase morri de tristeza...
Mas, como nada nesta vida é em vão, como tudo tem uma razão de ser, minha quase morte se mostrou ser a minha real ressurreição. É, isso mesmo, ressuscitei das minhas próprias angústias e percebi que não tenho de carregar mais nenhuma bagagem desnecessária, descobri que não sou responsável pela falta de amor próprio de ninguém, que não sou o paliativo para pessoas adoecidas por mazelas de alma e caráter. Não posso curar ninguém que não deseja a cura real, não posso dar tudo de mim para quem não merece nada, não posso carregar as frustrações alheias, nem ser responsável por atos ensandecidos daqueles a quem um dia dei o meu melhor, mas que apenas me deram desamor de volta.
Eu desisti, ou melhor, esvaziei a mala da bagagem maléfica, uma vez que carregar a Esclerose Múltipla comigo já é um peso aquém das minhas forças, muitas vezes. 
Eu me amo, demorei para aceitar isso, demorei para aceitar que tenho de me amar mais do que a qualquer outra pessoa, a fim de poder dar o meu melhor àqueles que realmente valham a pena. Sem amor próprio eu não amaria nada nem ninguém. 
Minha mala está bem mais leve agora...

Beijos leves no coração de todos!