Bete Tezine discursando na Colação de Grau dos formandos em Artes Plásticas do 1º semestre/2012, da FAINC |
Penetra com mais prazer o
coração dos ouvintes aquele
discurso que a
vida do professor
recomenda.
(São Gregório)
Em uma eleição bastante duvidosa (fui a única candidata sem nem mesmo ter me candidatado), elegeram-me, por unanimidade, a oradora para o discurso de Colação de Grau da turma de Artes Plásticas da FAINC - Faculdades Integradas Coração de Jesus.
Estando em dívida com alguns colegas que me pediram uma cópia do discurso e por ser hoje comemorado o Dia da Independência do Brasil, motivo pelo qual muitos estão discursando nas comemorações que estão ocorrendo em todo o país, resolvi transcrever aqui as palavras que, tremendo muito, proferi na noite de 29 de junho de 2012:
Boa noite a todos!
Gostaria, inicialmente, em
nome dos formandos do curso de Educação Artística, com Habilitação em Artes
Plásticas, de agradecer a presença, nessa cerimônia de colação de grau, do
diretor geral das Faculdades Integradas Coração de Jesus, Prof. Dr. Wellington
de Oliveira, da vice-diretora Ir. Ivone Rezende, do coordenador do curso Prof.
Antonio Valentim de Oliveira Lino, da nossa paraninfa Prof. Ms. Patrícia Goulart Prata, dos demais componentes da mesa, de todos os professores,
familiares e amigos.
Em seguida, quero agradecer
aos meus amigos de turma por terem confiado a mim a importante missão de, em
nome de todos, proferir algumas palavras neste momento.
Ainda trago bastante nítido na minha memória o nosso primeiro dia de aula. Era uma aula de português e literatura, ministrada pelo Prof. Fernando, que, após apresentar-se, solicitou que cada um de nós nos apresentássemos. Algumas dessas apresentações ainda estão bem vivas em minha mente e, acredito, na mente de muitos dos que estavam presentes naquela aula.
Alguns não chegaram, pelos
motivos mais diversos, a concluírem o curso, como o Sinvaldo Sabará, que
acredito ainda morar em Mauá, carteiro, músico e ex-candidato a vereador por
sua cidade. Como a Núbia, cabeleireira acostumada a fazer arte nas cabeças dos
clientes e que acabou revelando-se uma brilhante poetisa. A Valéria, professora
de Educação infantil, muito tímida, de voz suave, mas que tinha pesadelos com
as provas de literatura. Lembro, também, do Cleber, tatuador, meio maluco, que competia
com o professor Laerte, de Teoria da Comunicação, sobre quem melhor desenhava
um pássaro na lousa e adivinhem quem ganhava? Lembro-me, ainda, da Bianca, a
última a nos deixar, designer de moda, que disse buscar nas Artes Plásticas um acréscimo
para a criação de suas estampas.
Outras apresentações das
quais me lembro foram as da Rosalda, uma das formandas, e de sua filha Beatriz
que, com a chegada da Valentina, optou por adiar a conclusão do curso. Ambas
professoras da rede municipal que ao retornarem para o ensino superior buscavam, em uma segunda graduação, aprimorarem-se como professoras.
Muitos eram os interesses e
as expectativas para estarmos presentes naquele primeiro dia de aula, porém,
havia algo em comum a todos nós: a paixão pela arte. Sim, paixão, pois, se
faltava-nos o conhecimento teórico de técnicas, linguagens e movimentos
artísticos, alguma coisa nos aproximava, inquestionavelmente, do mundo das
artes.
Assim, iniciamos naquele dia
nossa jornada rumo a descobertas e experimentos que nos fizeram evoluir, não só
como artistas, mas, principalmente, como seres humanos. A evolução artística pode
ser observada, claramente, ao compararmos os primeiros esboços que fizemos nas
aulas de Desenho, com a professora Rose, com as obras expostas na exposição de
graduação. Evoluímos dos vasos disformes e desproporcionais ao encontro da
verdadeira essência criativa de cada um.
Nesse ponto, abro um
parêntesis para pedir desculpas aos familiares e amigos que, por muitas vezes,
foram apresentados aos nossos vasos disformes e, para preservar-nos de uma “decepção
artística”, disseram nunca terem visto algo tão belo, chegando mesmo a
dizer-nos que deveríamos emoldurá-los e pendurá-los na parede. Então, pedimos
perdão solenemente pelos constrangimentos a que vos submetemos.
No entanto, com o decorrer
dos semestres, a partir do momento em que passamos a conhecer e experimentar
diferentes tipos de técnicas e linguagens, fomos compreendendo o verdadeiro sentido
da arte e, cada um de nós, acabou por encontrar a sua forma de expressão, autêntica e
inquestionável.
Mas, foi o crescimento
humano que, talvez, tenha sido nosso maior ganho, pois, uma vez que nossa
sensibilidade para a arte foi aflorada, aflorou também nossa sensibilidade
humana, tornando-nos pessoas capazes de melhor compreender os que estão a nossa
volta, despertando em nós o desejo de, por meio de nossa arte, proporcionar um
novo olhar aos que nos rodeiam. E esse novo olhar pode ser
observado em nossos próprios lares, pois, aqueles que diante de uma obra
contemporânea questionavam-se: mas isso é arte? Hoje não se surpreendem mais ao
verem preservativos cheios de bonecos e água colorida; ao verem uma frigideira
cheia de bolinhas de desodorante rollon; ao se depararem com uma caixa de
madeira cheia de seringas para injeções; ao observarem um conjunto de aquários
dispostos apenas com água, sem peixes; ao verem monstrinhos de pelúcia saindo
de caixas de fósforos ou um crânio de gesso repleto de cabelo humano; nem mesmo
uma caixa de fósforos forrada de strass ou um tronco de madeira apoiado sobre
uma pedra; ou quando observam uma placa de madeira com diversos celulares
defeituosos dependurados.
Assim, o aguçamento do olhar
para a arte não ficou restrito a nós, estudantes, mas foi passado, às vezes até
mesmo por osmose, àqueles que conosco convivem e que, por sua vez, acabam por
transmitir a outros, que transmitem a outros, que transmitem a outros e outros e outros. É, nosso ganho é mesmo inquestionável
e imensurável!
Outro ponto que desejo
destacar é a persistência que nos levou a chegar até aqui, pois, não nos
faltaram motivos para esmorecimentos. Foram ônibus lotados, congestionamentos,
doenças, filho que chegou no meio da jornada e outras coisas mais, porém,
resistimos, apoiados pelas famílias e pelos professores que nos compreenderam e
nos ajudaram e, principalmente, pela nossa vontade de chegar ao fim dessa
empreitada que se iniciou há exatos 3 anos.
Por outro lado, em uma turma
que já era pequena desde o início, éramos apenas 26, e que no decorrer do
curso foi perdendo alunos, agregando outros poucos e, quando da opção pela
habilitação em artes plásticas, restaram apenas 9 de nós, é evidente que os
laços de amizade ficassem ainda mais estreitos. Todos nós conhecemos as
histórias uns dos outros. Compreendemos e apoiamos nossos anseios, nossos
sonhos, nossas dores. E, por esse motivo, é óbvia a saudade que já estamos
sentindo dos nossos encontros diários, a saudade dos ataques de riso em meio a
uma aula de desenho quando a Prof. Rose falava: Ah! Mas que horrível (voz da Tânia). Ou, nas
aulas de Aquarela, quando o Professor Valdo dizia que nossas cores estavam
desmaiadas, ou mesmo, quando a Lígia e a Tânia se comunicavam de forma que uma
dizia uma coisa e a outra entendia outra completamente diferente. Mas, isso era
perfeitamente compreensível para nós, pois, as loiras presentes que me perdoem, mas se tratava da conversa entre
duas loiras.
Além disso, apesar da
separação física, não nos separamos emocionalmente dos nossos amigos da
Habilitação em Artes Cênicas, uma vez que mantivemos com eles as mesmas relações de
carinho e amizade. Assim, o aperto no coração se fez sentir mais latente no dia
em nós assistimos à apresentação da peça teatral encenada por eles, uma vez que foi, naquele momento, que tivemos a
nítida certeza de que o fim estava próximo. Um fim muitas vezes desejado, mas
que, ao ser atingido, provocou-nos uma sensação de vazio e uma saudade
antecipada de tudo o que vivenciamos nesses últimos 3 anos. É uma dor inenarrável
sabermos que não nos veremos mais diariamente, que não nos encontraremos mais,
toda semana, com os professores que nos guiaram por essa jornada que se encerra
hoje, mas, de alguma forma, todos os bons momentos vividos por nossa turma
ficarão gravados em nossas memórias e corações indefinidamente. E assim, como
somos poucos, pretendemos não deixar que essa amizade se perca com o tempo e com
as atividades de cada um. Esse é um compromisso que assumimos uns com os
outros, aqui, nessa cerimônia solene.
E nesse momento queremos
tecer um especial agradecimento a todos os professores que passaram por nossa
turma e deixaram seus ensinamentos gravados em nós, alguns dos quais não estão
mais presentes nesta instituição de ensino, mas, que nem por isso deixaram de
ser importantes para nossa formação. Assim, muito obrigada aos prof. Fernando, Laerte e Jorge, às prof. Lourdinha, Rosane e Salete. Muito obrigada aos prof. Valdo e Martin, às prof. Fernanda, Fabíola, Solange e Daniele. Muito obrigada aos prof. Lino, Jacques, Marcello e Evandro, às prof. Daniela, Regina, Milca, Rose e Patrícia, às prof. Ir. Ivone, Eliana e Liliane e, em especial, muito obrigada à prof. Ir. Iracema, in
memorian.
Desejamos, também, agradecer aos funcionários da Fainc, pela dedicação com a qual sempre
nos atenderam, em especial a Tânia e ao Silvano.
Queremos
agradecer, ainda, aos familiares e amigos que aqui estão presentes pela
paciência e apoio que nos dedicaram durante todo o curso. Sintam-se todos
recebendo, nesse momento, um beijo na face de todos os formandos.
E para finalizar, desejo fazer um agradecimento especial aos meus colegas de turma: sintam-se abraçados, um a um, por mim neste momento e quero que saibam que, não possuindo palavras para retribuir todo o apoio e compreensão que me dedicaram durante todo o curso, mas que foram intensificados sobremaneira nesse último semestre, pelas razões que todos vocês conhecem, tomo de empréstimo as palavras de Milton Nascimento para dizer-lhes que: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Eu amo vocês!
E para finalizar, desejo fazer um agradecimento especial aos meus colegas de turma: sintam-se abraçados, um a um, por mim neste momento e quero que saibam que, não possuindo palavras para retribuir todo o apoio e compreensão que me dedicaram durante todo o curso, mas que foram intensificados sobremaneira nesse último semestre, pelas razões que todos vocês conhecem, tomo de empréstimo as palavras de Milton Nascimento para dizer-lhes que: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Eu amo vocês!
Muito abrigada a todos!
Um beijo repleto de saudades!!!!
Emoção é a palavra certa para descrever o que senti ao ler seu discurso. Principalmente por saber que agora também me encontro na reta final. Parabéns Bete, você tem o dom da palavra.
ResponderExcluirOi Ana, que bom te ver por aqui! Tremi demais para proferir essas palavras, você nem imagina o quanto!!! Mas, foi mesmo emocionante!!! sinto tantas saudades....
ExcluirBeijos,
Bete
Oi Bete adorei reler seu discurso. Lindo! É pra se guardar... E fiquei com saudades...
ResponderExcluirDesde as suas primeiras postagens quiz me manifestar, mas não soube como fazê-lo ou melhor, não deu certo.
Parabéns por mais este desafio enfrentado. Seu blog está muito legal!
Bjs Patricia
Quanta saudade... Você não imagina o tamanho dela. Fico muito feliz em te ver por aqui. É uma honra para mim. Obrigada pelo elogio e pelo incentivo e apoio de sempre. Tenho escrito um pedacinho da minha alma em cada uma das postagens, até que um dia ela esteja inteirinha transcrita aqui.
ResponderExcluirBeijo enorme
Bete
P.S.: amo você!
Bete minha querida! Suas perfeitas palavras atingiu me como raio de saudade. Passando um verdadeiro filme em minha mente. Lembro tambem de nosso primeiro dia de aula... Com muita alegria e principalmente ao saber que a reta de aulas chegaram ao fim. Porem é o inicio de uma nova joranada. Desejo sucesso a todos, bjs e mais uma vez saudade de todos. Sinvaldo Sabará da cidade de Mauá rsrs. 11 97172-6774 vivo bjs entre em contato e me add no face sinvaldo carteiro.
ResponderExcluirOie Sinvaldo Sabará, que mora em Mauá e compra na C & A! Que prazer te encontrar por aqui! Saiba que a saudade é recíproca!
ResponderExcluirUm beijo grande