sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Meu discurso


Bete Tezine discursando na Colação de Grau dos formandos em
Artes Plásticas do 1º semestre/2012, da FAINC



Penetra com mais prazer o 
coração dos ouvintes aquele 
discurso que a 
vida do professor
 recomenda.

(São Gregório)








Em uma eleição bastante duvidosa (fui a única candidata sem nem mesmo ter me candidatado), elegeram-me, por unanimidade, a oradora para o discurso de Colação de Grau da turma de Artes Plásticas da FAINC - Faculdades Integradas Coração de Jesus. 
Estando em dívida com alguns colegas que me pediram uma cópia do discurso e por ser hoje comemorado o Dia da Independência do Brasil, motivo pelo qual muitos estão discursando  nas comemorações que estão ocorrendo em todo o país, resolvi transcrever aqui as palavras que, tremendo muito, proferi na noite de 29 de junho de 2012:

Boa noite a todos!

Gostaria, inicialmente, em nome dos formandos do curso de Educação Artística, com Habilitação em Artes Plásticas, de agradecer a presença, nessa cerimônia de colação de grau, do diretor geral das Faculdades Integradas Coração de Jesus, Prof. Dr. Wellington de Oliveira, da vice-diretora Ir. Ivone Rezende, do coordenador do curso Prof. Antonio Valentim de Oliveira Lino, da nossa paraninfa Prof. Ms. Patrícia Goulart Prata, dos demais componentes da mesa, de todos os professores, familiares e amigos.
Em seguida, quero agradecer aos meus amigos de turma por terem confiado a mim a importante missão de, em nome de todos, proferir algumas palavras neste momento.

Ainda trago bastante nítido na minha memória o nosso primeiro dia de aula. Era uma aula de português e literatura, ministrada pelo Prof. Fernando, que, após apresentar-se, solicitou que cada um de nós nos apresentássemos. Algumas dessas apresentações ainda estão bem vivas em minha mente e, acredito, na mente de muitos dos que estavam presentes naquela aula.
Alguns não chegaram, pelos motivos mais diversos, a concluírem o curso, como o Sinvaldo Sabará, que acredito ainda morar em Mauá, carteiro, músico e ex-candidato a vereador por sua cidade. Como a Núbia, cabeleireira acostumada a fazer arte nas cabeças dos clientes e que acabou revelando-se uma brilhante poetisa. A Valéria, professora de Educação infantil, muito tímida, de voz suave, mas que tinha pesadelos com as provas de literatura. Lembro, também, do Cleber, tatuador, meio maluco, que competia com o professor Laerte, de Teoria da Comunicação, sobre quem melhor desenhava um pássaro na lousa e adivinhem quem ganhava? Lembro-me, ainda, da Bianca, a última a nos deixar, designer de moda, que disse buscar nas Artes Plásticas um acréscimo para a criação de suas estampas.
Outras apresentações das quais me lembro foram as da Rosalda, uma das formandas, e de sua filha Beatriz que, com a chegada da Valentina, optou por adiar a conclusão do curso. Ambas professoras da rede municipal que ao retornarem para o ensino superior buscavam, em uma segunda graduação, aprimorarem-se como professoras.
Muitos eram os interesses e as expectativas para estarmos presentes naquele primeiro dia de aula, porém, havia algo em comum a todos nós: a paixão pela arte. Sim, paixão, pois, se faltava-nos o conhecimento teórico de técnicas, linguagens e movimentos artísticos, alguma coisa nos aproximava, inquestionavelmente, do mundo das artes.
Assim, iniciamos naquele dia nossa jornada rumo a descobertas e experimentos que nos fizeram evoluir, não só como artistas, mas, principalmente, como seres humanos. A evolução artística pode ser observada, claramente, ao compararmos os primeiros esboços que fizemos nas aulas de Desenho, com a professora Rose, com as obras expostas na exposição de graduação. Evoluímos dos vasos disformes e desproporcionais ao encontro da verdadeira essência   criativa de cada um.
Nesse ponto, abro um parêntesis para pedir desculpas aos familiares e amigos que, por muitas vezes, foram apresentados aos nossos vasos disformes e, para preservar-nos de uma “decepção artística”, disseram nunca terem visto algo tão belo, chegando mesmo a dizer-nos que deveríamos emoldurá-los e pendurá-los na parede. Então, pedimos perdão solenemente pelos constrangimentos a que vos submetemos.
No entanto, com o decorrer dos semestres, a partir do momento em que passamos a conhecer e experimentar diferentes tipos de técnicas e linguagens, fomos compreendendo o verdadeiro sentido da arte e, cada um de nós, acabou por encontrar a  sua forma de expressão, autêntica e inquestionável.
Mas, foi o crescimento humano que, talvez, tenha sido nosso maior ganho, pois, uma vez que nossa sensibilidade para a arte foi aflorada, aflorou também nossa sensibilidade humana, tornando-nos pessoas capazes de melhor compreender os que estão a nossa volta, despertando em nós o desejo de, por meio de nossa arte, proporcionar um novo olhar aos que nos rodeiam. E esse novo olhar pode ser observado em nossos próprios lares, pois, aqueles que diante de uma obra contemporânea questionavam-se: mas isso é arte? Hoje não se surpreendem mais ao verem preservativos cheios de bonecos e água colorida; ao verem uma frigideira cheia de bolinhas de desodorante rollon; ao se depararem com uma caixa de madeira cheia de seringas para injeções; ao observarem um conjunto de aquários dispostos apenas com água, sem peixes; ao verem monstrinhos de pelúcia saindo de caixas de fósforos ou um crânio de gesso repleto de cabelo humano; nem mesmo uma caixa de fósforos forrada de strass ou um tronco de madeira apoiado sobre uma pedra; ou quando observam uma placa de madeira com diversos celulares defeituosos dependurados.
Assim, o aguçamento do olhar para a arte não ficou restrito a nós, estudantes, mas foi passado, às vezes até mesmo por osmose, àqueles que conosco convivem e que, por sua vez, acabam por transmitir a outros, que transmitem a outros, que transmitem a outros e outros e outros. É, nosso ganho é mesmo inquestionável e imensurável!
Outro ponto que desejo destacar é a persistência que nos levou a chegar até aqui, pois, não nos faltaram motivos para esmorecimentos. Foram ônibus lotados, congestionamentos, doenças, filho que chegou no meio da jornada e outras coisas mais, porém, resistimos, apoiados pelas famílias e pelos professores que nos compreenderam e nos ajudaram e, principalmente, pela nossa vontade de chegar ao fim dessa empreitada que se iniciou há exatos 3 anos.
Por outro lado, em uma turma que já era pequena desde o início, éramos apenas 26, e que no decorrer do curso foi perdendo alunos, agregando outros poucos e, quando da opção pela habilitação em artes plásticas, restaram apenas 9 de nós, é evidente que os laços de amizade ficassem ainda mais estreitos. Todos nós conhecemos as histórias uns dos outros. Compreendemos e apoiamos nossos anseios, nossos sonhos, nossas dores. E, por esse motivo, é óbvia a saudade que já estamos sentindo dos nossos encontros diários, a saudade dos ataques de riso em meio a uma aula de desenho quando a Prof. Rose falava: Ah! Mas que horrível (voz da Tânia). Ou, nas aulas de Aquarela, quando o Professor Valdo dizia que nossas cores estavam desmaiadas, ou mesmo, quando a Lígia e a Tânia se comunicavam de forma que uma dizia uma coisa e a outra entendia outra completamente diferente. Mas, isso era perfeitamente compreensível para nós, pois, as loiras presentes que me perdoem, mas se tratava da conversa entre duas loiras.
Além disso, apesar da separação física, não nos separamos emocionalmente dos nossos amigos da Habilitação em Artes Cênicas, uma vez que mantivemos com eles as mesmas relações de carinho e amizade. Assim, o aperto no coração se fez sentir mais latente no dia em nós assistimos à apresentação da peça teatral encenada por eles, uma vez que foi, naquele momento, que tivemos a nítida certeza de que o fim estava próximo. Um fim muitas vezes desejado, mas que, ao ser atingido, provocou-nos uma sensação de vazio e uma saudade antecipada de tudo o que vivenciamos nesses últimos 3 anos. É uma dor inenarrável sabermos que não nos veremos mais diariamente, que não nos encontraremos mais, toda semana, com os professores que nos guiaram por essa jornada que se encerra hoje, mas, de alguma forma, todos os bons momentos vividos por nossa turma ficarão gravados em nossas memórias e corações indefinidamente. E assim, como somos poucos, pretendemos não deixar que essa amizade se perca com o tempo e com as atividades de cada um. Esse é um compromisso que assumimos uns com os outros, aqui, nessa cerimônia solene.
E nesse momento queremos tecer um especial agradecimento a todos os professores que passaram por nossa turma e deixaram seus ensinamentos gravados em nós, alguns dos quais não estão mais presentes nesta instituição de ensino, mas, que nem por isso deixaram de ser importantes para nossa formação. Assim, muito obrigada aos prof. Fernando, Laerte e Jorge, às prof. Lourdinha, Rosane e Salete. Muito obrigada aos prof. Valdo e Martin, às prof. Fernanda, Fabíola, Solange e Daniele. Muito obrigada aos prof. Lino, Jacques, Marcello e Evandro, às prof. Daniela, Regina, Milca, Rose e Patrícia, às prof. Ir. Ivone, Eliana e Liliane e, em especial, muito obrigada à prof. Ir. Iracema, in memorian.
Desejamos, também, agradecer aos funcionários da Fainc, pela dedicação com a qual sempre nos atenderam, em especial a Tânia e ao Silvano.
Queremos agradecer, ainda, aos familiares e amigos que aqui estão presentes pela paciência e apoio que nos dedicaram durante todo o curso. Sintam-se todos recebendo, nesse momento, um beijo na face de todos os formandos.
E para finalizar, desejo fazer um agradecimento especial aos meus colegas de turma: sintam-se abraçados, um a um, por mim neste momento e quero que saibam que, não possuindo palavras para retribuir todo o apoio e compreensão que me dedicaram durante todo o curso, mas que foram intensificados sobremaneira nesse último semestre, pelas razões que todos vocês conhecem, tomo de empréstimo as palavras de Milton Nascimento para dizer-lhes que: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Eu amo vocês!

Muito abrigada a todos!


Um beijo repleto de saudades!!!!


6 comentários:

  1. Emoção é a palavra certa para descrever o que senti ao ler seu discurso. Principalmente por saber que agora também me encontro na reta final. Parabéns Bete, você tem o dom da palavra.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Ana, que bom te ver por aqui! Tremi demais para proferir essas palavras, você nem imagina o quanto!!! Mas, foi mesmo emocionante!!! sinto tantas saudades....

      Beijos,

      Bete

      Excluir
  2. Oi Bete adorei reler seu discurso. Lindo! É pra se guardar... E fiquei com saudades...
    Desde as suas primeiras postagens quiz me manifestar, mas não soube como fazê-lo ou melhor, não deu certo.
    Parabéns por mais este desafio enfrentado. Seu blog está muito legal!
    Bjs Patricia

    ResponderExcluir
  3. Quanta saudade... Você não imagina o tamanho dela. Fico muito feliz em te ver por aqui. É uma honra para mim. Obrigada pelo elogio e pelo incentivo e apoio de sempre. Tenho escrito um pedacinho da minha alma em cada uma das postagens, até que um dia ela esteja inteirinha transcrita aqui.

    Beijo enorme

    Bete

    P.S.: amo você!

    ResponderExcluir
  4. Bete minha querida! Suas perfeitas palavras atingiu me como raio de saudade. Passando um verdadeiro filme em minha mente. Lembro tambem de nosso primeiro dia de aula... Com muita alegria e principalmente ao saber que a reta de aulas chegaram ao fim. Porem é o inicio de uma nova joranada. Desejo sucesso a todos, bjs e mais uma vez saudade de todos. Sinvaldo Sabará da cidade de Mauá rsrs. 11 97172-6774 vivo bjs entre em contato e me add no face sinvaldo carteiro.

    ResponderExcluir
  5. Oie Sinvaldo Sabará, que mora em Mauá e compra na C & A! Que prazer te encontrar por aqui! Saiba que a saudade é recíproca!

    Um beijo grande

    ResponderExcluir