domingo, 16 de setembro de 2012

Não basta ter olhos para ver. É preciso enxergar



Bete Tezine, Negação (Autorretrato), 2012.
Nanquim  sobre fotografia, 20 x 30 cm







A alegria de ver e entender é o mais perfeito
dom da natureza.

(Albert Einstein)













A arte tem contado a história da humanidade desde a pré-história. Os homens das cavernas, ao pintarem suas mãos em negativo ou representarem cenas de caça nas paredes, nada mais fizeram do que deixar registrado para a posteridade marcas de sua passagem pela vida.
E assim tem sido desde então. A arte acompanha o progresso do homem e sempre é o retrato do tempo em que ele está vivendo. 
Os movimentos artísticos se sobrepuseram uns aos outros, porém, com algo em comum: sempre foram a materialização das inquietações humanas da época, sem exceção.
Chegamos ao pós-moderno, ou seja, a arte de nossos dias e é sobre ela que quero tecer alguns comentários.
O homem contemporâneo está cercado pelo avanço tecnológico, pela falta de tempo, pelo stress do mundo moderno, pela pressão social de realizar diversas tarefas simultaneamente, ou seja, o progresso trouxe, juntamente com ele, uma maximização das inquietações humanas, o que não poderia deixar de refletir na arte dos tempos atuais.
É sabido, deste os tempos mais remotos, que o artista sempre transferirá para suas obras as emoções que vivencia. E o artista, antes de tudo, é um ser humano. E,  como ser humano que é, também tem seus dias de alegria e de angústia. Assim, todas as atribulações do mundo moderno estão sendo materializadas nos trabalhos artísticos produzidos na contemporaneidade.
Então, a arte dos nossos dias deixa de ser aquela dos museus, as quais foram feitas para serem admiradas e contempladas, passando a ser uma arte interativa, que busca despertar emoções no observador. E ela cumpre esse papel quando provoca reação, quando faz com que o observador não fique alheio a ela, podendo identificar-se ou sentir-se inquieto diante dela, nunca indiferente. Ela precisa incomodar.
Quanto a mim, como ser humano e como artista, não poderia deixar de representar na minha arte meu atual momento de vida. Tenho vivido momentos difíceis, nos quais a angústia se manifesta contundentemente e, nesses dias, deixo que minha obra fale por mim. Porém, tenho dias alegres, dias iluminados e, nesses dias, também, deixo que as cores invadam meu trabalho artístico. Quando choro, minha obra chora, quando canto, minha obra canta...
Bem sei que minha dor pode doer nos outros, também, assim como minha alegria, pode fazer sorrir os outros, também. Mas, quando isso acontece, sinto que minha obra atingiu o seu objetivo, ela incomodou, ela tirou o observador da sua zona de conforto, fez com que ele não ficasse indiferente a ela e isso é a finalidade de toda obra de arte pós-moderna.
Todavia, do observador também é cobrada a capacidade de enxergar nas entrelinhas do trabalho artístico toda a gama de emoções contidas nele e, isso, infelizmente, nem todos estão aptos a fazer. 
Não basta ver, é preciso ter olhos para enxergar. É preciso ter sensibilidade e olhar além do que a obra mostra para enxergar o que faz com que ela nos provoque repulsa ou simpatia, uma vez que somos atraídos por sentimentos que compartilhamos.
Então, se com a minha obra eu conseguir provocar os sentidos de um único observador que seja, terei atingido meu objetivo final: fazer com que ele não tenha apenas olhos para ver, mas, também, olhos para enxergar.


Um beijo repleto de emoções!


Nenhum comentário:

Postar um comentário