segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Balanço de ano velho




Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos.

(Luís de Camões)





Enfim, o ano de 2012 chega ao fim. Digo enfim porque, apesar de parecer ter sido ontem o final de 2011, esse ano foi extremamente longo, para mim, em termos de vivências, descobertas e redescobertas.
Comecei o ano realizando a bateria de exames para o diagnóstico da Esclerose Múltipla, foram 3 ressonâncias magnéticas, 1 exame de líquor, 32 tipos tipos de exames de sangue e 1 potencial evocado visual que culminaram na confirmação da minha condição de portadora da enfermidade autoimune, degenerativa e sem cura até os dias atuais.
Depois disso, iniciei o uso das injeções de Rebif e, passei a conviver com a difícil adaptação aos efeitos colaterais do medicamento, juntamente com a minha nova condição de vida.
Por conta da perda de força e das constantes vertigens que, ficaram como sequelas do surto que desencadeou na investigação e consequente descoberta da doença, eu precisei abrir mão de diversas atividades, dentre elas e, talvez a mais significativa, o meu trabalho.
A primavera me encontrou vivendo um novo surto da Escleroso Múltipla. Surto este que me tirou o chão, literalmente, me causando tantas vertigens que pensei que o mundo nunca mais fosse parar de rodar em volta de mim. Mas, felizmente, ele se aquietou e deixou minha cabeça no lugar onde precisa estar.
Tive perdas, tive medos e receios, tive dificuldades imensuráveis, tive de me reestruturar, me reinventar, me redescobrir. No entanto, fazendo um balanço desprovido de autopiedade eu posso dizer que o ano que termina foi o mais construtivo de toda minha vida. Tive algumas perdas, sim, mas, tive ganhos incalculáveis. Ganhos esses que, fazem com que todas as angústias que vivi, se tornem ínfimas diante das conquistas que se acumularam no meu interior.
Incontestavelmente, 2012, foi o ano da minha superação, uma vez que abandonei várias deficiências, ultrapassei meus próprios limites, me desvinculei de temores antigos, assumi minha individualidade, me reconciliei com o espelho, fiz as pazes com minha própria vida e reaprendi a sonhar e a crer na possibilidade de viver cada um dos meus sonhos, tantos os que eu havia arquivado, quanto os que comecei a sonhar a partir da redescoberta de mim mesma.
Foi, durante o ano que está se despedindo, que identifiquei várias das minhas deficiências e as tenho superado, uma a uma, dia após dia. Não posso afirmar que estão todas devidamente resolvidas dentro da minha cabeça, no entanto, as que ainda não foram sanadas, estão bem próximas de ser, uma vez que, acredito mesmo, que o mais difícil em todo esse processo, é assumir nossas próprias dificuldades.
Assim, 2012, vai levar com ele, muitas das minhas neuroses, medos, inseguranças, baixa autoestima, impaciência, desencantos, ansiedades desmedidas e descabidas, falta de fé... São mesmo muitas as coisas que vão na bagagem desse ano que termina. Quero, de verdade, me despedir de tudo o que não me construiu, que me estancou por tempo demais, para dar lugar apenas ao que me faz crescer, evoluir e ser feliz.
Então, me despeço, agora, de tudo o que não me serve mais e saúdo a chegada de 2013 como uma nova mulher, mais leve, mais segura e com muito mais espaço na vida para as coisas que realmente valham a pena serem mantidas dentro de mim. 
Adeus, 2012! 

Beijos renovados!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Deixe as janelas e portas abertas...


Sei que todos, algum dia, acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada:vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso.

(Lya Luft)



Muitas vezes, somos tão machucados pela vida, que nos fechamos dentro de nós mesmos e não nos permitimos um recomeço. Nos retraímos, nos encolhemos, perdemos a autoestima e passamos a acreditar que não merecemos viver nossos sonhos, nem mesmo, o mais ínfimo deles. É, nesse hora, que a dor machuca mais e nos faz refém da sua amargura, envolvendo-nos em uma tristeza infinita e em uma profunda carência de afeto.
A ingratidão fere a alma, fazendo sangrar a ferida aberta até que nossas forças tenham sido sugadas e, passemos a acreditar, que nada e nem ninguém vale mais a pena. 
O desamor provoca uma dor lancinante que exaure nosso coração, fazendo dele uma concha  inacessível a todos que nele tentam adentrar.
A ingratidão caleja nossa capacidade de benevolência e nos atira no calabouço da falta de fé na bondade alheia.
A incompreensão nos causa um mal incalculável, uma mágoa dolorida que, tira de nós, toda a vontade de compartilhar nossas inquietações e emoções conflitantes.
São tantas as dores do mundo que se apossam de nós, que quando nos damos conta, já nos tornamos seres profundamente melancólicos e divorciados da alegria de viver.
Isso, sem a menor sombra de dúvida, é o pior que pode nos acontecer, pois, quando o desencanto com a vida se torna nossa companhia constante, deixamos de enxergar todas as possibilidades de mudanças que se descortinam, diariamente, diante dos nossos olhos, pois,  a escuridão da alma, tira-nos a capacidade de vislumbrar e identificar mudanças capazes de nos reconciliar com o mundo e, acima de tudo, com o nosso próprio eu.
A felicidade, como um estado de espírito imutável e permanente, não passa de utopia, uma vez que, não há ninguém nesse mundo que não tenha vivido, ou, que ainda não vá viver, momentos de infelicidade. Somos seres imperfeitos e, como tal, não alcançamos, ainda, o grau de evolução necessário ao desprendimento que nos leva ao total contentamento com a vida. 
Sendo assim, precisamos ter consciência de que dores, angústias, ingratidões, incompreensões, amores não correspondidos, sempre existirão, porém, isso não significa que estejamos fadados à infelicidade eterna. Não, não é isso que estou afirmando, de forma alguma, pois, o que quero dizer é que, mesmo sabendo que momentos difíceis poderão fazer parte da nossa vida, não devemos fechar as portas do nosso coração e, muito menos, as janelas da nossa alma porque os momentos felizes não batem na porta nem, muito menos, giram a maçaneta a fim de adentrarem em nossa vida, não mesmo. 
Eu sei que esse post está ganhando ares de mensagem de autoajuda, porém, não é bem isso que estou querendo demonstrar com minhas frágeis palavras. O que quero, na verdade, é dizer que, por mais que a amargura se faça nossa companheira, precisamos respirar fundo e não permitir nos tornar reféns da autocomiseração, do desencanto e da falta de perspectiva. Necessário se faz que, escancaremos as portas do nosso eu, para que a felicidade (não aquele utópica, mas , a felicidade real e perfeitamente possível), possa invadir o nosso interior e trazer de volta todas as cores do mundo e a alegria de viver, reacendendo as luzes que clareiam e iluminam nossa busca pelo melhor de nós.
É preciso reconciliarmo-nos com a vida, vida plena, vida repleta de amor...

Um beijo carinhoso...


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Então, é natal, outra vez...






Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez
Então é Natal, a festa Cristã
Do velho e do novo, do amor como um todo
Então bom Natal, e um ano novo também
Que seja feliz quem, souber o que é o bem

(Claudio Rabello)





Quero iniciar essa postagem com o vídeo de uma música que sempre me emociona:



Desde criança, o natal sempre exerceu um fascínio irresistível sobre mim. É uma data que me provoca um sentimento nostálgico, uma melancolia boa, uma introspecção, uma certa magia... É isso, eu sempre achei o natal uma data mágica que, na minha visão infantil, demorava uma década para chegar. Entre um natal e outro, eu sonhava com as luzes, a árvore enfeitada, os presentes do papai noel, a ceia natalina... entretanto, isso sempre ficou apenas nos meus sonhos de criança, uma que vez minha família nunca teve por hábito comemorar o natal. Na casa da minha mãe, essa era uma data como qualquer outra. 
Eu cresci, formei minha própria família e passei a montar a árvore de natal, a fazer a ceia, a colocar os presentes "trazidos pelo papai noel" embaixo da árvore na noite do dia 24. Enfim, comecei a comemorar o natal em minha casa como imaginava nos meus sonhos de criança.
Todavia, essa é apenas uma parte da magia que o natal provoca em mim, aliás, a menor delas, pois, existe algo nessa data que realmente mexe com minhas emoções, é o momento em que me autoavalio como pessoa, em que busco analisar tudo o que vivi no último ano e fazer um balanço entre minhas conquistas e minhas derrotas.
Hoje, não foi diferente. Eu me voltei para uma análise imparcial de todos os acontecimentos que se sobrepuseram em minha vida desde o último natal e, constatei, que meus ganhos foram muito maiores que minhas perdas. É certo que tive alguns momentos difíceis por demais, como a descoberta da Esclerose Múltipla, os dois surtos, a complicada adaptação às injeções de Rebif. Essas, foram coisas que realmente me fizeram viver momentos de muito sofrimento e apreensão.
No entanto, posso dizer com a mais plena convicção, que minhas vitórias foram muito mais significativas e me possibilitaram um novo olhar acerca da minha própria vida. Eu cresci, amadureci, me reencontrei comigo mesma, me redescobri. 
Assim, o natal de 2012, me encontrou renovada, pois, apesar de ter me descoberto portadora de uma doença degenerativa incurável, eu ganhei de presente da vida uma grande amiga e um amor verdadeiro, um amor que nunca imaginei que pudesse um dia viver. Essas, sem dúvida, foram minhas maiores conquistas. 
Minha linda amiga, você sabe que é de você que estou falando. Eu amo você!
Amor da minha vida, você sabe que mudou minha história, me fez renascer e esquecer as dores do mundo. Eu amo você!
Por fim, desejo a todos que as luzes do natal (as mesmas luzes que me fascinam desde menina) possam pontilhar de amor, paz, saúde e felicidade, todos os dias das nossas vidas.

Feliz Natal para todos nós!

Beijos no coração de todos!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Cicatrizando...




É momento de cicatrização...
A reconciliação daquilo que você quer,
com aquilo que você não pode.
Cicatrizar-se é a necessidade de toda hora...

(Padre Fábio de Mello)





Hoje, mais uma vez, minha alma amanheceu escura... a luz não entrou novamente pelas frestas da janela do meu eu... O choro rolou solto sem que eu conseguisse contê-lo... fiquei triste e esta tristeza quis me fazer refém da sua presença sombria e obscura.
O motivo dessa minha tristeza? 
Não há uma razão apenas para que minha alma estivesse banhada em dor, foi uma soma de circunstâncias que foram se acumulando durante anos e que eu, talvez por excesso de otimismo, achasse que havia superado, mas que em momentos como o que vivi hoje, regressam com toda nitidez para dentro da minha memória.
Eu vivi situações, durante toda minha vida, que me fragilizaram e me provocaram danos que hoje senti como se fossem irreversíveis. Foram tantos sinais de desamor, ou melhor, de amor exigente, mas que nunca me deu nada em troca. Foram tantas provas de solidão a dois, que é o pior tipo de solidão que alguém pode sentir, que eu me retrai, me fechei em uma concha e me recusei, terminantemente, a sair de dentro dela.
Deixei a vida passar diante dos meus olhos sem tentar participar dela. Me doei tão completamente às minhas próprias desilusões que deixei de enxergar oportunidades de reverter esse quadro de tão enuviados que meus olhos estavam pelas lágrimas do desafeto.
Me perdi em divagações acerca de mim mesma, por tanto tempo, que deixei escapar a oportunidade de reencontrar minha própria essência, deixei que ela escapasse de mim, sem fazer nada para voltar a ser eu mesma.
Perdi oportunidades. Deixei de falar o que eu sentia. Não ouvi minha própria voz. Não emergi da minha própria dor. Não vivi. Não sonhei. Não reagi.
Assim, a dor que se apossou de mim hoje, foi uma sobreposição de dores antigas que por não terem sido devidamente cicatrizadas, formaram uma nova ferida que sangrou em forma de lágrimas que escorreram dos meus olhos durante horas seguidas.
Todavia, dia após dia, tenho tentando um reencontro com quem eu fui em um passado longínquo. Tenho, mesmo, buscado a mulher que fui e da qual eu me perdi em uma página qualquer da minha história. Desse modo, não me permito mais chorar por mais de um dia as minhas mágoas passadas, tenho, realmente, buscado a cicatrização completa das feridas da minha alma cada vez que eu identifico o lugar exato em que elas doem dentro de mim. 
Então, eu me levanto, limpo o sangue das feridas, faço um curativo e recomeço a viver, pois eu redescobri a minha essência, eu reencontrei a mim mesma e estou disposta a banir da minha vida tudo o que não me faz bem e manter, somente, aquilo que me constrói, me fortalece e me faz sentir vida, vida pulsante, vida plena, vida viva. 

Agora, posso dizer, que estou pronta para ser feliz.

Um beijo em processo de cicatrização definitiva...


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Tudo tem um lado bom. Acredite!




Hoje eu vejo o lado bom das coisas, se me dizem que por esses caminhos existem espinhos, eu digo: por ele que eu vou seguir, pois quero encontrar as rosas.

(Amanda Rodrigues)




Cada vez mais, tenho tido mostras de que tudo o que acontece nas nossas vidas, por pior que possa parecer em uma primeira análise, tem sempre um lado positivo, se olharmos para os fatos com olhos despidos de autopiedade e revolta.
Nada é tão ruim quanto parece ser, esta pode até ser uma frase clichê, mas, aprendi, depois que resolvi mudar o meu olhar sobre os fatos ocorridos em minha vida, que isso é a mais pura verdade. Tudo, mas tudo mesmo, tem sempre um lado que constrói, que nos faz evoluir e crescer.
Foi, assim, que olhei para a minha companheira de vida, a Esclerose Múltipla,  com um olhar menos autocomiserativo e enxerguei nela um instrumento para mudanças em minha vida nos mais variados segmentos. Posso afirmar, sem reservas e despida de qualquer demagogia, que, hoje sou uma pessoa melhor da que fui até antes do diagnóstico. Tenho evoluído, dia-a-dia, tenho crescido como pessoa e alcançado parâmetros nunca antes imaginados.
É evidente que minha vida ao lado da Esclerose Múltipla não é fácil, longe disso, pois, se assim eu afirmasse, estaria sendo realmente demagoga. Mas, de verdade, ela me fez voltar os olhos para dentro de mim e perceber o quanto vivi ludibriando minha própria percepção de quem eu era e de quem eu gostaria de ser. Eu, sinceramente, me assumi, me assumi como a mulher que sou e dei um basta a tudo o que não queria mais para minha própria vida. 
Esse, posso dizer, é um dos lados positivos da doença que, juntamente com as suas mazelas, trouxe para mim, também, uma nova visão de mundo e uma nova visão de mim. 
Além disso, a descoberta da enfermidade, além de proporcionar o reencontro comigo mesma, trouxe para minha vida pessoas que, não fosse minha nova condição de vida, eu jamais teria tido a oportunidade de conhecer, pois, foi quando me assumi como portadora de Esclerose Múltipla e comecei a escrever sobre as minhas deficiências e conflitos emocionais, que as pessoas que hoje representam muito mais do que meros amigos virtuais, cruzaram meu caminho e nele permanecem como parte da minha vida.
Foi, assim, que ganhei uma amiga que tem estado comigo nos meus melhores e piores momentos. Uma amiga verdadeira que, me empresta seu ombro, toda vez que as lágrimas teimam em me visitar e, a quem cedo minha compreensão, quando é a ela que a dor tenta arrebatar. Foi, do lado positivo de ser "esclerosada", que ganhei de presente uma melhor amiga que sabe, exatamente, a importância que tem na minha vida.
Por conta da Esclerose Múltipla, eu descobri, também, o que é ter na vida um amor verdadeiro, um amor incondicional, um amor tão grande que não cabe mais no peito, um amor que me fez voltar a sonhar e, melhor ainda, me fez acreditar que posso viver todos os sonhos que um dia eu sonhei para mim. Hoje, posso dizer, que renasci, renasci para uma nova vida e sou feliz, feliz como jamais fui.
Por tudo isso, é que acredito que não existe acaso quando se trata de escrever as páginas da nossa história, tudo se completa, tudo se entrelaça a fim de fazer de nós pessoas melhores, mesmo que as circunstâncias tentem mostrar o contrário, pois, basta que olhemos com olhos de quem sabe ver, para que vislumbremos um mundo de mudanças possíveis que farão de nós novos seres humanos.

Um beijo do meu lado mais positivo!


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Relembrando minha primeira consulta neurológica





O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente.

(Mario Quintana)




No último dia 8, completou 1 ano da primeira consulta que tive com minha neurologista, a Dra. Maria Cristina Brandão de Giácomo. Me lembro de todos os pormenores daquela consulta como se ela tivesse ocorrido no dia de ontem.
Já havia 2 meses que eu tinha perdido toda a sensibilidade e força do lado esquerdo do meu corpo, sentia dores insuportáveis, juntamente com choques que começavam na minha coluna vertebral e irradiavam até a sola dos meus pés, além de desequilíbrios e perda de coordenação motora da mão direita. Desde o início desses sintomas, como, por coincidência, eu possuo 10 pinos e uma placa de metal dentro do tornozelo esquerdo, por conta de uma fratura sofrida há alguns anos atrás, eu acabei indo procurar médicos ortopedistas que, me deram o diagnóstico, de uma inflamação na região em que se encontram os pinos e me medicaram com anti-inflamatórios que nada resolveram, muito pelo contrário, eu piorava a cada dia.
Foi, assim, que cheguei ao cirurgião que operou o meu tornozelo e que afastou qualquer possibilidade de ser um dano ortopédico, me encaminhando, então, para um neurologista. 
Então, voltando à primeira consulta com a Dra. Maria Cristina, sentada, diante dela, sozinha, expliquei a ela tudo o que estava sentindo e respondi todas as perguntas que me foram feitas por ela. Devo confessar que estranhei demais alguns questionamentos, pois, eu pensava comigo mesma, como que problema ocular que eu pudesse ter tido no passado ou o fato de urinar ou não normalmente, poderiam ter alguma ligação com o que eu estava sentindo na época. Porém, mal sabia eu, que naquela primeira consulta, ela já havia diagnosticado o mal que me acometia. No entanto, ela me disse, apenas, que iria vasculhar meu cérebro e minha coluna vertebral em busca da causa das alterações neurológicas pelas quais eu estava passando.
Então, ao término da consulta, saí do consultório com vários pedidos de exames, dentre eles três ressonâncias magnéticas e, naquele momento, eu não tive curiosidade de ler o que estava escrito nas guias, porém , quando recebi as autorizações para os procedimentos do meu plano de saúde, vi que a suspeita da neurologista era o CID G35 - Esclerose Múltipla. Naquela noite, não dormi... passei a noite inteira em frente ao computador pesquisando sobre a doença. Foi, naquele momento, que eu tive a certeza de que era portadora de Esclerose Múltipla. Naquele momento, eu identifiquei diversos sintomas que eu sentia há anos e que sempre foram tratados isoladamente, nunca foram ligados um ao outro. Naquele momento, fazendo uma retrospectiva da minha vida, me lembrei de coisas que havia sentido e que não mencionei na consulta por não mais me lembrar deles, até então. Naquele momento, eu descobri que tive a doença neurológica ao meu lado por mais de 15 anos sem saber o seu nome, sem saber exatamente o que ela esperava de mim, o que me causou diversos sofrimentos, uma vez que ela se sentiu negligenciada. 
Depois disso, me submeti à maratona de exames que só confirmaram as suspeitas da minha neuro e as minhas próprias. Foi assim que, no dia 2 de fevereiro de 2012, às 16h40min, de uma quinta-feira ensolarada, sozinha, eu recebi a confirmação de que era portadora de Esclerose Múltipla. Ouvi todas as explicações, recebi todas as recomendações e, sozinha, sai do consultório e, sozinha, dirigi até em casa.
Hoje, me lembrei demais desse período da minha vida, talvez por que a minha companheira esteja muito mais exigente nesses dias quentes de final de primavera, do que jamais esteve durante o tempo em que convive comigo. Ela, simplesmente, resolveu me lembrar da sua presença a cada segundo do meu dia. Como é geniosa essa minha companheira, caprichosa mesmo! Mas, eu não permito que ela dite sempre as regras, não mesmo, pois, apesar de sentir no meu próprio corpo os desmandos dessa companhia indigesta, eu não dou a ela a oportunidade de ditar as regras para a minha vida, pois, diariamente, eu supero as dificuldades de tê-la pendurada em mim e, assim, vou vivendo um dia de cada vez.

Um beijo carinhoso!


domingo, 16 de dezembro de 2012

Feliz aniversário, minha linda Carol!

Carol, 2012






Declare a seus filhos que eles não
estão no rodapé de sua vida, 
mas nas páginas centrais da sua história.

(Augusto Cury)







Há 13 anos, no dia 16 de dezembro de 1999, às 18h50min de uma quinta-feira ensolarada, dei à luz a minha filha Ana Carolina Tezine, a minha Carol e, é com ela que hoje eu vou falar:

Minha querida e linda menina, parece que foi ontem o dia em que você chegou ao mundo, após me pregar um susto daqueles. Você não lembra, mas, resolveu antecipar o próprio nascimento, pois, conforme você mesma diz, brincando, queria assistir à queima de fogos que brindou a chegada do ano 2000. Foi, assim, que, no 7º mês de gestação, logo após um exame de ultrassonagrafia, pelo qual eu fiquei sabendo que você era uma menina, mas que, soube, também, apreensivamente, que você nasceria dali a algumas horas, você chegou ao mundo com seus cabelos negros e olhos de jabuticaba. 
Porém, minha filha querida, você já mostrou a sua determinação naquele mesmo dia, uma vez que, apesar de prematura, não necessitou de incubadora e saiu do hospital junto comigo. Foi um momento de rara felicidade quando, com você nos meus braços, fomos embora para casa.
Quanta coisa vivemos daquele dia até hoje? Muitas se perderam nas suas lembranças, mas, na minha, continuam perfeitamente vivas, bem nítidas, algumas delas sei que serão eternas. 
São tantas lembranças, como suas primeiras palavras, seus primeiros passos... você demorou muito para tomar coragem para sair andando sozinha, minha filha linda, mas, em contrapartida, nunca vi um bebê que engatinhasse tão rápido, você corria, literalmente.
Outro fato que jamais esquecerei foi quando foi para a escola, tinha apenas 4 anos, era a menorzinha da turma, embora fosse a mais velha; usava o cabelo cortado no estilo chanel, os olhos muito negros , linda, linda, linda, parecia uma boneca. Por tudo isso, as demais crianças da sala, te tratavam feito um bebê e, nas palavras da sua professora Magali, se não me falha a memória esse era o nome dela, suas amiguinhas disputavam para ver quem daria comida em sua boca na hora do lanche.
Você sempre soube exatamente o que quer para você, minha menina linda, pois, me lembro perfeitamente do dia em que te comprei uma roupa que achei maravilhosa (você ainda tinha 4 anos), mas, quando te mostrei, achando que você amaria a roupa tanto quanto eu, você, simplesmente, me disse que não a usaria porque não havia gostado. Te confesso, minha filha, que não lhe dei atenção e, diferentemente do que deveria ter feito, não troquei a roupa por outra que te agradasse, pois, na minha visão equivocada, você acabaria esquecendo da sua impressão inicial e passaria a usar a roupa normalmente. Como eu estava enganada, minha princesa! Você, jamais, ao menos experimentou a roupa que acabou ficando pequena para você sem ao menos ter tido a etiqueta removida.
Outro momento em que sua determinação ficou mais do que evidente, foi quando resolveu que era chegada a hora de aprender a andar de bicicleta sem as rodinhas de apoio. Você tinha 7 anos, se não me falha a memória, quando, em um dia de domingo, pediu para seu pai lhe ajudar na empreitada de aprender a se equilibrar sobre duas rodas. Levou uma tarde inteira, mas, você voltou pedalando para casa, sem as duas rodas de apoio. Foi um momento emocionante. Foi lindo ver seus olhos brilhando e o sorriso que trouxe estampado no rosto. Outra lembrança que me será eterna, sei disso.
O tempo foi passando, você crescendo a cada dia, ficando mais e mais linda... não é apenas o olhar de uma mãe profundamente coruja que diz isso, não, pois, você é verdadeiramente linda, minha filha amada, linda de verdade, linda de viver!
Durante seus 13 anos vividos, você tem demonstrado talentos natos, como por exemplo, sua vocação para cuidar dos cabelos, tanto os seus, quanto os demais. Por esse motivo, sei que se resolver seguir a carreira de cabeleireira, como sempre me diz, será a melhor de todas, pois, você nasceu para brilhar e não vai aceitar menos do que isso, eu sei e você sabe também.
Por tudo isso, minha linda menina, eu tenho absoluta certeza de que realizará todos os seus sonhos, todos mesmo! Alguns deles eu já conheço, como a viagem à Inglaterra, por exemplo, outros, ainda são só seus e, outros, ainda nem foram sonhados. Mas, você pode tudo o que quiser.
Por fim, minha princesa, quero te dizer que te amo incondicionalmente e que tudo o que faço e, tudo o que ainda irei fazer, sempre tenho você em meu pensamento, é uma das minhas prioridades de vida, quero que nunca se esqueça disso. Torço por você. Vibro com e por você. Aplaudo de pé todas as suas conquistas e assimilo todas as suas vitórias, pois, todas elas, são minhas também.
Feliz aniversário! Que a sua vida seja pontilhada de sucesso e que todos os seus sonhos senha vividos, um a um, intensamente!

Beijos da mãe mais coruja do mundo!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sede de viver...




Eu tenho sede de viver
Quero voltar a crescer
Como se fosse um recomeço
Meu coração sem um pecar
Não iria mais julgar
Quem ainda eu não conheço

(André Lima)



Tenho sede de viver. Descobri isso recentemente. 
Sobrevivi por tanto tempo que, tinha me esquecido, como é se sentir viva e, não apenas, uma sobrevivente. 
Tenho sede de sentir a vida pulsante que existe do outro lado da janela em que eu, por tanto tempo me debrucei, vislumbrei o outro lado, mas nunca tive coragem de pular o parapeito e explorar as possibilidades que saltavam diante dos meus olhos. Me faltou coragem, me faltou ousadia, me faltou atitude.
Tenho sede de me apaixonar de novo, de sentir o coração bater descompassado, de sentir a boca secar, as pernas tremerem ou, como diz minha amiga Damiana, sentir borboletas na barriga batendo suas asas freneticamente. Eu resisti, confesso que resisti, mas, não consegui mais deixar essa sensação de fora da minha vida...
Tenho sede de conhecer lugares, de viajar pelo mundo, de compartilhar culturas, de respirar novos ares, de falar outras línguas, de olhar além dos muros da minha própria existência...
Tenho sede de sentir abraços, não um abraço qualquer, mas abraços demorados, abraços aconchegantes e quentes, abraços sem motivos, abraços a qualquer hora e lugar, abraços, simples abraços.
Tenho sede de assumir que não sou mais a mesma mulher que fui até bem pouco tempo. Agora, quero me mostrar como sou, sem máscaras, sem disfarces, sem medo do que possam pensar ou dizer a meu respeito.
Tenho sede de falar das coisas que se passam dentro de mim, de contar sobre minhas alegrias, mas, sobre minhas dores, também, sem receio de críticas, pois, sei que não há como ser aprovada unanimemente, não tem como.
Tenho sede de viver os meus sonhos, não apenas os que tenho sonhado depois que resolvi dar mais atenção a mim mesma, mas, todos os outros que sonhei e, por falta de perspectiva de vivenciá-los, acabei por colocá-los no arquivo morto da minha própria história.
Tenho sede de andar com minhas próprias pernas, de trilhar meus próprios caminhos, de ser dona das minhas próprias vontades e assumir os meus próprios atos...
Tenho sede de ser feliz. Ser feliz por inteiro. Não 100% do tempo, pois isso é uma utopia, mas ser intensamente feliz quando  me deparar com os momentos que trazem até mim uma felicidade sem fim...
E você, tem sede de quê?

Um beijo sedento de vida!


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Descobertas...






Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida.

(Platão)








Ao me diagnosticar como portadora de Esclerose Múltipla, uma das principais recomendações da minha neurologista, foi a psicoterapia.  Ao me fazer a indicação, ela me falou sobre a necessidade de cuidar muito bem do meu corpo e da imprescindibilidade de cuidar da cabeça, também, pois, impossível manter o corpo o mais saudável possível se a mente estiver adoecida.
Então, seguindo as recomendações médicas, passei a fazer acompanhamento psicológico logo após a descoberta da doença autoimune. Porém, devo dizer que, muito antes disso, eu já sentia a necessidade de recorrer à psicoterapia, mas, confesso, que nunca levei essa minha necessidade muito a sério, deixando o tempo passar, até que, me vi "obrigada", a buscar ajuda profissional para cuidar das minhas emoções conflitantes.
Hoje, após alguns meses de terapia, posso dizer que a Esclerose Múltipla é o assunto menos abordado nas minhas consultas semanais. Tenho descoberto, dia após dia, facetas da minha própria personalidade até então desconhecidas para mim. Desconhecidas ou ignoradas propositadamente, não sei bem precisar. O que sei é que me conheci mais, nesses últimos 9 meses, do que durante o restante do tempo em que já vivi.
Muitas das mudanças que tenho vivenciando interiormente, eu credito, sem nenhuma reserva, às conversas que tenho com a minha psicóloga, pois, ela consegue me fazer ver coisas que, sozinha, nunca consegui ou, não quis, visualizar. A cada semana, eu me percebo mais e me permito sentir emoções recalcadas, há tanto tempo, que nem me lembrava mais de que um dia, todas elas, fizeram parte de mim.
É, assim, que tenho tomado coragem, paulatinamente, para reassumir o comando da minha própria vida. Tenho me permitido deixar fluir, para fora de mim, sentimentos que me oprimiam, mas que, por medo de críticas, eu sempre deixei que ficassem guardados lá dentro do meu eu, querendo sair, é verdade, mas, sempre sufocados a tempo, antes que explodissem em um turbilhão de emoções. É certo que, ao fazer isso, eu acabei por cultivar feridas na alma, feridas que sangraram por tanto tempo que foi quase impossível a cicatrização, deixando marcas profundas que, aos poucos, tenho conseguido amenizar, a fim de que parem de doer tanto e me deixem voltar a acreditar que tenho direito a expressar minhas emoções, independentemente de quais sejam elas, pois são minhas e, aos demais, só cabem respeitar, mesmo que não concordem com o que deixo transparecer por meio da minha arte ou escrita.
Foi desse modo, também, que descobri que é impossível impedir sofrimentos alheios, pois, na ânsia de nunca decepcionar quem quer que fosse, foram tantas as vezes que decepcionei a mim mesma, que fica impossível mensurar o tamanho do estrago que isso provocou dentro de mim. Entendi, a custa de muitos diálogos que, se não podemos retirar com nossas próprias mãos o sofrimento de um filho, quem dirá de outra pessoa qualquer. Posso ser solidária, posso estender minha mão, posso dar meu ombro, porém, não posso impedir e nem me sentir responsável pelo que, cada um, decide fazer com a própria vida, pois, isso, só posso fazer comigo mesma. 
Descobri, também, que ninguém muda ninguém. Não há possibilidade de moldar as pessoas à nossa imagem e semelhança. Cada ser é único e, como tal, é único em sua personalidade e escolhas. Então, compreendi que, quando não me sinto satisfeita com o que alguém tem a me oferecer, não adianta tentar fazer que ele me ofereça o que espero receber, devo me contentar com o que me é oferecido, sem culpas ou ressentimentos ou, então, buscar, eu mesma, o que almejo para minha própria vida.
Ainda, compreendi que, apesar de estar quase sempre rodeada por pessoas, na verdade, tenho estado sozinha há tempo suficiente para deixar que a solidão me tornasse uma mulher sem amor próprio e com a autoestima bem próxima do chão. Desse modo, ao perceber esse meu estado crônico de solidão, resolvi dar um basta no que me faz infeliz e, dar espaço, para que a companhia que tanto necessito se achegue junto de mim e nunca mais de deixe só. 
Hoje, posso dizer, que fiz as pazes com minha própria vida e reassumi o comando da minha própria história.

Um beijo de alguém que se redescobriu!


domingo, 9 de dezembro de 2012

Qual é o seu medo?



Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

(Platão)




Certa vez, li um livro de autoajuda cujo título e autoria não me lembro de forma alguma, mas que, de tudo o que li, me ficou apenas uma pergunta feita pelo autor à qual ele mesmo deu a resposta. A pergunta era a seguinte: Sabe qual a diferença entre você e o Abílio Diniz? Respondendo à própria pergunta, ele escreveu: o Abílio Diniz não teve medo.
Essa fala fica, volta e meia, ecoando em minha mente, toda vez que me deparo com situações que, de uma forma ou de outra, me provocam medo. 
Todavia, hoje, diante de uma pergunta que me foi feita e que, com medo de magoar quem a fez, acabei por me esquivar da resposta, eu questionei a mim mesma se é possível nunca se ter medo. Eu, sinceramente, não acredito que alguém, em algum momento da vida, não tenha sentido medo. O medo faz parte da natureza humana e é ele que nos preserva, nos faz viver mais, uma vez que nos leva a cuidar melhor de nós e nos afastar de situações prejudiciais às nossas integridades física e emocional.
Desde crianças, sentimos medo, medos naturais e medos incutidos  pelos adultos que, na ânsia de obterem a obediência infantil, assombram-lhes com fantasmas, bichos-papões e outras coisas mais que acabam por povoarem seus imaginários. Lembro bem que meu filho, quando ainda criança, não conseguia dormir a noite, chorava, resmungava, não me deixava descansar. Quando cheguei ao meu limite, o levei ao médico para ver se havia algo a ser feito que pudesse amenizar a situação. Assim, no consultório médico, a pediatra lhe perguntou o que acontecia para que ele não conseguisse dormir, em resposta, ele lhe disse que não dormia porque tinha medo dos barulhos da noite. O que eram esses tais barulhos da noite ele não conseguiu explicar, mas, ainda, se passou bastante tempo até que ele superasse esse medo e começasse a dormir novamente.
Crescemos, abandonamos alguns medos, alguns outros nos acompanham e adquirimos outros no decorrer da nossa existência. Existem pessoas que têm medo de altura, outras de lugares fechados, outras de falar em público, outras do escuro, outras de situações novas, algumas têm medo de adoecerem, quase todas de morrerem, existem aquelas que têm medo de aranha, barata e outros insetos mais. 
Na verdade, é quase impossível não se ter alguma fobia. Eu mesma, posso fazer uma extensa lista de todos os medos que me acompanham, alguns deles são leves, outros, são verdadeiras fobias. A título de exemplo, posso citar os meus medos de lagartixa, de tempestade com raios e trovões, de ventania, de água (esse é uma fobia real)... na verdade, tenho mesmo muitos medos, apesar de ter superado, ultimamente, uma série de outros que me assustavam verdadeiramente e, como portadora de Esclerose Múltipla, de todos os medos que carrego, sem sombra de dúvida nenhuma, o que mais me aterroriza é o medo da dependência física. Esse, realmente, é o maior de todos os medos que habitam em mim.
Por outro lado, existem alguns medos que são comuns a toda a humanidade, como o medo do desemprego, de guerras, da violência exacerbada, de calamidades públicas, de perder alguém que se ama...quem, de verdade, não tem medo de coisas assim?
E você, qual é o seu medo?

Um beijo encorajador!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Estou derretendo, literalmente...





Gosto do outono porque ele é frio suficiente para refrescar o calor...
E é quente o suficiente para aquecer o frio!

(Lidiane Araújo Mejozebato)




Nunca compreendi muito bem porque eu sempre me senti muito mal nos dias quentes. Como o calor me faz mal! Mal de verdade. Eu me sinto como uma gelatina exposta ao sol, derretendo, literalmente. 
O verão, sempre me trouxe com ele aquela sensação de desfalecimento, como se eu perdesse o controle do meu corpo. Minhas pernas ficam bambas, meus braços não me obedecem e sinto meu peso triplicar. Até meu raciocínio fica mais lento, mais precário, mesmo. Eu me sinto em câmara lenta, como se alguém tivesse apertado a tecla "slow" do meu controle remoto.
Viajar para lugares quentes, então? Nossa, quanto sofrimento! Além do suor escorrendo em bicas pelo meu corpo, principalmente pelo meu rosto, acho que o mais difícil disso tudo sempre é ter de ouvir os comentários, das demais pessoas, acerca do fato de ninguém sentir tanto calor como eu sinto. Isso sempre me deixava muito mal, pois eu acabava me obrigando a frequentar lugares insuportavelmente quentes apenas para satisfazer as demais pessoas, o que sempre resultava em um mal estar terrível, naquela insuportável sensação de derretimento, de perda de controle dos próprios movimentos.
No entanto, junto com o diagnóstico de Esclerose Múltipla, veio a explicação para minha intolerância ao calor, o que, diga-se de passagem, me trouxe um verdadeiro alívio, pois existe uma explicação para tamanho mal estar quando me exponho à temperaturas elevadas, não é apenas uma "frescura" como ouvi diversas vezes.
Saber que não sou a única que enfrenta os dias quentes ligada no "modo econômico", no modo em que somente as funções absolutamente necessárias são ativadas, me fez deixar de me obrigar a agradar todo mundo e decidir que não vou mais me expor às altas temperaturas para poder ser bem vista. Assim, não irei mais para lugares tremendamente quentes no verão, não vou mais sair na rua nos horários de sol a pico e nem vou mais dar atenção aos comentários de que sou a única no mundo que sente tanto calor, pois, agora, sei que não sou e isso me faz um bem imenso.

Um beijo acalorado!


P.S. O que causa a intolerância ao calor na EM?

Sabe-se que na EM a destruição da mielina, a bainha protetora que envolve e protege as fibras nervosas, leva à formação de placas que atrasam os impulsos nervosos. A exposição ao calor retarda ainda mais esta condução nas regiões desmielinizadas, causando sintomas de intolerância, mesmo com apenas uma subida de menos de um 1° na temperatura corporal. Este fenómeno foi observado por Wilhem Uthoff em 1890, e ficou conhecido como sintoma ou síndrome de Uthoff. É importante distinguir que o calor pode agravar os sintomas da EM, mas não agrava a doença em si. (fonte: http://www.spem.org/biblioteca/dossiers-tecnicos/364-sensibilidade-ao-calor-na-esclerose-multipla)


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Meu filho...

Bete Tezine, Guilherme, 2012.
Lápis sanguínea e sépia sobre fotografia, 20 x 30 cm.




Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida.

(Friedrich Nietzsche)






Meu filho querido, ontem você completou 20 anos. Nossa! Como o tempo passou rápido! Ainda ontem você era um bebê, o meu bebê, tão lindo, tão terno, tão dependente de mim. Não consigo acreditar que já é um homem, que já está começando a trilhar sua própria história sem a necessidade de que eu segure sua mão.
Ainda trago completamente nítido na minha lembrança o dia em que você nasceu. Foi em uma quinta-feira, às 14h24min, de uma tarde ensolarada e de um calor intenso. Você chegou ao mundo gritando a plenos pulmões e me trouxe uma felicidade, até então, desconhecida, a alegria intraduzível de ser mãe, de pegar no colo um ser que saiu de dentro de mim, de acalentar, amamentar e sentir que eu era imprescindível na vida de alguém. 
É, meu filho lindo, foi o momento mais importante da minha vida o dia em que você chegou ao mundo, trazendo contigo uma nova razão para eu existir.
Você foi crescendo, sempre muito precoce, e nunca me esqueço das suas primeiras palavras, bem antes de começar a andar, de quando começou a sentar, engatinhar, não me esqueço dos seus primeiros passos e das longas gargalhadas quando eu lhe fazia cócegas.
E o seu primeiro dia de aula, então? Como ele está vivo em minha memória! Você só tinha 3 anos e eu sofri por antecedência durante vários dias, imaginando você grudando em mim, chorando e dizendo que não queria ficar sozinho na escola. Como sofri com a cena que se formava, teimosamente, na minha imaginação! Todavia, quando chegou o seu primeiro dia de aula, qual não foi a minha surpresa quando, ao te deixar no portão, você me deu um beijo e me disse: tchau, mãe, mais tarde você volta para me buscar, tudo bem? E entrou sem nem mesmo olhar para trás... nesse momento eu percebi o quanto eu estava apreensiva por algo que para você era esperado e completamente natural.
Outras lembranças que nunca deixarão de me acompanhar são nossas idas ao cinema, teatro, os programas que assistíamos juntos na televisão. Nossas gargalhadas com as palhaçadas, seus comentários surpreendentes, suas perguntas inteligentes. Ah! Meu filho querido, como sinto saudades desse tempo! Mas, crescer faz parte do processo e, mesmo tento sentido uma imensa vontade de parar o tempo para que você permanecesse indefinidamente criança, eu sempre tive consciência de que você cresceria muito mais rápido do que eu poderia imaginar.  E, aconteceu, você cresceu e, agora, se tornou um homem. 
Tudo o que falei até agora, meu filho, é apenas um pretexto para te dizer que continua sendo meu eterno menino. Que, para mim, você ainda é o meu menino lindo, terno e dependente de mim, pois, como mãe, me recuso a aceitar que agora pode caminhar sozinho, sem minha mão para te guiar.
Mas, apesar disso, eu sei que de agora em diante, você vai começar a viver sua própria vida e, daqui há algum tempo irá conhecer alguém e constituir sua própria família. Esse será outro momento de emoção intraduzível.
Por fim, meu querido filho, quero que saiba que torço por você incondicionalmente, que sou sua fã nº 1 e que sempre estarei aplaudindo de pé suas vitórias!

Um beijo de uma mãe profundamente coruja!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Maratona em busca do Rebif






O que vale a pena possuir, vale a pena esperar.

(Marcelo A. Pereira)







Todo primeiro dia útil do mês, eu me dirijo à farmácia de dispensação de medicamentos de alto custo do Hospital Estadual Mário Covas, que é o local, aqui na minha região, onde é entregue o Rebif. 
Hoje, como sendo o primeiro dia útil do mês de dezembro, como faço todos os meses, fui até lá para retirar minhas injeções. Porém, já de longe, percebi que seria um dia difícil, pois, vi um aglomerado de pessoas na rampa de acesso e no pátio que antecede a entrada da farmácia. Era gente que não acabava mais. Confesso que fiquei assustada, uma vez que, nesses 9 meses de uso do Rebif, nunca antes vi tamanha quantidade de pessoas para retirarem medicamentos como vi hoje.
Assim, munida de coragem, subi a rampa de acesso e me dirigi à entrada da farmácia que, embora seja um local razoavelmente amplo, não cabia mais uma pessoa sequer. Recebi a senha de nº 3569 e, no painel, estavam chamando a de nº 3199. Todavia, existem quatro ou cinco sequências diferentes de numeração de senhas, uma para cada tipo de serviço que é oferecido no local. Desse modo, acredito, que haviam, ao menos, umas 1000 pessoas na minha frente. 
O pior de tudo, não foi isso, o pior mesmo é que hoje eu não acordei me sentindo bem. Minha garganta está horrível, estou gripada e com dores nas pernas. Olhei ao redor e não achei um único lugar para sentar. O salão de espera, embora amplo, tem pé-direito baixo, acredito que menos de 3 m de altura, o ar condicionado do local não vence a demanda, pois as portas ficam constantemente abertas, o que fez o calor lá dentro ficar insuportável, além do aglomerado de pessoas que se apertavam à espera de atendimento, aumentando, ainda mais, a sensação de abafamento. 
Quem é esclerosado, como eu, sabe bem o que significa ficar em um lugar abafado e em pé durante horas. Assim, permaneci ali durante mais ou menos uns 20 minutos e, nesse tempo, da minha sequência de senha, foram chamadas, apenas, 4 pessoas. Fiz um cálculo mental do tempo médio de espera e conclui que havia tempo mais que suficiente para eu ir para casa, almoçar e depois retornar. Assim o fiz.
Depois de mais ou menos duas horas, retornei e, para meu desânimo total, ainda faltavam 170 pessoas para serem atendidas, apenas da minha sequência numérica. Pensei comigo: fazer o que, não é? Eu precisava das injeções para hoje, pois é dia de aplicação e não tinha nenhuma sobressalente.
O calor estava intenso, do lado de fora sol escaldante, do lado de dentro um inferno na terra. Desse modo, encostei em um canto qualquer e fiquei a espera de que, por um milagre, as senhas fossem chamadas em uma velocidade mirabolante, o que, para minha mais profunda decepção, não ocorreu. Após mais ou menos 1 hora e meia em pé, naquele calor infernal, consegui uma cadeira pra sentar, pois, minhas pernas não estavam mais me suportando. Todavia, o que parecia ser a solução para minhas dores, se mostrou completamente fora de cogitação, pois, as cadeiras do local são bastante altas e eu, no alto dos meus 1 m e 50 e poucos cm de altura, não conseguia apoiar os pés no chão, o que, apenas, intensificou as dores que estava sentindo. 
Nossa! Sentia dor, sentia sono, sentia a fadiga me dominando, as horas se arrastavam e minha senha nunca chegava. Como foi difícil hoje!
Devo dizer que fui atendida após cerca de 3 horas de espera, isso porque eu fui para casa, pois, se não tivesse feito isso, tranquilamente teria ficado lá por quase 6 horas esperando para retirar minhas preciosas injeções.
A essa altura, acho que já podem imaginar o estado lamentável que cheguei em casa, não é mesmo? De verdade, me senti feito gelatina exposta ao calor de um dia de verão. Literalmente, me senti derretendo, tal a fadiga que tomou conta de mim.
Assim, depois de um dia de retirada de medicação totalmente atípico, pois, nem mesmo os funcionários do local sabiam explicar o por quê de tal acúmulo de pessoas, eu me joguei na cama e dormi, dormi muito, apaguei de verdade e, quando acordei, a fadiga tinha me dado uma trégua e as dores também, tinham adormecido. Dessa forma, sem fazer nenhum barulho que pudesse chamar-lhes a atenção, voltei para a vida, porque a fadiga e a dor, ao menos por hoje, não têm mais lugar junto a mim.

Um beijo carinhoso!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Atriz coadjuvante...





Coadjuvante de uma história de mil facetas; por isso sou toda alívio. Compartilho a nobre coragem protagonista, de só desejar a felicidade.

(Camila Custodio)





Eu já afirmei, algumas vezes, que aceitei, plenamente, a presença da Esclerose Múltipla na minha vida, porém, isso não significa que, de vez em quando, eu não me estranhe com ela, chegando mesmo a odiá-la, de verdade.
Ontem,  foi um desses dias em que ela esteve me importunando tanto, mas tanto, que tive vontade de bani-la da minha vida de uma vez por todas, se isso fosse possível,  é claro.
Como ela ficou indisciplinada! Quis, a todo custo, chamar a minha atenção, pois eu acredito que tenha percebido que anda perdendo espaço na minha vida, uma vez que eu, por um período de tempo considerável, mal me lembrei da sua presença. Não fosse pelo fato de ter de me autoaplicar as injeções de Refib, três vezes na semana, ela teria passado incógnita por vários e vários dias.
No entanto, toda vez que se sente ignorada, relegada a segundo plano, como uma criança birrenta, ela se agarra às minhas pernas, se pendura em mim, não me dá um instante de folga, me obrigando a arrastá-la para aonde quer que eu vá.
Assim, minhas pernas se arrastam... nossa! Como fica difícil caminhar!  
Meu corpo parece que está eletrizado, sinto mesmo que, se ligar algum aparelho elétrico em mim, ele irá funcionar perfeitamente, tal a intensidade dos choques que me acometem.
Meu braço esquerdo perde, de vez, o pouco da força que lhe resta.
Minha cabeça gira, gira, gira, me deixando mais tonta que o habitual.
E o meu humor, então? Esse fica completamente desestabilizado. Como eu choro em dias como esse! Pareço uma criança querendo colo.
São tantos sintomas juntos que, tenho a nítida impressão, que fizeram um conluio para me desestabilizarem totalmente e, assim, ficar mais fácil  deixar minha ingrata companheira tomar conta de mim.
Porém, apesar disso tudo, o que ela ainda não percebeu é que eu já desvendei boa parte das suas artimanhas, motivo pelo qual eu até me deixo levar por ela, durante um curto espaço de tempo, como forma de aplacar um pouco dos seus caprichos de menina indisciplinada que é. Porém, quando lhe dou corda, minha intenção verdadeira é puxar de volta, trazendo e imobilizando-a até  vislumbrar que ela vai me deixar em paz por mais algum tempo. 
Ela é assim. É o que eu tenho aprendido nesse meu processo de convivência com essa impulsiva e imprevisível companheira de vida. Ela quer atenção, quer chamego, quer mimos, me quer exclusivamente para ela. Então, eu a deixo acreditar que me entreguei aos seus desmandos e, quando pensa que me dominou, em um momento de descuido, eu me levanto e  a coloco em seu devido lugar, ou seja, o de atriz coadjuvante, pois, o papel principal, apesar da insatisfação dela, ainda é meu e, continuará sendo, pelo tempo que eu quiser.

Um beijo carinhoso!



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Hoje, doeu...

Bete Tezine, Dor, 2012. Arte objetual.



Se eu pudesse, pegava a dor; colocava a dor dentro de um envelope e devolvia ao remetente.

(Mario Quintana)



Quando escrevi o post Efeitos colaterais (clique aqui para ler) , eu relatei que nós dois (eu e o Rebif), após meses de estranhamento, começamos a nos entender e as injeções não estavam me causando mais tantas reações. 
No entanto, a que me apliquei ontem à noite, resolveu que era tempo de me fazer vítima da sua bipolaridade, pois, acredito que o Rebif é, sim, bipolar. E digo mais, o lado extremamente mal humorado dele, sempre se sobressai em detrimento do lado mais calmo, pacífico, de bem com a vida, se é mesmo que ele tem um.
Meu Deus! Como estou sentindo, no dia de hoje, todo o mau humor desse medicamento insano em meu próprio corpo! 
Não sei por qual motivo, mas, acredito que, cansado de me dar uma trégua e, em uma profunda crise de identidade, quando não conseguiu conter seu lado sombrio, ele chegou à conclusão que era a hora de me lembrar da sua presença indigesta, pesada e massacrante na minha vida.
Como ele martelou minha cabeça! Tum...tum...tum...tum...tum...tum... nossa! Meu cérebro latejou tanto dentro do meu crânio, que tive a nítida impressão de que ele explodiria em mil pedaços que seriam lançados para fora da minha caixa craniana.
Meu corpo! Ah! Meu corpo! Quanta dor! Sabe a sensação que tive hoje? Foi a de que fui processada em um moedor de carne gigante ou a de que fui atropelada por um trator esteira, tal a intensidade do mal estar que senti o dia inteiro.
Minhas articulações ficaram rígidas... minhas pernas pesaram... meus braços ficaram lerdos... 
Ah! Rebif, seu malvado! Por que resolveu fazer isso comigo outra vez? Não dava para continuar com a trégua que tínhamos estabelecido entre nós? 
Sinceramente, eu espero que amanhã, seu lado mais de bem com a vida se manifeste mais intensamente que o lado negro do seu caráter, pois, se assim não for, acho que vai ser difícil demais, outra vez.
Agora, vou precisar parar, pois, digitar tornou-se uma tarefa árdua para minhas mãos e meus braços cansados.

Um beijo dolorido...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Eu, como ser individual...

Bete Tezine, 2012.



Fiz desaparecer a minha individualidade para nada ter que defender; afundei-me no incógnito para não ter qualquer responsabilidade; foi no zero que procurei a minha liberdade.

(Henri Amiel)




Estive pensando, dia desses, em como nossas convicções, em como coisas que tínhamos como imutáveis, podem se transformar, podem adquirir novos contornos e novas possibilidades. 
A bem da verdade, estamos, constantemente, mudando de opinião acerca de vários assuntos, assumindo novas posturas diante de fatos que nos eram inconcebíveis e, depois de um tempo, mudando o olhar, notamos que aquilo já não é tão impossível de ser assimilado como pensávamos anteriormente. Na verdade, tudo no universo é passível de transformação e, conosco, não tinha porque ser diferente.
Falando por mim, posso dizer que tenho sofrido um sem número de mudanças no meu modo de ver, pensar e agir. Tenho estado em constante mutação do meu olhar e do meu entendimento sobres coisas que, anteriormente, me eram inadmissíveis.
A começar pela minha individualidade, eu posso mesmo afirmar que somente a assumi há poucos meses, pois, antes disso, não me julgava um ser único, não mesmo. Na concepção do meu próprio eu, eu não me via como uma mulher, ou seja, um ser humano do sexo feminino, mas, era, tão somente, filha, irmã, mãe, esposa, amiga... Na minha visão, eu não existia individualmente, nada disso, pois, estava atrelada a um sem número de rotulações, que me via impedida de pensar em mim como um ser individual, dotado de vontade própria e motivos para querer viver minha própria vida, não apenas as dos outros, mas, a minha também. 
Foi aí que, de uma hora para outra, impelida pela descoberta da Esclerose Múltipla, eu fui praticamente obrigada a voltar meus olhos para mim. Precisei parar por um instante e me autoavaliar, me olhar no espelho e perguntar quem eu era, o que eu queria de mim e para mim, como seria dali para frente, o que e como fazer... Indagações, indagações e mais indagações. Repostas? Bem poucas, quase nenhuma, na verdade.
No entanto, me foi impossível deixar de perceber que todas as minhas convicções a respeito do meu papel como ser humano, estavam prestes a ruir, pois, eu não era mais, unicamente, filha, irmã, mãe, esposa, amiga... agora, eu era, também, portadora de Esclerose Múltipla. Fato esse que me mostrou o quanto estamos em constante mutação no que diz respeito aos nossos valores e às nossas opiniões.
Foi assim que, não digo que sem resistência, não digo que sem algum sofrimento, eu necessitei assumir-me como pessoa, sem rotulações, mas, como eu mesma, a Bete Tezine, a mulher. Não a filha, não a irmã, não a mãe, não a esposa, não a amiga... mas, a Bete Tezine, simplesmente. Eu, apenas eu, sem levar ninguém junto de mim. 
Essa, tenho certeza, foi a maior das mutações que sofri na minha visão de mundo, não significando com isso que foi a mais importante, mas, foi a partir dela que tenho, a todo momento, me desvinculado de algumas convicções que não me servem mais e, agregado outras mais compatíveis com a minha nova realidade.
Desse modo, posso afirmar que nada é imutável, nem mesmo, nós.

Um beijo de um ser individual...



domingo, 25 de novembro de 2012

Mais um dia de solidão...





Você foi a esperança nos meus dias de solidão,a angústia dos meus instantes de dúvida, a certeza nos momentos de fé.

(Paulo Coelho)








Hoje, é um daqueles dias em que eu tinha tudo para rir, festejar, dar vivas, porém, algo dentro de mim acordou de uma forma que não me deixa sorrir... não sei dizer o que foi, não sei mesmo se existe algum motivo palpável para eu me sentir assim, nada me faz identificar a causa dessa angústia que me incomoda e que faz com que o choro fique à beira das margens das minhas emoções.
Eu estou assim, simplesmente. De repente, sem mais nem menos, sinto uma melancolia que me deixa contida dentro de mim mesma. Uma dor que escraviza e que me tira o ânimo para reagir.Sinto-me só. É isso, sinto-me sozinha, mesmo estando rodeada de pessoas. 
E assim, nesses dias de solidão, tudo me oprime, tudo me exaspera, tudo me deixa mais sozinha ainda. Nada adianta, nada faz a dor passar, nada me faz ter vontade de sair de dentro de mim.
Estou só... sozinha em meio a multidão.
Estou só... sozinha dentro da minha própria vida.
Estou só... sozinha comigo mesma e uma melancolia sem fim.
Estou só... sozinha com um choro que não cai de uma vez para, quem sabe, me deixar menos só.
Estou só... sozinha com uma necessidade insana da presença de alguém distante do meu toque, mas, tão próximo da minha alma, que chego a sentir o seu calor.
Estou só... sozinha para lidar com a falta que alguém me faz quando fico sem notícias.
Estou extremamente só e, isso, desperta o pior de mim. Desperta as minhas fraquezas, meus medos camuflados em coragem, minha alma pequena diante da dor da solidão. 
Eu não quero mais me sentir sozinha rodeada de pessoas que não me fazem companhia. Não quero mais ficar sozinha em meio à multidão que me cerca e me faz ainda mais só. Não posso mais ficar longe do que me aquece o coração e acalenta a minha alma.
Eu preciso sair desse ciclo de angústia, medo e incerteza. Preciso ir de encontro a alguém que, se transformou, na única maneira possível de aplacar essa solidão que me parte o coração e me fere a alma.
Eu necessito da sua presença em minha vida, principalmente, hoje, que me sinto extremamente só.

Um beijo solitário....

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Adendo à lista de amigos...








Amigos são a família que nos permitiram escolher.

(Shakespeare)







O receio que afirmei no post anterior (Uma lista de amigos) se confirmou, eu esqueci de acrescentar na minha lista a primeira amiga com que me manifestei acerca da minha condição de portadora de Esclerose Múltipla. Cometi uma falha imperdoável com você, Bruna Rocha Silveira e, apesar de imperdoável, espero que, na sua nobreza, possa me desculpar. 
Quero aproveitar para lhe dizer, minha querida amiga, o quanto suas palavras me ajudaram a ver, com outros olhos, minha nova condição de vida. 
Obrigada por tudo e, você, é uma das pessoas com quem quero manter uma relação de amizade por toda vida.

Um beijo repleto de admiração e esperança de que possa me perdoar...