terça-feira, 25 de setembro de 2012

Duas metades de mim





E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Metade, Oswaldo Montenegro)


Hoje, ao acordar, me pus a refletir sobre as dualidades que trago impressas na minha identidade. 
Percebi que sou duas pessoas fundidas em apenas uma. 
Mas, longe de mim ser contraditória, pois não sou, apenas descobri que minha personalidade se faz única no momento em que se juntam minhas duas metades.
Tenho um lado falante, que diz coisas sobre o mundo, que fala sobre a vida, sobre a dádiva de viver, sobre sonhos e projetos, frustrações, angústias, medos, ilusões e decepções.
Porém, tenho também, um lado que faz silêncio, que recolhe as palavras que estavam prontas para serem ditas e as leva para dentro, bem lá no fundinho da alma.
Existe um lado meu que compreende, estende a mão e apoia. 
Mas existe outro, além desse, que pede compreensão, a mão e o apoio.
Possuo um lado que ama, gratuitamente, sem reservas.
E um outro que pede amor, gratuito e ilimitado.
Outra metade minha, que se destaca, é a que me faz mãe, incondicional, protetora, dedicada.
Mas, tão latente quanto essa, é a metade que me faz filha, carente e que pede proteção.
Há em mim um lado guerreiro, que me faz lutar batalhas, sem dar trégua aos obstáculos. 
Mas, nem por isso, deixo de ter outro lado, que se retira da luta quando percebe que nem sempre ganhar é sinal de vitória.
Nesse meu momento introspectivo descobri, também, minha metade fraterna, aquela que me faz ser amiga em qualquer situação e, outra metade, que clama por amizade em qualquer circunstância da vida.
Tem aquele meu lado mestre que ensina, compartilha, mostra aonde se deve ir. 
Todavia, há ainda, meu lado discípulo que aprende , recebe e pergunta aonde devo chegar.
Minha metade sonhadora se perde em devaneios, muitos deles utópicos, mas nunca deixa de sonhar.
Porém, minha metade realista, muitas vezes se levanta e me faz esquecer de sonhar.
É meu, também, um lado obediente, que se medica, cuida de si e que busca conviver, pacificamente, com minha companheira diária, a Esclerose Múltipla.
No entanto, um outro lado meu se rebela, faz pirraça, provoca e hostiliza minha constante companhia.
Tenho, ainda, um lado que de vez em quando sente muito medo, se apavora e pensa muito em desistir, porém, toda vez que ele tenta emergir, todas as minhas outras metades se insurgem e o atiram de volta ao calabouço da minha alma.
Mas, há ainda, duas metades minhas que são gêmeas, daquelas idênticas, indistinguíveis, são as metades que me fazem ser transbordante de emoções.

P.S.: Quanto terminei de escrever essa postagem, encontrei uma música que, até então não conhecia, do poeta Oswaldo Montenegro, na qual  ele fala, também, das suas duas metades. Me emocionei, me enterneci, ao perceber que não sou apenas eu que sou composta por dualidades. Coloquei o vídeo da música e transcrevi a letra, pois ela é pura poesia, vale muito a pena ouvir e ler.


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
 Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
 Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
 Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Metade, Oswaldo Montenegro)


Um beijo das minhas várias metades!



2 comentários:

  1. Oi Bete,
    Essa música é linda demais. Adoro!!!
    Bjs

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  2. Olá Drika, confesso que não conhecia, a encontrei depois que escrevi o post, então resolvi colocá-la também. Adorei!

    Beijo,

    Bete

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