quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Educando para a vida







Não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los.

(Platão)








Acho que a mais árdua das tarefas que a vida impõe, a nós, é educar nossos filhos para que eles se tornem homens e mulheres de bem, seres humanos na verdadeira acepção do termo, pessoas que valham a pena conhecer e compartilhar de uma amizade sincera.
Filhos são presentes valiosos e, como tal, devemos cuidar deles com o maior zelo possível, no entanto, diferentemente de uma joia ou de uma obra de arte, não podemos fechá-los em uma redoma de vidro a fim de protegê-los das agruras do mundo. Apesar dessa ser a nossa vontade, infelizmente, esse não é o melhor que podemos fazer, pelo contrário, isso só trará  sofrimentos futuros para os filhos que tanto tentamos proteger.
Conforme já mencionei em outros posts, sou mãe de um rapaz, com 20 anos, e de uma adolescente , com 13 anos. Não posso afirmar que sou a melhor mãe do mundo para eles, pois, sou repleta de falhas e coleciono muitos fracassos nas minhas tentativas de fazer o melhor para os dois, no entanto, acho que tenho conseguido dar a eles o rumo a seguir para serem o melhor que puderem ser diante dessa vida, muitas vezes, tão incerta e injusta, também.
Eu sempre tive como convicção que não são nossas palavras que educam, mas, os nossos exemplos. Ditar uma conduta não resolve se a nossa própria conduta não for condizente com a nossa fala. Eu penso que mais vale dar o exemplo do que reprimir ou proibir alguma atitude de nossos filhos.
Eu me lembro bem que meu filho, quando tinha mais ou menos uns 5 ou 6 anos de idade, começou com a mania de pedir algo para comer, fosse em casa ou em outro lugar qualquer e, após apenas provar, dizer que não queria mais sem, ao menos, ter tocado direito no alimento e, por mais que eu dissesse para ele que aquilo era errado, ele continuava fazendo a mesma coisa sempre. Então, eu resolvi mudar a forma de agir com ele e, ao invés de ficar batendo sempre na mesma tecla, passei a mostrar-lhe imagens de crianças famintas da África e, quando saíamos juntos, mostrava-lhe as crianças pedindo nos semáforos e sempre frisava que elas não tinham nada para comer, diferentemente dele, e que a comida que ele mal tocava seria motivo de festa para elas. Assim, ele passou a pedir somente o que iria comer e nunca mais desperdiçou alimentos, pelo contrário, jamais deixou de lembrar das imagens que eu lhe mostrei.
Uma outra situação em que precisei lançar mão de exemplos foi com relação à minha filha que, tremendamente apegada a tudo que lhe pertencia, se recusava a dar para outras crianças as roupas e sapatos que não eram mais usados por ela, bem como os brinquedos dos quais ela havia enjoado. Então, usando o mesmo recurso que usei com o meu filho, eu mostrei para ela crianças de rua, durante o inverno, descalças e desagasalhadas, lembrando-a que as suas gavetas e armários não cabiam mais nada de tanta roupa acumulada que não lhe servia mais, aproveitei e perguntei para ela se ela achava isso justo. Desse dia em diante ela mesmo passou a separar o que não queria mais e a pedir para que eu doasse a alguma criança que estivesse precisando muito.
Outra coisa que aprendi muito cedo, na minha carreira de mãe, é que dizer não machuca muito mais quem diz do que quem ouve. Eu sei o quanto é difícil negar algo aos nossos filhos quando temos plenas condições de fazê-lo. Mas, acredito mesmo que, dizer sim para tudo, gerará verdadeiros futuros tiranos. Com isso, não quero dizer que não podemos atender um pedido de nossos filhos, muito pelo contrário, significa apenas que o que eles querem lhes será dado quando nós pudermos e, não, quando eles quiserem. Ouvir não, muitas vezes, é o que leva um ser humano a atingir o sucesso como pessoa.
Nós podemos poupar nossos filhos por algum tempo, podemos tentar viver as intempéries do mundo em seus lugares por determinado período, porém, vai chegar o tempo que nossos filhos soltarão as amarras e alçarão voo rumo ao mundo que se abre diante deles e, nesse momento, então, o que valerá serão os ensinamentos e valores que eles carregarão com eles e que foram incutidos, paulatinamente, por nós. Serão nossos exemplos e não nossas palavras que eles levarão por toda a vida, uma vez que não terão mais as nossas mãos a guiarem os seus passos, tendo, indubitavelmente, de fazerem suas próprias escolhas, discernindo entre o que fazer e o que não fazer para serem, verdadeiramente, pessoas de bem.

Um beijo maternal!


sábado, 26 de janeiro de 2013

Mudando o foco...

 Não foi mágica, apenas uma mudança consciente de foco. Troquei de canal para levar minha vida pra passear um pouco. Para soprar algumas nuvens. Para respirar melhor. Ao permitir que o pensamento se dissipasse, abri espaço para mudar meu sentimento. O problema continuava no mesmo lugar; eu, não. Nós nos encontraríamos outras tantas vezes até que eu pudesse solucioná-lo, mas eu não precisava ficar morando com ele enquanto isso.

(Ana Jacomo)


Ontem, no decorrer da minha sessão de psicoterapia, em um dado momento, minha psicóloga me perguntou se eu havia reparado que, há tempos, a Esclerose Múltipla não estava mais sendo o foco das nossas conversas. Na verdade, eu já vinha observando isso há algum tempo, pois, em outros aspectos da minha vida, também, a minha companheira tem assumido uma posição secundária.
Não vou dizer que ela tem estado adormecida nesse tempo todo, não mesmo, pois, ela teima em me lembrar da sua presença diariamente. Me cutuca, me chacoalha, me dá choques pelo corpo, balança minha cabeça intermitentemente, mistura minhas ideias, tira a força da minha perna e do meu braço esquerdos, me provoca espasmos, me extenua... afinal, continua completamente ativa.
No entanto, o que tenho percebido, é que depois que aceitei a sua presença na minha vida como fato, ao menos por ora, imutável, ela, realmente, assumiu um peso bem mais leve do que tinha quando eu, nem ao menos, sabia seu nome ou tudo o que ele trazia na sua bagagem. Verti um choro dolorido por algum tempo, é verdade, me senti a pessoa mais infortunada do mundo, tive pena de mim, mergulhei na autocomiseração e me senti refém da enfermidade autoimune. Todavia, tudo isso, gradativamente, foi sendo substituído pela redescoberta de um lado meu esquecido, há tempo suficiente, para que tivesse sido relegado à total insignificância para meu próprio eu.
Foi, assim, que percebi que o fato de ser "esclerosada" não me condenava, perpetuamente, a uma vida descolorida, na qual eu viveria em função, tão somente, das minhas dificuldades, dores e dissabores por conta da minha doença. 
E isso foi assim tão fácil? Sei que essa pergunta será formulada, mesmo que mentalmente, por diversas das pessoas que lerão este post. A resposta, de verdade? Não, não foi e não tem sido nada fácil. 
Tenho tido durante esses 15 meses que se passaram desde o surto que desencadeou o diagnóstico, momentos em que parece que vou sucumbir e me entregar de corpo e alma à Esclerose Múltipla, porém, sempre que sinto ela me rondando em busca de um oportunidade para me envolver nas suas tramas maléficas, eu me esgueiro, me disfarço, me distancio, faço malabarismos, mas, não permito que ela me alcance... levo comigo seus efeitos inevitáveis, mas, além disso, eu não carrego mais.
Por tudo isso, era mais do que esperado que, eu, ao invés da Esclerose Múltipla, passasse a ser o foco das minhas sessões de psicoterapia, afinal, eu estou no controle, sou eu quem a  carrego e, não, ela quem carrega a mim.

Um beijo focado no coração...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Depois de certo tempo...





O tempo é o mais sábio dos conselheiros.

( Plutarco )






Depois de certo tempo e após várias desilusões, acabamos por aprender que nossa felicidade jamais deve ser delegada a outras pessoas ou coisas. 
Aprendemos que felicidade é um estado de espírito que só pode ser encontrado dentro de nós mesmos e, nunca, do lado de fora.
Com o tempo aprendemos que ninguém é dono de ninguém, que pessoas entram na nossa vida, algumas ficam, outras, no entanto, vão embora, sem ao menos nos dizerem a que vieram.
Percebemos, também, que o que hoje nos faz feliz, amanhã pode se transformar na razão de nossas lágrimas. Por isso, é preciso que tenhamos consciência de que a felicidade é efêmera, pois felicidade constante é utópica, o que temos na verdade são momentos felizes que se soubermos preservar se tornarão eternos em nossas lembranças.
O tempo, também, nos leva a entender que nem tudo o que queremos nos trará a alegria que pensamos, pois muitas vezes, quando alcançamos nossos objetivos, ao invés de contentamento, somos tomados pela mais pura decepção. 
É preciso que aprendamos, também, que as dores não duram para sempre, que as angústias se desfazem, que as lágrimas se transformam em riso e que as tempestades da alma precedem um amanhecer ensolarado.
Passamos a compreender, conforme o tempo passa, que batalhas sempre existirão em nossas vidas, mas que vencê-las ou não, muitas vezes é uma questão de escolha pessoal. Podemos nos deixar abater ou lutar para superar cada obstáculo do caminho, até que superemos todos e saiamos vencedores do embate.
É com o passar do tempo que também passamos a enxergar nossas próprias deficiências e nossos medos que, uma vez identificados, cabe a nós decidir o que fazer com cada um deles. Podemos enfrentá-los, buscando uma superação, ou nos tornarmos reféns deles indefinidamente.
É apenas com o tempo que passamos a compreender que maturidade nem sempre é sinônimo de mais idade e que o tempo tem o poder de envelhecer nosso corpo físico, mas, nunca, a nossa alma, pois a juventude não está atrelada à quantidade de velinhas postas sobre o nosso bolo de aniversário. Há pessoas que já nascem velhas enquanto outras morrerão, na mais avançada das idades, completamente crianças.
Será tão somente com o passar do tempo que aprenderemos que de nada adiantam os discursos de boa conduta se nossos exemplos de vida contradizem o que sai da nossa boca.
Por isso mesmo, devemos ficar atentos a todos os sinais que o passar do tempo nos dá sobre nossos sentimentos, crenças e convicções, pois ele sempre nos mostra o que está funcionando, ou não, para nosso crescimento pessoal. Nem sempre, o que ontem nos fazia bem, continuará trazendo os mesmos benefícios no dia de amanhã, por isso, é essencial que adaptemos nossas condutas e revisemos nossas convicções sempre que elas nos trouxerem algum incômodo, pois, na maioria das vezes, esse é o sinal de que elas não nos servem mais.

Um beijo amadurecido pelo tempo...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Um momento traumático...




Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.

(Jean-Paul Sartre)




Ninguém continua sendo a mesma pessoa após ter passado por um momento traumático. Seja que trauma for, seja de que espécie for, por mais que tentemos, algo dentro de nós se modifica irremediavelmente, uma vez que é impossível que sejamos os mesmos de antes.
Falando por mim, eu já vivi momentos que me marcaram profundamente e que acabaram por me fazer ver muitas coisas que, antes, eu não enxergava ou, para ser muito sincera, fingia para mim mesma que não estavam ali, apesar das suas presenças me causarem diversos tipos de danos.
De todos os momentos traumáticos que vivenciei, sem sombra de dúvida nenhuma, posso dizer que o pior deles, foi um roubo que ocorreu em minha casa há 8 anos atrás. Até hoje quando me lembro, algo se move dentro de mim e me remete à toda gama de sentimentos que despertam as sensações de impotência, medo e raiva que sentimos ao nos vermos completamente dominados, dentro da nossa própria casa, o local onde devíamos nos sentir seguros, mas, no qual nos tornamos reféns de bandidos.
Foi em uma noite de domingo, voltávamos da igreja. O pai dos meus filhos dirigindo, meu filho, com 12 anos, vinha sentado ao seu lado e eu no banco traseiro com minha filha, de 5 anos, adormecida no meu colo. Mal paramos em frente ao portão, fomos dominados por 6 bandidos, armados, que nos renderam e entraram conosco em nossa casa. 
A arma o tempo inteiro apontada para a cabeça do meu filho. Ameaças. Violência moral. 
Durante 2 horas, eles reviraram minha casa, ameaçaram atirar na cabeça do meu filho, rasgaram lençóis pra nos amordaçar, cortaram os cabos dos telefones e nos amarraram com eles, tomaram sorvete na minha cozinha...
Tudo que tinha algum valor foi levado. Mas, o que não tinha muito valor também, como cofrinhos de moeda, desodorantes e carnes que estavam no freezer.
Levaram, também,  meu carro e nossa confiança na segurança do nosso próprio lar.
Durante o roubo, pude experimentar a mais completa sensação de impotência, que um ser humano pode sentir, ao ver a arma apontada para a cabeça do meu filho. Posso dizer que, naquele momento, eu fiz tudo o que podia para ajudar os bandidos a encontrarem o que queriam, tendo, inclusive, ido até a garagem, acompanhada por um deles, para desativar todos os alarmes do meu carro. É estranho como queremos que eles simpatizem conosco, nessa hora, a fim de não nos causarem nenhum dano físico, uma vez que os danos morais já se instalaram imutavelmente em nós.
Nos dias que se seguiram ao roubo, vários sentimentos foram se alternando. Primeiro, o medo pelo que poderia ter acontecido, perdurou por vários dias. Depois, veio a revolta, a raiva por ter me tornado refém dentro da minha própria casa. Um ódio infinito, uma sede de vingança, uma vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Em seguida, voltou o medo, o temor de que tudo o que vivemos naquele dia pudesse vir a se repetir, um medo desenfreado, pânico, pânico, pânico. Por fim, a desconfiança de tudo e de todos, ninguém mais era inocente, ninguém que estivesse andando pela rua, ninguém que olhasse para mim, todos eram suspeitos da iminência de cometer outro crime igual àquele.
Passados alguns anos, quando fecho os olhos ainda vejo a arma apontada para a cabeça do meu filho durante 2 horas seguidas, ouço a coação moral, revivo o medo, a raiva e a impotência, porém, tenho tentado me focar no fato de que por mais que, psicologicamente, tenha sido difícil demais, não sofremos nenhuma violência física além de termos sido amarrados e amordaçados. Não tocaram em nenhum de nós e isso, não tem preço para uma mãe que temeu pelos seus filhos como nenhuma mãe nesse mundo merece sofrer. 
Dificilmente, um dia irei deixar de reviver aqueles momentos, mas, hoje, falar sobre isso já está menos doloroso, pois já tenho conseguido não ficar trêmula quando relembro aquela noite de domingo, mais precisamente, dia 20 de fevereiro de 2005, das 21h30min às 23h30min, aproximadamente.

Um beijo...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Amor quebrado...





A intimidade gera a falta de consideração, todavia a consideração gera a intimidade, a chave de um bom relacionamento duradouro é descobrir como manter a consideração a quem nos tornamos íntimos.

(Moacir Costa)






Muitas vezes, passamos a vida inteira, ou, boa parte dela, ao lado de alguém que, de tanto que nos faz bem, de tanto que nos completa, passamos a achar que ela é uma extensão de nós mesmos e, por esse motivo, não damos a ela a atenção e o cuidado que ela necessita.
É estranho como, depois de algum tempo, passamos a acreditar que não há mais necessidade de expressarmos, por meio de gestos e palavras, a importância que esse alguém tem para nós. Não demonstramos afeto, não demonstramos nossa gratidão, nossa preocupação e, muito menos, a necessidade que temos dela na nossas vidas. Agimos como se o simples fato de estarmos ao seu lado,fosse suficiente para expressar esses sentimentos que, a bem da verdade, estão dentro de nós, mas que por comodismo não deixamos que eles saiam e envolvam a pessoa da qual necessitamos demais e não somos capazes de enxergar isso espontaneamente.
O tempo passa, a relação vai se desgastando, dia após dia, pela falta de reciprocidade, pois mesmo que a nossa companhia, durante muito tempo, consiga demonstrar a nossa importância, o tamanho do seu amor e o cuidado que tem por nós, é chegado um tempo em que ela começa a perder o encanto e a recalcar, dentro dela, essas manifestações de amor e carinho e, quando a relação atinge esse ponto, algo se quebra e por mais que tentemos juntar os cacos e uni-los em uma colagem quase perfeita, a olho nu, nunca mais conseguiremos restaurar por completo o sentimento partido, pois, uma vez quebrado, ele se modifica, se transformando em algo muito aquém do amor que foi e que se perdeu por falta de ser regado com atenção e cuidado todos os dias.
Assim, infelizmente é nessa hora que deixamos a porta aberta para que esse alguém, a quem ainda amamos, mas que perdermos por nosso excesso de segurança no amor dele por nós, saia da nossa vida por ele próprio ou, levado por alguém que trouxe para ele tudo o que nós deixamos de lhe dar, resgatando sua autoestima que, mesmo involuntariamente, lançamos por terra.
É, nesse momento, que "a ficha cai", é nesse exato momento que damos conta de todos os sinais que nos foram enviados e que, por pura desatenção, foram ignorados, fazendo com que continuássemos estáticos, vendo o amor da nossa vida indo embora sem esboçarmos qualquer intenção de mantê-lo junto de nós. É doloroso, é sofrido, é angustiante, é desesperador, mas, no momento em que a porta se fecha depois da partida, só nos resta aceitar que foi nossa culpa, nossa mais inteira culpa, a perda desse alguém que não nos demos conta a tempo, mas era nossa razão de viver. 
Então, quando isso acontece, só nos resta seguir adiante, tentando conviver da melhor maneira possível com a falta que esse alguém nos faz e desejar, profundamente, do fundo do nosso coração, que nosso ex amor seja imensamente feliz.

Um beijo no coração (espero que inteiro) de todos!


domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma entidade chamada mãe...


Minha filha Carol

Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de agir corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.

(José Saramago)


Quando meu filho  tinha, mais ou menos, uns 5 anos de idade, a sua dentista me disse que se um dia eu tivesse R$ 200,00 para comprar um tênis para ele, para eu não comprar, mas sim, comprar um de R$ 100,00 para ele e um de R$ 100,00 para mim e, acrescentou, que não se tratava de um conselho, mas, de uma constatação de quem já tinha dois filhos adultos. Me disse, ainda, que isso não significava deixar de fazer o melhor possível pelos nossos filhos, mas, de não deixar de fazer por nós mesmos, também. 
Naquele dia, eu não concordei com as palavras dela, ou melhor, acho que, como mãe de um único filho ainda criança, eu não compreendi a real dimensão do que ela quis me dizer.
Os anos passaram, tive mais uma filha e, recentemente, em uma das minhas seções de psicoterapia, minha psicóloga me disse que, na visão dos filhos, mãe não era mulher, mas sim, uma entidade. 
Meu filho Guilherme aos 5 anos de idade
Essa fala ficou dias ecoando na minha cabeça e me fez relembrar as palavras da dentista do meu filho. Passei dias fazendo uma análise mental do que elas quiseram dizer com essas palavras e, só agora, consegui compreender o real significado delas.
Não é exagero dizer que sou a mãe mais coruja e protetora do mundo e que abri mão de muita coisa por amor e dedicação aos meus filhos. Não me arrependo disso, não mesmo, mas, olhando para trás, percebo que poderia ter sido diferente, poderia mesmo ter sido a melhor mãe do mundo e, a melhor mulher também. Hoje, descobri que é perfeitamente possível conciliar ambas as coisas, pois, não é preciso deixar de ser mulher para ser mãe, bastando, para isso, não deixar de lado a nossa individualidade, nossos sonhos e projetos de vida.
Nossos filhos crescem, tomam seus próprios rumos e trilham seus próprios caminhos e, isso, independe da nossa vontade, pois, eles irão de qualquer jeito, eles crescerão mesmo que não queiramos, eles alçarão voo mesmo que tentemos podar suas asas. E, quando isso acontece, restará a nós a nossa própria vida, a vida que sobrou após nossos filhos terem se tornado donos das suas próprias escolhas.
Meus filhos ainda não atingiram a total independência de mim, posto que o rapaz, hoje com 20 anos, ainda está iniciando seu processo de "desmame", por assim dizer, enquanto minha filha, uma adolescente de 13 anos, embora já queira se libertar de algumas das amarras que lhe imponho, é ainda quase que totalmente dependente dos meus cuidados.
Porém, independentemente disso, hoje eu compreendi, de verdade, as palavras da minha psicóloga ao dizer que os filhos não enxergam a mãe como uma mulher, pois, meus filhos têm deixado isso bem claro ao expressarem total desagrado com o fato de eu ter começado a dedicar meu tempo a outras coisas que não seja ser mãe 24 horas por dia. Eles me cobram a atenção que sempre tiveram, mas que nunca perceberam que tinham. Não é que eu tenha deixado de lhes dar atenção, apenas passei a dar um pouco para mim também. Passei a prestar mais atenção ao que me faz bem, ao que me deixa feliz e, isso, os incomodou demais.
Dia desses, eu consegui perceber ainda mais nitidamente o que minha psicóloga quis dizer ao afirmar que mãe, para filho, é uma entidade, quando falei para minha filha que estava sentindo saudades de pegar um bebê no colo e, acrescentei, que estava pensando em ter mais um filho. Ela, literalmente, surtou, disse que não queria de jeito nenhum mais um irmão e, finalizou, dizendo que, além do mais, eu não tinha mais idade para ser mãe. Foi, nesse momento, que descobri que minha filha já me considera uma mulher que deveria apenas se dedicar ao crochê, tricô, bordados ou outras coisas do gênero, pois, como entidade que sou (na visão dela), não posso recomeçar minha vida e retomar minha porção feminina, vivendo sonhos, projetos e, mais precisamente, renascendo para uma nova vida.

Um beijo no coração!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um sonho meu...

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

(Mario Quintana)



Há anos que tenho um sonho recorrente. É sempre a mesma situação, embora em locais diferentes. Nesse meu sonho, eu sempre subo em algum lugar ou objeto sem problema algum, porém, não consigo descer. 
São escadas dos mais diversos tipos: de madeira, de concreto, daquelas dobráveis, aquelas de construção, rolantes, altas, não tão altas, largas, estreitas, enfim, de todos os tamanhos e formas.
São muros de todas as dimensões: alguns são altos, muito altos, outros são baixos, têm aqueles que são extensos, outros muito curtos, têm muros normais, outros excêntricos, afinal, muros de todas as cores, formas e materiais.
Têm, também, andaimes, muitos andaimes, daqueles feitos de tubo de ferro encaixados uns nos outros, formando uma estrutura que pode alcançar alturas impressionantes. Alguns, no meu sonho, são imensuravelmente altos, outros, são da altura dos trepa-trepa dos parques infantis.
Há os barrancos, os morros, os desfiladeiros, montanhas, precipícios, todos assustadores demais.
Até helicópteros se fazem presentes nesses meus sonhos. Alguns sobrevoando a cidade, outros o mar, alguns o interior com seus intermináveis campos cultivados. Existem voos rasantes, como, também, voos em alturas enormes.
Enfim, tem de tudo nesses meus sonhos: telhados, sacadas de prédios, poços de elevadores. Na verdade, tudo o que oferece uma certa altura resolveu fazer parte dos meus devaneios noturnos.
Não importa onde eu tenha subido, subir não é o problema, eu sempre subo sem qualquer dificuldade, seja onde for. Escalo os morros e os desfiladeiros com uma destreza impressionante. Subo as escadas mais altas, em uma tal velocidade, que pareço nunca ter sido acometida pela intensa fadiga que minha companheira de vida, a Esclerose Múltipla, trouxe em sua bagagem. E os andaimes, então? É surpreendente como consigo ir subindo, naquelas estruturas instáveis, sem me deter por um segundo sequer. Entro em helicópteros e não sinto nenhum frio na barriga quando eles alcançam alturas impressionantes para, depois, mergulharem no vazio de um voo rasante.
Subir, seja no que for, não é realmente difícil para mim, o problema verdadeiro é descer. Eu jamais consegui, em todos os sonhos que tive, pois, descer, sempre foi impossível, eu nunca desci, nunca consegui achar um meio de voltar ao chão, apesar de não poupar esforços para tentar regressar ao ponto de partida. 
Olho de cima e não consigo vislumbrar uma forma de descer de onde estou petrificada. Meu corpo todo treme, minhas mãos  ficam geladas, um suor frio escorre pelo meu rosto, minha mente pede socorro em um grito que não chega à minha boca, entro em pânico e fico estática até o momento em que desperto com a terrível sensação de que não superei, mais uma vez, algo que faz eu me sentir estanque, imóvel e profundamente incapaz.
Acordar desses sonhos sempre me deixam profundamente melancólica durante todo o dia que se segue, uma vez que nunca identifiquei o significado de não conseguir retornar ao lugar de onde saí rumo à escalada dos obstáculos que me fizeram refém dos seus topos.
Todavia, hoje, após ter acordado de mais um desses sonhos recorrentes, me deixei ficar, de olhos ainda fechados, repassando mentalmente o que não me permitiu descer de cima do muro em que eu havia subido e, percebi, pela primeira vez, durante todos os anos que esse sonho teima em me visitar constantemente, que o que me impedia de voltar ao chão, era o medo de regressar para a mesma vida que tinha vivido anteriormente à subida rumo a um mundo de possibilidades, até então, desconhecidas para mim.
Depois dessa constatação, abri os olhos, me levantei e comecei o meu dia com a certeza de que, quando esse sonho voltar, eu vou conseguir descer sem dificuldade alguma, uma vez que é impossível voltar para a mesma vida que tive antes de me redescobrir como um ser individual, que tem voz e vontade próprias e que sabe muito bem qual é o seu lugar no mundo. Agora, realmente, me sinto livre para atravessar a porta que se abriu diante de mim e ir rumo a uma nova vida que me espera, de braços abertos, para fazer de mim alguém muito mais feliz.

Um beijo carinhoso!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu me fotografando...


No retrato que me faço
Bete Tezine, Autorretato, 2013.
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!

(Mario Quintana)


Materializar as minhas emoções em meus trabalhos artísticos e expô-los publicamente, embora seja  uma tarefa árdua, não se compara à resistência que sempre tive em expor minha imagem física. Mais do que não gostar de ser fotografada, nunca gostei de ver o resultado, nunca fiquei à vontade em ver alguém observando retratos meus.
Porém, ao ser acometida por uma enfermidade degenerativa e sem cura, a Esclerose Múltipla, fui dominada por uma real sensação de efemeridade. Percebi o quão frágil é a vida e vi a necessidade de rever algumas convicções, de superar algumas deficiências, de ultrapassar barreiras emocionais, de fortalecer meu espírito.
Ironicamente, eu que sempre resisti em expor minha imagem em uma fotografia, tentando preservar-me do que os outros enxergam exteriormente em mim, percebi que daqui a algum tempo minhas pernas poderiam não mais me levar aonde eu queria ir, que minhas mãos poderiam não mais materializar minhas angústias e que meus olhos poderiam nunca mais ver minha imagem refletida em um retrato ou, nem mesmo, em um espelho.
Bete Tezine, Autorretato, 2013
Diante desses sentimentos inquietantes, decidi por tentar superar essa minha resistência em posar para fotografias, produzindo um tríptico de autorretratos como trabalho final pra conclusão do curso de artes plásticas. 
Não dá para afirmar, com total segurança, que apenas a exposição pública desses autorretratos foram suficientes para me fazerem vencer essa barreira de não me permitir ser fotografada, mas, o que posso garantir foi que com a produção deles eu consegui identificar o que me impedia de ficar a vontade diante da câmera fotográfica e, isso, posso afirmar sem receio algum, foi o primeiro passo rumo à superação completa dessa minha dificuldade.
Hoje, passados mais de seis meses da exposição de final de curso, na qual meus autorretratos ficaram expostos à apreciação pública por mais de 30 dias, devo admitir que ainda não fico completamente à vontade diante do foco fotográfico, eu estaria mentindo se afirmasse isso, pois, ainda me sinto como se estivesse interpretando um papel que não é meu, como se estivesse vestindo um personagem que não foi escrito para mim. No entanto, já dei um grande passo em direção à total superação dessa minha deficiência, uma vez que já possuo mais fotografias minhas nesse período, do que possuí durante o restante de toda minha vida.
Bete Tezine, Autorretato, 2013.
Ainda resisto em fazer pose para que alguém me fotografe, ainda me sinto como que engessada, mas, consegui encontrar uma maneira de eu mesma me fotografar e, assim, tenho me permitido relaxar no momento do clique. Na verdade, ainda estou presa aos autorretratos, mas, sei que vou conseguir, em um futuro próximo, me soltar, também, diante das lentes das câmeras de alguém e, ai sim, poderei dizer que a superação foi completa.
Por tudo isso, mais do que superar a repulsa em posar para fotografias, desenvolver um autorretrato é superar deficiências emocionais arraigadas há tempo suficiente para que eu não me lembre do momento em que se apossaram de mim. Produzir um autorretrato é fortalecer minha mente. Expor ao público minha imagem é fortalecer meu espírito.

Um beijo em processo de superação...

sábado, 5 de janeiro de 2013

Vamos ao pilates...






mens sana in corpore sano






Assim que minha neurologista levantou a suspeita de que eu era portadora de Esclerose Múltipla, antes mesmo de fechar o diagnóstico, ela me recomendou a prática de alguma atividade física. Passando, em seguida, à análise de algumas atividades às quais eu poderia me dedicar e , em todas elas, havia um senão por conta das minhas condições físicas.
Iniciou a lista pela caminhada diária, aos menos 30 minutos por dia, porém, eu tenho no tornozelo esquerdo, 10 pinos e uma placa de metal por conta de uma fratura sofrida há 5 anos atrás. Parece tempo suficiente para que tenha havido uma completa recuperação, no entanto, não é bem o que acontece, pois, nas palavras do meu médico, eu atingi o grau máximo de restabelecimento, haja vista a gravidade do que me ocorreu. Foram duas fraturas e rompimentos de todos os ligamentos e tendões, o que resultou em inchaço e dor crônicos que, infelizmente, me causam bastante limitação para andar. Por esse motivo, a caminhada foi descartada.
Em segundo lugar, minha médica citou a hidroginástica, no entanto, dois agravantes fizeram com que essa atividade fosse logo deixada de lado: minha fobia por água e as piscinas aquecidas, tendo ela me explicado que portadores de Esclerose Múltipla não podem ficar expostos ao calor e, dificilmente, eu encontraria um lugar em que a piscina não tivesse aquecimento.
E, assim, todas as atividades que foram sendo lembradas encontrou um obstáculo, ora era por conta do aquecimento corporal, ora pela condição do meu  tornozelo, ora pela minha limitação física por conta da fadiga exacerbada. 
Por fim, eu me lembrei de um artigo que havia lido em uma revista sobre os benefícios do pilates e comentei isso com minha neurologista. Ela, imediatamente, concordou que era a melhor opção para mim, me recomendando iniciar imediatamente e ir aumentando a frequência às aulas, aos poucos, a fim de adaptar meu corpo à atividade física.
Foi assim que, em fevereiro de 2012, eu comecei a frequentar as aulas de pilates ministradas por uma fisioterapeuta que, desde o início, sempre adequou os exercícios às minhas necessidades e condições físicas, bem como à tentativa de reversão da maior sequela deixada pela Esclerose Múltipla em meu corpo: a perda de força do braço e perna esquerdos.
Desse modo, após quase 1 ano de frequência às aulas de pilates, 3 vezes por semana, posso assegurar que os benefícios que ele trouxe para o meu corpo são imensuráveis. Ganhei flexibilidade, pois minhas articulações estavam, literalmente, travadas; recuperei boa parte da força que havia perdido; ganhei mais resistência física, pois não fico mais ofegante quando subo escadas, por exemplo; além de tonificar a musculatura.
Contudo, devido às festas de final de ano, o estúdio em que faço as aulas, ficou fechado por 15 dias e eu, nesse período, não me exercitei e, hoje, ao retornar, senti nitidamente  como mesmo poucos dias inerte podem causar um verdadeiro "estrago"  em nosso corpo. Senti dificuldade para executar todos os movimentos propostos, pois, minhas articulações enrijeceram consideravelmente nesses poucos dias, minha perda de força estava mais acentuada e os espasmos musculares se fizeram mais presentes. 
Por conta disso, eu prometi a mim mesma que, toda vez que eu ficar impossibilitada de frequentar as aulas por alguns dias, eu irei fazer, aos menos, alguns alongamentos em casa, a fim de manter meu condicionamento físico em níveis adequados até ser possível meu retorno ao estúdio.
Então, vamos ao pilates...

Um beijo tonificado!


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Minha escrita...



Eu escrevo para mudar o conceito de escrita. Eu escrevo pela falta de conceitos.
Eu não quero escrever por me sentir pequena demais, não tenho razões. Tenho impulsos que me levam a gastar canetas no lugar de lágrimas e papel ao invés de sofrimento.
Eu gosto da magia de descrever o que os olhos fogem da obrigação de dizer.
Escrever aproxima do céu.

(Verônica H.)



Desde criança, colocar minhas ideias sobre uma folha de papel nunca foi problema para mim, muito pelo contrário, sempre tive facilidade em derramar minhas emoções em forma de escrita.
Os que são contemporâneos meus, devem lembrar das comemoração cívicas nas escolas impostas pelo regime militar. Comemoravam-se todas as datas importantes registradas nos calendários, como independência do Brasil, dia do índio, proclamação da república e por ai vai. Nessas comemorações, além do Hino Nacional e do Hino da Escola, impreterivelmente, haviam apresentações de jograis e leituras de textos, tanto os que já estavam prontos na literatura, quanto os escritos pelos alunos e professores. Invariavelmente, ano após ano, eu fui encarregada de escrever ao menos um texto para ser apresentado nas diferentes datas comemorativas.
Assim, o tempo passou, eu cheguei ao Ensino Médio (naquela época o Colegial) escrevendo continuamente para os diversos tipos de eventos que ocorriam na minha escola. 
Daquela época, ainda tenho bem nítido na minha lembrança, a professora Mabel que lecionava uma disciplina chamada, se não me falha a memória, PIP - Programa de informação profissional, e que sempre me aconselhava a seguir a carreira jornalística, haja vista o meu entrosamento com a escrita. 
O tempo passou e, por uma série de circunstâncias, a minha vida tomou um rumo em que a escrita ficou arquivada por anos a fio, uma vez que eu não tinha mais razões para escrever nada além de cartas comerciais e alguns cartões de boas festas. Vale dizer que não segui a carreira jornalística e acabei, muitos anos depois do término do ensino médio, enveredando pelo estudo do Direito, sendo que, durante todo o curso, produzi boas peças processuais, mas, aquela escrita dos meus tempos de escola, continuou trancafiada em algum cantinho do meu cérebro.
Mais uns anos se passaram, o Direito, também, foi arquivado e acabei por realizar um sonho antigo: cursar uma faculdade de Artes Plásticas. Durante todo o curso, a expressão dos meus pensamentos e sentimentos por meio da escrita foi transparecendo, timidamente, nas justificativas para os trabalhos práticos desenvolvidos. Ao término da faculdade, meu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, nada mais foi, como o próprio título dizia, um retrato de mim. Nele, deixei fluir toda a minha essência interior e, por meio da escrita, talvez muito mais que pelo trabalho prático, produzi meu autorretrato.
Todavia, após o final do curso, já tendo sido diagnosticada como portadora de Esclerose Múltipla, eu me vi sem motivação para prosseguir minha caminhada, me senti completamente só, sem perspectiva alguma e me deixei levar pela autopiedade e pela desilusão com a minha própria vida. Me faltavam forças para reagir e prosseguir com minha história.
Desse modo, me deixei ficar em um real estado de inanição por quase 60 dias, mas, felizmente, eu emergi da apatia que me consumia em tempo de não me tornar refém permanente da falta de confiança em mim mesma e, decidi, após muito pensar sobre o assunto, usar a habilidade que descobri ainda criança, para por para fora de mim minhas inquietações como portadora de Esclerose Múltipla e, muito mais, as que carrego comigo 
como ser humano que sou. 
Foi, assim, que esse blog tomou forma, primeiramente na minha mente, para, depois, ganhar um corpo real e receber em seus posts, todas as minhas mazelas, dores, angústias, apreensões, expectativas, alegrias, vitórias, conquistas, superações, decepções... afinal, tudo o que tenho vivido ao longo de toda minha vida, antes e depois de me descobrir "esclerosada". 
Hoje, depois de mais de 4 meses do início do blog e, contando com este, 103 posts publicados, posso dizer, seguramente, que a escrita me salvou de uma depressão e de um mergulho, sem volta, na autocomiseração e na falta de amor próprio. 
Não sei dizer se o que escrevo faz sentido para alguém, além de mim mesma, mas, minhas palavras, nada mais são do que a tradução da parte mais íntima e profunda do meu ser. São, literalmente, um retrato de mim.

Um beijo por escrito!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Resoluções de ano novo

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)



Hoje, é o primeiro dia do ano que, tenho certeza, será o ano da minha vida, será o ano em que vou concretizar vários dos sonhos que tenho sonhado ao longo dos anos que já vivi.

Não vou fazer uma lista de resoluções de ano novo, não vou fazer promessas que, sei, muitas não irei cumprir, não vou mesmo. Mas, vou discorrer, brevemente, sobre algumas coisas que, tenho certeza, irão acontecer comigo durante o ano que se inicia hoje.
Eu vou escrever um livro, talvez dois, se tiver tempo e a mente ajudar, pois, quem tem como companheira diária a mesma enfermidade que eu - a Esclerose Múltipla - sabe bem que, muitas vezes, a fadiga mental nos acomete e as ideias não fluem como deveriam, mas, vou me empenhar, ao máximo, para que esse sonho se torne realidade nesse ano de 2013. Tenho ideias fervilhando na cabeça e, apenas, esse espaço do blog, não está mais me sendo suficiente. Preciso ver as divagações sobre minhas inquietações como portadora de Esclerose Múltipla e, principalmente, como ser humano que busca seu lugar no mundo, estampadas nas páginas de um livro.
Também, vou me permitir maiores demonstrações de afeto. Vou mostrar para todos aqueles que são importantes, para mim, o quanto eu necessito das suas presenças na minha vida. 
Quero poder ficar horas olhando , apenas olhando, para as pessoas que eu amo; para a chuva que cai de mansinho; para as nuvens que se camuflam em formas de algodão; para a lua que,  de longe, inspira os corações apaixonados; para as ondas do mar que arrebentam na praia; para as estrelas que pontilham o céu; para o por-do-sol nas tardes quentes de verão; para as árvores desfolhadas no outono e para as flores desabrochando durante a primavera. Quero olhar, sem pressa, para os pássaros pousados nos galhos das árvores e para o beija-flor que beija a flor de flor em flor... 
Como eu quero sentar na grama, em uma manhã de domingo, e ficar olhando crianças correndo de um lado para o outro, cachorros perseguindo uns aos outros, bolas rolando, gritos, risadas, choros, também, por que não? Choros de crianças, quando não são de sofrimento, mas, apenas de manha, me enchem o coração de ternura. 
Quero ouvir a mesma música, aquela que me diz muito de mim mesma, um milhão de vezes, até gravar a letra e a melodia dentro da minha memória. 
Eu quero tanta coisa nesse ano, tantas coisas que ainda não vivi, mas, que sei que posso viver, como aprender a dançar... já me vejo rodopiando amparada por braços fortes; como aprender a andar de bicicleta... é verdade, eu ainda não sei andar de bicicleta, parece inacreditável, mas, é a mais pura realidade.
Enfim, o que quero durante 2013, na verdade, nada mais é que viver, viver intensamente, viver simplesmente, me permitindo fazer coisas simples, mas que, nas suas simplicidades, me trarão uma satisfação pessoal imensurável. O que quero, realmente, é sentir a vida pulsar, vida viva, vida repleta de cor.

Beijos resolutos!