Edvard
Munch, O grito, 1893.
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Todo mundo é capaz de dominar uma dor,
exceto quem a sente.
(William Shakespeare)
Todos nós, em um ou outro momento da vida, somos acometidos por dores, sejam físicas, emocionais, espirituais e, muitas vezes, mais de uma por vez.
Se me perguntassem qual é a dor que mais dói, eu não exitaria em responder que é a minha. Não importa o seu tamanho, não importa sua dimensão, não importa sua intensidade, a minha dor será sempre a maior porque é em mim que ela dói. E isso não é questão de egoísmo, de supervalorização dos meus problemas em detrimento do problema alheio. Longe disso, apenas, a nossa dor quem a sente somos nós, por mais que recebamos apoio e solidariedade, é em nós que ela lateja, é em nós que ela provoca feridas do corpo e da alma, motivo pelo qual eu me reservo o direito de poder valorizar a minha dor, de poder falar sobre ela sem que seja tida como uma pessoa fraca, como alguém que se sente o centro do mundo.
Aliás, esse é um direito de todos, de todos que estão passando por momentos dolorosos em suas vidas. Cada ser é único e, como tal, cada um vivencia suas dificuldades da sua forma, da sua maneira.
Tenho tido contato com muitas pessoas que, como eu, também são portadoras de Esclerose Múltipla e, a cada dia, percebo quantas dificuldades existem para cada uma delas. Dificuldades de todos os tipos, desde as sequelas físicas que provocam limitações e dores indescritíveis, até as dores emocionais que, na maioria das vezes, são as que mais doem.
Tenho sempre tentado respeitar a dor de cada uma delas, dando-lhes uma palavra de compreensão, dizendo eu te entendo, meu amigo, pois o que menos precisamos em momentos como este é de piedade. Queremos apenas sermos ouvidos. Queremos, tão somente, que a nossa dor seja respeitada independentemente de ser maior ou menor do que as das demais pessoas.
É nesse ponto que, tento fazer prevalecer em mim, os ensinamentos de Rubem Alves quando fala da arte de saber ouvir, pois não há nada que possa nos ser mais maléfico do que sentir que nossa dor está sendo minimizada em função da dor do outro. A dor de cada um foi feita pra ser respeitada e quando não podemos compartilhar dela, devemos, ao menos, dar-lhe a devida importância. Tudo o que quem está passando por momentos de angústia não precisa ouvir é a terrível fala: Ah! Mas isso que você está passando não é nada, sofrimento mesmo é o de...
É claro e evidente que cada um de nós sabemos que existem sofrimentos intangíveis, dores imensuráveis que, quando comparadas às nossas, faz com que o que sentimos seja realmente insignificante. Porém, esse não é o caminho para que a dor seja superada, muito pelo contrário, quando deixamos de viver os nossos lutos, pelo tempo necessário, as dores se tornam crônicas, em especial as dores da alma.
Com isso, não quero dizer que tenhamos de viver indefinidamente mergulhados em nossas dificuldades e melancolias, pois há tempo de chorar, tempo de sofrer, mas, há também, tempo de sorrir, tempo de amar, tempo de viver e ser feliz.
Assim, é imprescindível que nos permitamos vivenciar nossos momentos de dor pelo tempo que seja necessário para cicatrizar as feridas abertas por ele, nem menos, nem mais, pois, se assim não for, estaremos fadados a nos tornar escravos de nossas próprias amarguras e isso fará de nós as pessoas mais infelizes do mundo.
Para terminar, deixo um vídeo de uma música do saudoso Raul Seixas que, nos momentos em que penso em sucumbir às minhas mazelas físicas ou emocionais, sempre me lembro da letra e tento retomar minha vida, à minha maneira, sem deixar que a tristeza faça parte por tempo demais dos meus dias.
Um beijo carinhoso!
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