terça-feira, 18 de setembro de 2012

Declaração de amor ao Rebif


Bete Tezine, Ouro líquido, 2012. 
Arte objetual, 40 x 40 cm.








Tudo é amor.
Até o ódio, o qual julgas
ser a antítese do amor,
nada mais é senão o próprio amor
que adoeceu gravemente.

(Chico Xavier)








Ouro líquido (detalhe)



Dia desses eu falei sobre a solidão que sinto nos dias da injeção de Rebif. Falei, também, que era um sentir-se só, nada mais. Eu e a minha seringa, ninguém mais.
Todavia, essa solidão, está longe de ser uma solidão que me faz ser solitária. Nada disso. É uma solidão compartilhada por nós duas, eu e a seringa, ninguém mais.
Desde que o Rebif, repentinamente, entrou na minha vida com claras intenções de ficar ao meu lado por tempo indeterminado, travei com ele uma relação de amor e ódio.
Amor, pois é ele quem tem mantido minhas lesões sob controle. É ele quem tem postergado a possibilidade de uma sequela grave. São minhas injeções semanais que fizeram com que a Esclerose Múltipla ficasse quietinha, adormecida, em um cantinho qualquer do meu sistema nervoso central, sem dar o ar da sua graça. Penso até que ela está com ciúmes dessa nossa intensa relação, preferindo olhar de longe, para não correr o risco de ser rejeitada e ouvir que entre nós dois, eu e o Rebif, não há lugar para ela.
Mas, na mesma intensidade que sinto amor por ele, sinto ódio, também... Ódio intenso, ódio que, conforme Chico Xavier, nada mais é que o amor que adoeceu gravemente. Temos um caso de amor passional, daqueles intensos, em que os tapas são constantes, mas que a reconciliação é certa. 
Ele me maltrata, machuca meu corpo, fragiliza minha alma, me causa dores, calafrios, vertigens, porém, devo confessar, minha vida, depois que o conheci, nunca mais será a mesma. Temos conflitos, desentendimentos, antagonismos até, mas, compartilhamos de uma cumplicidade plena, entendemos um ao outro, ficamos sozinhos um com o outro, ninguém mais. 
Amo-o, mas o odeio. Simples assim...
Por isso mesmo, venho a público, para fazer uma declaração de amor, para dizer o quanto necessito de você na minha vida. Sei que às vezes faço birra, esperneio, choro, grito mesmo com você, contudo, as nossas brigas só servem para nos aproximar ainda mais.
Assim, quero dizer apenas mais uma coisa: Rebif, não dá mais para viver sem você!

Um beijo repleto de amor!




2 comentários:

  1. Inteligente e criativo, que bom transformar em poesia e literatura. Tenho vontade de fazê-lo. Uso só a D. mas ainda não me sinto dominada pela inspiração a ponto de transformar minha EM em versos...rsrs. Parabéns

    ResponderExcluir
  2. Olá Anônimo!

    Transformar nossas dores e angústias em versos, muitas vezes, no livra de dores muito maiores!

    Beijos

    ResponderExcluir