A Persistência da
Memória, Salvador Dalí,1931.
Óleo sobre tela, 24 cm × 33 cm.
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Não, Tempo, não zombarás
de minhas mudanças!
As pirâmides que
novamente construíste
Não me parecem novas,
nem estranhas;
Apenas as mesmas com
novas vestimentas.
(Shakespeare)
Perca pouco mais que três minutos do seu tempo e assista o vídeo abaixo:
Durante toda minha vida adulta fui acometida pela síndrome da falta de tempo, se é que ela existe, mas, se não existir, é a denominação correta para o que eu sentia.
Nunca tinha tempo para fazer coisas que me dessem prazer e, aquelas das quais não podia me isentar de realizar, eram feitas aceleradamente, sempre correndo, sempre indo contra o tempo.
Tudo o que me fizesse perder alguns poucos minutos já era motivo para fazer com que meu coração disparasse, minha boca secasse e meu cérebro começasse a mandar para o meu corpo constantes mensagens, dizendo a ele: você está perdendo tempo, está perdendo tempo, perdendo tempo, tempo, seu tempo, seu tempo está sendo perdido, olha o tempo, quanto tempo está sendo perdido....
Em resposta a isso, todo meu corpo entrava em um estado de ansiedade tamanha, que eu sentia, muitas vezes, como se estivesse próxima a um colapso nervoso.
Não importava o que fosse que me levasse a ter de esperar, fosse no trânsito, na fila de um banco ou supermercado, na recepção de um consultório médico, na reunião da escola dos meus filhos, uma visita, uma vizinha que me abordasse na porta de casa. Não importava a situação, a espera, por mais ínfima que fosse, me fazia, literalmente, adoecer.
Porém, quando a Esclerose Múltipla entrou na minha vida, ela chegou para mim, em um tom compassado, um tom que eu não estava acostumada a ouvir, e me disse com voz branda: agora, você terá de reservar um tempo em sua vida para mim e, junto comigo, terá de ter tempo para você também.
Logo de início, um profundo estranhamento se apossou de mim, eu me recusei, terminantemente, a deixar que a doença ditasse regras para minha vida, tentando, assim, continuar vivenciando a minha síndrome da falta de tempo. Mas, não deu. A Esclerose Múltipla, vendo que eu não estava nem um pouco disposta a lhe dar ouvidos, foi logo se mostrando a que veio: fazer de mim uma pessoa mais normal, menos estressada, mais paciente, mais preocupada com coisas que realmente valham a pena.
Não tenho a pretensão de ser demagoga a ponto de afirmar que minha vida é muito melhor hoje do que antes do diagnóstico da enfermidade. Isso, não. Estaria faltando com a sinceridade comigo mesma, pois, poderia ter encontrado a cura para a síndrome que me acometia sem que fosse preciso vivenciar toda a angústia de se descobrir acometida por uma enfermidade, até então, incurável.
Porém, como por mim mesma não fui capaz de visualizar a urgência da necessidade de mudar esse segmento da minha vida, além de outros, pois esse foi apenas um deles, foi necessário que a própria vida se encarregasse da correção dessa minha deficiência.
Então, mesmo a contragosto, me vi obrigada a desacelerar, a reservar tempo para coisas que antes achava impossível. Hoje, tenho tempo para ir às aulas de pilates, para fazer psicoterapia, para parar no portão de um vizinho e lhe desejar bom dia. Tenho tempo para perder uma hora na sala de espera da minha neurologista quando vou a uma consulta. Consegui tempo, também, para dispensar horas de minha atenção em uma conversa com um amigo. Tenho tempo para pintar uma tela, para fazer um bordado, para comer sem pressa, ouvir uma música, ler um bom livro, pintar minhas unhas, escovar os cabelos. Tenho tempo para saborear um sorvete, comer uma maçã, assistir um filme, à tarde, na televisão. Tenho tempo para compartilhar meus sentimentos, escrever sobre minhas inquietações.
Arranjei tempo, também, para ouvir, sem pressa, o desabafo daqueles que precisam de mim. Sem pressa nenhuma, ouvindo palavra por palavra, deixando que o outro fale, sem interromper, porque, hoje, eu tenho tempo.
Um beijo com todo o tempo do mundo!
Nunca tinha tempo para fazer coisas que me dessem prazer e, aquelas das quais não podia me isentar de realizar, eram feitas aceleradamente, sempre correndo, sempre indo contra o tempo.
Tudo o que me fizesse perder alguns poucos minutos já era motivo para fazer com que meu coração disparasse, minha boca secasse e meu cérebro começasse a mandar para o meu corpo constantes mensagens, dizendo a ele: você está perdendo tempo, está perdendo tempo, perdendo tempo, tempo, seu tempo, seu tempo está sendo perdido, olha o tempo, quanto tempo está sendo perdido....
Em resposta a isso, todo meu corpo entrava em um estado de ansiedade tamanha, que eu sentia, muitas vezes, como se estivesse próxima a um colapso nervoso.
Não importava o que fosse que me levasse a ter de esperar, fosse no trânsito, na fila de um banco ou supermercado, na recepção de um consultório médico, na reunião da escola dos meus filhos, uma visita, uma vizinha que me abordasse na porta de casa. Não importava a situação, a espera, por mais ínfima que fosse, me fazia, literalmente, adoecer.
Porém, quando a Esclerose Múltipla entrou na minha vida, ela chegou para mim, em um tom compassado, um tom que eu não estava acostumada a ouvir, e me disse com voz branda: agora, você terá de reservar um tempo em sua vida para mim e, junto comigo, terá de ter tempo para você também.
Logo de início, um profundo estranhamento se apossou de mim, eu me recusei, terminantemente, a deixar que a doença ditasse regras para minha vida, tentando, assim, continuar vivenciando a minha síndrome da falta de tempo. Mas, não deu. A Esclerose Múltipla, vendo que eu não estava nem um pouco disposta a lhe dar ouvidos, foi logo se mostrando a que veio: fazer de mim uma pessoa mais normal, menos estressada, mais paciente, mais preocupada com coisas que realmente valham a pena.
Não tenho a pretensão de ser demagoga a ponto de afirmar que minha vida é muito melhor hoje do que antes do diagnóstico da enfermidade. Isso, não. Estaria faltando com a sinceridade comigo mesma, pois, poderia ter encontrado a cura para a síndrome que me acometia sem que fosse preciso vivenciar toda a angústia de se descobrir acometida por uma enfermidade, até então, incurável.
Porém, como por mim mesma não fui capaz de visualizar a urgência da necessidade de mudar esse segmento da minha vida, além de outros, pois esse foi apenas um deles, foi necessário que a própria vida se encarregasse da correção dessa minha deficiência.
Então, mesmo a contragosto, me vi obrigada a desacelerar, a reservar tempo para coisas que antes achava impossível. Hoje, tenho tempo para ir às aulas de pilates, para fazer psicoterapia, para parar no portão de um vizinho e lhe desejar bom dia. Tenho tempo para perder uma hora na sala de espera da minha neurologista quando vou a uma consulta. Consegui tempo, também, para dispensar horas de minha atenção em uma conversa com um amigo. Tenho tempo para pintar uma tela, para fazer um bordado, para comer sem pressa, ouvir uma música, ler um bom livro, pintar minhas unhas, escovar os cabelos. Tenho tempo para saborear um sorvete, comer uma maçã, assistir um filme, à tarde, na televisão. Tenho tempo para compartilhar meus sentimentos, escrever sobre minhas inquietações.
Arranjei tempo, também, para ouvir, sem pressa, o desabafo daqueles que precisam de mim. Sem pressa nenhuma, ouvindo palavra por palavra, deixando que o outro fale, sem interromper, porque, hoje, eu tenho tempo.
Um beijo com todo o tempo do mundo!
Minha teoria é de que quando corremos muito e não damos ouvidos ao nosso coração o corpo para para nos fazer valorizar a pausa. Eu tive que fazer uma pausa grande, um imenso parenteses na minha vida no momento em que mais corria. Acabei me entendendo mais, valorizando mais a vida. Na época a experiência até virou poesia: http://maisumaamelie.blogspot.com.br/2010/06/pausa.html Bjkas
ResponderExcluirOi Damiana! Fico feliz de te ver aqui novamente, é mesmo uma honra. Infelizmente, querida amiga, na maioria da vida não fazemos a pausa necessária para ter uma vida plena, assim, a própria vida se encarrega de fazê-la e, nem sempre da maneira mais agradável a nós. Mas, tudo tem um por quê e cabe a nós descobri-lo.
ResponderExcluirUm beijo
Bete
Olá Drika!
ResponderExcluirCom certeza, precisamos refletir sobre o nosso tempo e sobre a nossa forma de administrá-lo. Confesso que não tem sido fácil, mais tenho conseguido dispensar tempo às coisas que são realmente importantes para mim e, para as demais, dedico apenas alguns minutos meus.
Beijo e que bom te ver por aqui de novo