sábado, 23 de novembro de 2013

Agradar a todos? Impossível!

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.



Quem vive tentando agradar a todos morre desagradado por não ter conhecido os próprios anseios. 

(Mael Castelare)






Desde criança, sempre senti uma urgente necessidade de agradar a todos. Como me custava perceber que por uma ou outra razão, na sua grande maioria alheias à minha vontade, eu tinha decepcionado alguém!
Eu me esforçava além do aceitável, sufocava meus próprios anseios, nunca dizia não para o que quer que fosse, mesmo que dizer sim significasse ir de encontro ao que me faria bem, apenas para não causar frustração em alguém.
Engoli tantos sapos que não sei como não morri engasgada com um!
Engoli tantas lágrimas que a falta de deixá-las cair me fez ganhar peso corporal!
Pedi tantas desculpas por algo do qual eu não tinha culpa que minha visão de mim mesma ficou deturpada!
Me dei tanto aos outros que esqueci de me dar um pouco a mim mesma!
Fui tão dos outros que adoeci...
Mas, como tudo na vida tem dois lados, foi a doença que tem me feito, aos pouquinhos, bem aos pouquinhos, confesso, perceber que não tenho de me violentar a fim de que os outros me aprovem. Confesso que estou longe do que seja ideal para mim, mas, dia-a-dia, vou me desatrelando de sentimentos pejorativos, de falta de autoestima, da necessidade doentia de ser perfeita ao olhar alheio.
Aliás, quem é perfeito? Quem consegue agradar a todos o tempo todo? Quem consegue ser feliz abrindo mão das próprias vontades a fim de não decepcionar ninguém?
Pois bem, eu imaginei que seria feliz assim e só colecionei dores e lágrimas...
Infelizmente, as pessoas não se contentam com um pouco de nós. Aprendi, depois de muitas pancadas, que quando nos doamos por completo, nunca é suficiente, se damos nossos sorrisos, querem nossas lágrimas, se damos nossas alegrias, querem nossas dores... O ser humano é uma espécie complexa e egoísta, da qual bem poucos se salvam deste estigma. 
Aprendi, com o passar do tempo, também, que pessoas, em nome de uma pretexta sinceridade, nos falam o que querem, nos dilaceram, nos jogam no chão para depois ficarem assistindo, de camarote, a nossa tentativa de recolher nossos próprios cacos. 
Fere-se, magoa-se, maltrata-se, pede-se desculpas, fere-se de novo, maltrata-se novamente, desculpa-se mais uma vez e este círculo vicioso vai perdurando até que chega o momento em que percebemos que, ou nos posicionamos quanto a isso, não nos permitindo mais sermos tão machucados, ou vamos nos tornar tão amargos e vazios que não haverá mais possibilidade alguma de resgate da nossa própria essência.
Quero minha vida de volta, quero meus sorrisos de volta, quero minha paz de alma de volta.. e isso só cabe a mim fazer...
Estou no controle da minha vida e acho que pela primeira vez desde que me entendo por gente... Vou ser feliz, feliz por inteiro e, nada,  nem ninguém, nunca mais vão me definir!

Beijos no coração!

sábado, 16 de novembro de 2013

Voo da fênix...

Descobri hoje um grande poder oculto;
Um dom de fênix para renascer das minhas próprias cinzas,
Bete Tezine, Autorretrato, 2013.
Pintura digital sobre fotografia.
Descobri que a estrada não acabou, ela só tomou um desvio...
“No meio do caminho tinha uma pedra”
Como em todo caminho tem uma perda
Eu dei o melhor de mim, lutei com as armas que sabia lutar
Fui derrotado, eu assumo.
Apenas fui. Não sou. Não serei.
E agora?
Levantarei de novo, quantas vezes for preciso
Não usarei ninguém como espelho
Quero chegar à frente e ver minha própria imagem
O reflexo do que sou, do que fui e do que serei....

(Jefferson Cavalcante)

No dia em que completo 46 anos ou, como diria o poeta, 46 primaveras, parei para refletir um pouco sobre a trajetória pela qual a vida me guiou até o dia de hoje.
Quantas coisas eu vivi! Quantas ideias amadureci, quantas outras descartei e outras tantas agreguei! Quantas verdades desfizeram-se no tempo e quantas outras permaneceram como absolutas!
Na verdade, minha vida tem sido um constante aprendizado, sobremaneira no que tange à forma como passei a olhar para mim mesma nas várias etapas da minha existência. Para cada fase uma visão do mundo!  Para cada período uma leitura das emoções humanas!
Voltei no tempo e me vi, novamente, a adolescente cheia de sonhos e projetos, determinada a seguir meus próprios passos, a chegar ao cume dos meus ideais. Nessa fase eu tinha tantas verdades absolutas, pensava que era quase indestrutível e que nunca permitiria que ninguém ditasse as regras da minha vida. Quanta ilusão, afinal a vida é feita de regras por mais que não queiramos enxergar!
Aos 20 anos, eu já tinha percebido que nem tudo o que eu havia sonhado era passível de ser vivido, pois muitos dos meus sonhos iam de encontro às minhas reais possibilidades. Assim, algumas das minhas verdades absolutas passaram a ser verdades relativas e eu compreendi que não era tão invencível como eu acreditava ser.
Aos 25 anos, fui mãe pela primeira vez. Nossa! Naquele momento percebi o quanto eu teria de mudar minhas convicções acerca de quem eu era e de até onde eu iria. Ser mãe me fez ver que eu não era mais o centro do meu próprio universo, mas por outro lado me abriu as janelas da alma e eu conheci, pela primeira vez na vida, o amor incondicional.
Aos 30 anos, amando incondicionalmente um ser que dependia completamente de mim, abri mão de mais alguns sonhos, não por escolha própria, mas por rumos que a vida tomou sem me dar chance de escolha. Nessa fase, algumas outras das minhas verdades absolutas se mostraram errôneas e fui obrigada a reconhecer que, talvez, seguir meus próprios passos não me levaria aonde eu queria chegar, então, percebi que eu precisava mudar minha trajetória.
Aos 35 anos, já mãe pela segunda vez, agora amando incondicionalmente dois seres que me amavam da mesma forma e com uma reviravolta completa em minha vida, descobri que era muito mais forte do que jamais pude supor e precisei recomeçar do zero, revendo metas, desarquivando sonhos. Foi a primeira vez que tive de plagiar a fênix, renascendo de minhas próprias cinzas.
Aos 40 anos, lutando uma batalha por dia, vencendo umas, perdendo outras, precisei ir reinvento-me dia-a-dia, a fim de manter minha sanidade. Nada foi fácil nessa fase da minha vida, quanto choro derramado, quantos sapos engolidos, quantas dores não doídas, quantos medos aflorados, quantas mágoas reprimidas. Mas, olhando por outro lado, foi nesse período conturbado que morri e renasci tantas vezes que superei a própria fênix na capacidade de ressurreição.
Hoje, com 46 anos, diagnosticada há 21 meses com Esclerose Múltipla, ainda amando incondicionalmente dois seres que já não dependem completamente de mim, tenho suportado todas as adversidades e, por mais que a vida tenha me sacudido, não desabei e posso afirmar, com toda segurança do mundo, que apesar dos percalços, apesar da minha companheira tentar, por diversas vezes, me monopolizar, chego aqui me sentindo mais bonita, mais sábia, mais segura, mais capaz, mais feliz... muito mais feliz! 

Um beijo carinhoso no coração de todos! 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Te quero fora da minha vida, entendeu?






Eu só não quero ser sugada por você. Não hoje. Não mais.


(Resabinar)







Definitivamente, estou cansada de ser esclerosada!
Chega, cansei desta história de acordar pior do que quando fui dormir! Cansei de, depois de uma noite de sono, me levantar com as pernas trêmulas, os braços sem forças até para pentear os cabelos, a fadiga me deixando ofegante ao escovar os dentes! De verdade, cansei disso tudo!
Eu quero ter o comando do meu corpo de volta!
Eu quero poder subir e descer as escadas da minha casa sem me sentir com 150 anos de idade! Eu quero poder arrumar minha cama de manhã sem parecer que a colcha pesa 1 tonelada! Eu quero poder lavar meus cabelos decentemente, sem ter os olhos marejados de lágrimas quando, ao passar o shampoo, perceber que ele está comprido demais para as forças dos meus braços!
Você está me ouvindo, Ilustríssima Senhora Esclerose Múltipla? 
Por acaso está prestando atenção ao que estou dizendo a você agora?
Isso mesmo, é com você que estou falando! É com você que estou revoltada por tudo o que tem feito comigo! 
Não quero mais você na minha vida! Não te quero mais me escravizando e me deixando frágil em todos os sentidos! Não quero mais chorar, como estou chorando agora, por perceber que por mais que eu possa afirmar que não vou me entregar nunca a você, tem momentos que tenho de admitir que você está no comando e isso me desestrutura completamente.
Te quero fora da minha vida, entendeu? 
Será que dá para você me dar uma trégua? 
Será que você não enxerga o quanto é indesejada por aqui?
Você não é capaz de se tocar que nunca vai conseguir seus intuitos por mais que possa parecer que vou me entregar completamente aos seus caprichos?
Eu não te quero mais! Aliás, eu não quero mais nada que me faça mal! Cansei! Cansei mesmo de me deixar ser dominada pelo que me consome! Por isso, fora, fora da minha vida! Chega, me deixa em paz, quero minha vida de volta! 
Quero acordar em um dia quente, como o de hoje e, ao invés de me arrastar para fora da cama como se tivesse 300 kg, ficar feliz por poder contemplar o dia ensolarado e aproveitar o calor para me sentir mais jovem e bonita! 
Quero me olhar no espelho e não ver sua sombra se esgueirando ao meu lado!
Quero poder voltar a ser eu, ser aquela que fui antes de você se dependurar em mim me fazendo suportar seu peso excessivo!
Quero minhas pernas firmes e sem dor! Meus braços capazes de executar minhas tarefas diárias sem um esforço aquém do suportável!
Quero meus equilíbrio físico e emocional de volta! Não quero mais oscilar, parecendo bêbada! Mesmo porque eu não bebo nenhuma gota de álcool sequer! Não quero mais tanto choro por medo da sua bipolaridade! Não quero mais ser um espelho para você! Não quero mais ser seu veículo! 
Eu, realmente, cansei!
Hoje, mais que em todos os outros dias, você conseguiu despertar minha ira e isso, já vou logo te adiantando, não faz bem a nenhuma de nós, portanto, deixe-me em paz e isso não é um pedido, mas sim, uma ordem, entendeu?

Beijos exaustos!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra...




[...]
Mulher é bicho esquisito
Todo mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
[...]

(Rita Lee/Roberto de Carvalho)







Definitivamente, eu tenho tido a confirmação mensal de que menstruação não combina com Esclerose Múltipla, Rebif e, muito menos, com pulsoterapia e pós-surto. 
Todos os meses, durante o período menstrual, todos os sintomas da minha companheira indigesta e as reações que o Rebif provoca em mim são maximizados, de tal maneira, que eu tenho ansiado cada dia mais que a menopausa chegue precocemente, coisa que nunca tinha me passado pela cabeça anteriormente.
Eu sempre tive enxaquecas e como já escrevi em um outro post, durante a TPM, ela fica muito pior e nos dias em que coincidem menstruação e Rebif, além das dores de cabeça insuportáveis, sinto dores horríveis nas pernas, a fadiga beira a níveis insuportáveis, fico fraca e emotiva demais, além de vez ou outra, como este mês, ter cólicas que mais parecem que estou prestes a ter um filho de parto normal.
Tudo isso que sinto mensalmente está sobremaneira acentuado neste mês em que meu organismo está sendo bombardeado pelos corticóides devido ao meu surto primaveril, o que está me deixando,  literalmente, prostrada. 
O Surto enfraqueceu demais meu corpo.
O Corticóide acentuou todos os sintomas do surto e da Esclerose Múltipla antes de desinflamar as lesões.
O Rebif me causa dores de cabeça e pseudogripes.
A menstruação faz tudo ficar muito maior, mais latente, mais doloroso, mais debilitante.
Estou com raiva por ter sido "agraciada" pela vida com uma doença impiedosa.
Estou revoltada por ter de depender de medicações que me causam efeitos colaterais extenuantes.
Estou inconformada por ter de sangrar todo mês e, ainda por cima, ter de ficar vários dias sentindo dores que não cedem com analgésico algum.
Hoje, estou exausta, com dores, com as emoções à flor da pele, com o coração apertado e a alma querendo voar para bem longe de tudo o que estou sentindo. 
Não, não estou querendo morrer, só queria que fosse mais fácil viver com a Esclerose Múltipla dependurada em mim. 

Beijos de um bicho esquisito!