sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Minhas confissões de mãe



Bete Tezine, Guilherme, 2012. Lápis sanguínea
e sépia sobre fotografia, 20 x 30 cm.



A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.

(Luís Fernando Veríssimo)









Bete Tezine, Carol, 2012. Ponta-seca, aquarela
e ecoline sobre fotografia, 20 x 30 cm.

No momento em que, sentada em frente minha neurologista, ouvi dela a confirmação do diagnóstico de Esclerose Múltipla, a sensação que tive foi de que tudo que existia na minha vida, até então, se afastou de mim para dar lugar a um único pensamento: meus filhos.
Foi neles que pensei naquele instante em que perplexidade, medo, ansiedade, alívio até, se mesclaram em um turbilhão de emoções conflitantes e dolorosas. Vi seus rostos e a necessidade que tinham de mim. Naqueles breves instantes, revi em minha memória todos os nossos momentos juntos... me vi grávida... me vi dando a luz a eles... me vi amamentando.... me vi embalando-os em meus braços... revi seus primeiros passos... suas primeiras palavras... o primeiro dia de aula... enfim, fiz uma retrospectiva da minha trajetória como mãe até aquele momento.
A doença me era desconhecida e das muitas várias coisas que me ocorreu naquele instante, acho que a mais assustadora, foi pensar que pudesse me tornar um fardo para os meus filhos, foi imaginar que, ao invés de eu cuidar deles, eles é que teriam de cuidar de mim. Esse pensamento persistiu na minha mente por tempo suficiente para que pudesse me fazer desabar, literalmente, diante da notícia. Posso dizer que foi o momento mais angustiante de todo o processo de descoberta do significado da Esclerose Múltipla nas nossas vidas.
Sai do consultório médico com um gosto amargo na boca, uma sensação de efemeridade que nunca havia sentido tão latente e uma angústia contida, pela responsabilidade de contar a meus filhos sobre a patologia que me acompanhava.
No trajeto até em casa, fui projetando em minha mente uma forma de dar-lhes a notícia sem parecer que estava desabando por dentro. Queria muito encontrar um maneira de dizer-lhes que eu ficaria bem, que só precisaria do amor de cada um deles para conseguir forças para adaptar-me à minha nova situação de vida. Porém, as lágrimas me impediam de me sentir segura quanto a isso, pois sabia que eles ficariam apavorados e que se sentiriam desamparados.
No entanto, meus filhos, meus valiosos filhos, apenas me abraçaram e disseram que tudo ficaria bem, que eles sempre estariam ao meu lado e beijaram meu rosto, enxugando minhas lágrimas. Acho que esse foi um dos momentos mais gratificantes que tive como mãe.
Hoje, alguns meses depois, percebo que a maturidade deles é muito maior do que eu, como mãe extremamente protetora, imaginava. São dois adolescentes, cuja leitura de mundo eu não percebi a real dimensão, talvez por conta da minha visão de que ainda eram minhas pequenas crianças. Eles são, realmente, especiais.
Dia desses, ao receber a pasta de provas de minha filha, me emocionei quando li uma redação feita por ela. Meus olhos ficaram rasos d'água ao perceber que minha menina já tinha traçado alguns planos para sua vida e que eu fazia parte deles. Vou compartilhar, aqui, as palavras dela, tão criança, tão madura.

Trinta anos

Quando completar trinta anos pretendo estar trabalhando, pretendo já ter casado, ter filhos, minha casa própria, meu próprio dinheiro, pois minha mãe diz que depender do marido é uma das piores coisas do mundo.
Com trinta anos, pretendo viajar, ir para a Inglaterra, ou até antes dos trinta. Pretendo ter uma coleção muito grande de livros, pois adoro ler. Pretendo me cuidar muito bem, ser muito bonita e talvez montar um salão de cabeleireiro com minha amiga. Quero ter dois gatos em minha casa, adoro gatos. Quero ter muita saúde, me alimentar bem e ser muito saudável, aliás, quero que todos em minha casa sejam saudáveis. Quero me divertir, sair com amigas, fazer compras, ir a lugares divertidos, quero ter um enorme armário de sapatos e ficar experimentando-os todos os dias. Quero ter uma família bonita, visitar sempre a minha mãe e meu irmão, mas, acima de tudo, quero ser muito feliz!!!

Um beijo de uma mãe emocionada!


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