quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Quando se vê, já é Natal...

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.



Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal...


(Leticia Correa)





Eu não tenho dúvida alguma de que está havendo uma aceleração no tempo. Os dias estão passando rápido demais... os meses se sobrepõem com uma velocidade surpreendente... um natal vai embora e o outro já desponta sem ao menos dos dar tempo para digerirmos os acontecimentos entre um e outro...é, o tempo não para para esperar que assimilemos que ele tem pressa, mas muita pressa mesmo de ficar para trás.
Como sempre faço, ano após ano, hoje me peguei a refletir sobre tudo o que eu vivi entre o natal passado e o dia de hoje e, me perdoem a expressão chula, "PQP", foram coisas demais para uma esclerosada (rsrsrsrsrs)! 
2013 foi o ano da minha ressurreição! E essas não são palavras minhas, mas palavras de alguém que me conhece melhor que eu mesma, de alguém que me enxerga tão intimamente que às vezes até me assusta: minha terapeuta... É, foi ela quem me disse que eu sobrevivi, ou melhor, renasci bravamente dos acontecimentos que se sobrepuseram e quase me fizeram ruir na base. 
Eu balancei, confesso, sofri rachaduras profundas, quase fui condenada à demolição, mas eu preferi restaurar minhas estruturas e retomar o comando da minha vida, deixando de fora dela tudo o que, à primeira vista e sob um olhar parcial e encantado, parecia ser a minha sustentação. Quanta cegueira, quanta mentira, quanta falta de amor próprio! 
Aliviada... mais forte... mais de bem com a vida... mais dona de mim mesma... menos influenciável...  atravessei todos os percalços e barreiras que eu acreditava serem intransponíveis enquanto minha visão estava constantemente turvada pelo choro e, hoje, posso afirmar, com toda a sinceridade do mundo, que o natal que se comemora hoje, está sendo o que mais me trouxe motivos para me encantar com suas luzes, pois me sinto tão livre, tão de posse da minha vida, tão ausente de falsos pudores, tão liberta de falsas convenções sociais, tão eu mesma, tão real na minha forma de viver e encarar a vida, que sinto que só agora, após o 46º Natal da minha vida, eu consegui enxergar, de verdade, toda a beleza e profundidade de ser quem eu sou... esclerosada, madura, em paz com o espelho (não, eu não emagreci, apenas aprendi a me olhar com mais respeito), segura do que é bom ou não para mim, menos manipulável, ou melhor, nada manipulável, feliz, muito feliz!

Feliz Natal e beijos no coração para todos os que enxergam a si próprios como pessoas que merecem e devem ser extremamente felizes!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Psicopatia pura...




Poderíamos dizer que o psicopata é aquela pessoa que sabe a letra da música mas não sente a melodia.

(Ana Beatriz Barbosa Silva)





Um pai espanca a filha de 9 anos, com tal violência, que além de fraturas, a deixa  desmaiada de tantos chutes que lhe desferiu na cabeça...
Antes disso, espanca o sobrinho de 11 anos, deixando-o estirado no chão.
A razão disso tudo?
O primo de 11 anos passou a mão nas nádegas da prima de 9 anos.
Por que tanta violência?
Tudo em nome de uma pretensa forma de educar para que o ato libidinoso entre as crianças nunca mais se repita. No dizer do monstro disfarçado de pai, o sobrinho nunca mais fará isso com outra menina e, a filha, aprenderá a se defender de atos parecidos, pois, se assim não for, ela corre o risco de se transformar em uma prostituta no futuro.
Parece irreal, não parece? 
Eu também estou sem acreditar até agora, mas isso aconteceu com pessoas muito próximas, com as quais eu tinha contato quase que diários. Triste e doloroso demais.
O pai foi preso em flagrante, a filha está hospitalizada há uma semana em estado crítico em todos os sentidos, o sobrinho está se recuperando. 
Agora, o por quê de eu ter trazido essa história repugnante para cá?
Simplesmente, porque ela me fez refletir até onde o ser humano é capaz de ir, usando como justificativa pretensos sentimentos nobres, como amor, preocupação, desejo de educar... Sentimentos esses usados deturpadamente por mentes doentias que envolvem, que manipulam, que usam, que abusam, que fazem pessoas reféns das suas psicopatias.
Eu me preocupo demais com você, então vou controlar todos os seus passos, controlar suas amizades, controlar seus sorrisos, controlar suas lágrimas, controlar suas palavras, controlar a roupa que você usa, controlar você de todas as formas possíveis...
Eu te amo, então vou te escravizar, vou exigir de você toda a sua energia, vou te dizer palavras que te levam ao inferno, mas depois vou me desculpar e você vai aceitar minhas desculpas, com um sorriso nos lábios, porque você sabe do tamanho do meu amor. Vou monopolizar a sua atenção, ter crises injustificadas de ciúmes, vou ser injusta com você, vou te ferir da pior forma possível, mas você não vai deixar de me amar porque sabe que faço tudo isso por excesso de amor a você...
Eu só quero o seu bem, por isso eu vou te dar a melhor educação, vou te espancar quando precisar, vou te ferir moralmente, mas você vai compreender porque sabe que se eu não fizer isso, você vai se perder no caminho e tomar direções erradas, muitas vezes sem volta...
Essas são visões deturpadas do amor, do querer bem, do querer sempre o melhor para o outro. São visões de psicopatas disfarçadas de cônjuges, pais, namorados, companheiros, amigos, irmãos, tios... e por aí vai. Pessoas doentes que deveriam estar sendo tratadas psiquiátrica e psicologicamente, pois representam perigo para os objetos do seu "amor" e da sua obcessão.
Triste demais tudo isso, mas, infelizmente, não conseguimos detectar precocemente o grau de desequilíbrio de pessoas muito próximas a nós, pois, muitas vezes, quando elas dão mostras de que não são sãs, nós temos a tendência de justificar seus comportamentos, até que chega o momento em que a doença mental ou a maldade pura eclode e respinga dor e decepção para todos os lados.
Então, só aí, vemos o quanto fomos manipulados, usados, machucados e, muitas vezes, o estrago é tão grande que apenas muita força, apoio e compreensão serão capazes de resgatar um pouco do que fomos antes disso tudo. Um pouco, sim, porque totalmente eu acredito que não tem mais como ser.

Beijos enlutados pela dor da menina que perdeu a fé naquele que deveria ser seu maior protetor...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Pesos desnecessários...






Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas.. Daqui para frente apenas o que couber no bolsa e no coração.


(Cora Coralina)





Têm pessoas que são tão leves de carregar que mais parecem que são plumas a flutuarem por sobre nossas cabeças. São pessoas de riso fácil, de olhar carismático, de palavras amenas, de ouvidos disponíveis, de visão que enxerga além do que as aparências mostram. Não, não são pessoas perfeitas, longe disso, nem pessoas sem problemas, muito pelo contrário. São pessoas que enfrentam, muitas vezes, até mais dificuldades que as demais. Que vertem lágrimas doloridas,que têm feridas abertas, que têm cicatrizes na alma.
Porém, existem pessoas cujo peso emocional nos transporta para o fundo do calabouço da nossa alma. São pessoas tão pesadas, tão dotadas da capacidade de nos jogar para baixo, que fica difícil manter nossa sanidade ao lado delas. Seus lábios proferem risos sarcásticos, seu olhar transborda ressentimentos, suas palavras são cortantes feito navalha, não sabem ouvir, apenas falar das próprias maledicências que sempre são maiores que as dos demais, vivem das aparências externas e não enxergam nada além do próprio umbigo. 
Por toda a minha vida eu tenho carregado pesos desnecessários, levando na bagagem dores e ressentimentos que não eram meus, lágrimas derramadas por ingratidões que nunca foram minhas, mágoas engolidas pela falta do perdão que outros não deram, olhares de reprovação por coisas que não fiz, palavras ásperas por incompreensões que não foram minhas... 
Me sobrecarreguei de pessoas que não mereciam tanta dedicação minha. Adoeci, esclerosei, surtei, chorei, gritei, deprimi, quase morri de tristeza...
Mas, como nada nesta vida é em vão, como tudo tem uma razão de ser, minha quase morte se mostrou ser a minha real ressurreição. É, isso mesmo, ressuscitei das minhas próprias angústias e percebi que não tenho de carregar mais nenhuma bagagem desnecessária, descobri que não sou responsável pela falta de amor próprio de ninguém, que não sou o paliativo para pessoas adoecidas por mazelas de alma e caráter. Não posso curar ninguém que não deseja a cura real, não posso dar tudo de mim para quem não merece nada, não posso carregar as frustrações alheias, nem ser responsável por atos ensandecidos daqueles a quem um dia dei o meu melhor, mas que apenas me deram desamor de volta.
Eu desisti, ou melhor, esvaziei a mala da bagagem maléfica, uma vez que carregar a Esclerose Múltipla comigo já é um peso aquém das minhas forças, muitas vezes. 
Eu me amo, demorei para aceitar isso, demorei para aceitar que tenho de me amar mais do que a qualquer outra pessoa, a fim de poder dar o meu melhor àqueles que realmente valham a pena. Sem amor próprio eu não amaria nada nem ninguém. 
Minha mala está bem mais leve agora...

Beijos leves no coração de todos! 

sábado, 23 de novembro de 2013

Agradar a todos? Impossível!

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.



Quem vive tentando agradar a todos morre desagradado por não ter conhecido os próprios anseios. 

(Mael Castelare)






Desde criança, sempre senti uma urgente necessidade de agradar a todos. Como me custava perceber que por uma ou outra razão, na sua grande maioria alheias à minha vontade, eu tinha decepcionado alguém!
Eu me esforçava além do aceitável, sufocava meus próprios anseios, nunca dizia não para o que quer que fosse, mesmo que dizer sim significasse ir de encontro ao que me faria bem, apenas para não causar frustração em alguém.
Engoli tantos sapos que não sei como não morri engasgada com um!
Engoli tantas lágrimas que a falta de deixá-las cair me fez ganhar peso corporal!
Pedi tantas desculpas por algo do qual eu não tinha culpa que minha visão de mim mesma ficou deturpada!
Me dei tanto aos outros que esqueci de me dar um pouco a mim mesma!
Fui tão dos outros que adoeci...
Mas, como tudo na vida tem dois lados, foi a doença que tem me feito, aos pouquinhos, bem aos pouquinhos, confesso, perceber que não tenho de me violentar a fim de que os outros me aprovem. Confesso que estou longe do que seja ideal para mim, mas, dia-a-dia, vou me desatrelando de sentimentos pejorativos, de falta de autoestima, da necessidade doentia de ser perfeita ao olhar alheio.
Aliás, quem é perfeito? Quem consegue agradar a todos o tempo todo? Quem consegue ser feliz abrindo mão das próprias vontades a fim de não decepcionar ninguém?
Pois bem, eu imaginei que seria feliz assim e só colecionei dores e lágrimas...
Infelizmente, as pessoas não se contentam com um pouco de nós. Aprendi, depois de muitas pancadas, que quando nos doamos por completo, nunca é suficiente, se damos nossos sorrisos, querem nossas lágrimas, se damos nossas alegrias, querem nossas dores... O ser humano é uma espécie complexa e egoísta, da qual bem poucos se salvam deste estigma. 
Aprendi, com o passar do tempo, também, que pessoas, em nome de uma pretexta sinceridade, nos falam o que querem, nos dilaceram, nos jogam no chão para depois ficarem assistindo, de camarote, a nossa tentativa de recolher nossos próprios cacos. 
Fere-se, magoa-se, maltrata-se, pede-se desculpas, fere-se de novo, maltrata-se novamente, desculpa-se mais uma vez e este círculo vicioso vai perdurando até que chega o momento em que percebemos que, ou nos posicionamos quanto a isso, não nos permitindo mais sermos tão machucados, ou vamos nos tornar tão amargos e vazios que não haverá mais possibilidade alguma de resgate da nossa própria essência.
Quero minha vida de volta, quero meus sorrisos de volta, quero minha paz de alma de volta.. e isso só cabe a mim fazer...
Estou no controle da minha vida e acho que pela primeira vez desde que me entendo por gente... Vou ser feliz, feliz por inteiro e, nada,  nem ninguém, nunca mais vão me definir!

Beijos no coração!

sábado, 16 de novembro de 2013

Voo da fênix...

Descobri hoje um grande poder oculto;
Um dom de fênix para renascer das minhas próprias cinzas,
Bete Tezine, Autorretrato, 2013.
Pintura digital sobre fotografia.
Descobri que a estrada não acabou, ela só tomou um desvio...
“No meio do caminho tinha uma pedra”
Como em todo caminho tem uma perda
Eu dei o melhor de mim, lutei com as armas que sabia lutar
Fui derrotado, eu assumo.
Apenas fui. Não sou. Não serei.
E agora?
Levantarei de novo, quantas vezes for preciso
Não usarei ninguém como espelho
Quero chegar à frente e ver minha própria imagem
O reflexo do que sou, do que fui e do que serei....

(Jefferson Cavalcante)

No dia em que completo 46 anos ou, como diria o poeta, 46 primaveras, parei para refletir um pouco sobre a trajetória pela qual a vida me guiou até o dia de hoje.
Quantas coisas eu vivi! Quantas ideias amadureci, quantas outras descartei e outras tantas agreguei! Quantas verdades desfizeram-se no tempo e quantas outras permaneceram como absolutas!
Na verdade, minha vida tem sido um constante aprendizado, sobremaneira no que tange à forma como passei a olhar para mim mesma nas várias etapas da minha existência. Para cada fase uma visão do mundo!  Para cada período uma leitura das emoções humanas!
Voltei no tempo e me vi, novamente, a adolescente cheia de sonhos e projetos, determinada a seguir meus próprios passos, a chegar ao cume dos meus ideais. Nessa fase eu tinha tantas verdades absolutas, pensava que era quase indestrutível e que nunca permitiria que ninguém ditasse as regras da minha vida. Quanta ilusão, afinal a vida é feita de regras por mais que não queiramos enxergar!
Aos 20 anos, eu já tinha percebido que nem tudo o que eu havia sonhado era passível de ser vivido, pois muitos dos meus sonhos iam de encontro às minhas reais possibilidades. Assim, algumas das minhas verdades absolutas passaram a ser verdades relativas e eu compreendi que não era tão invencível como eu acreditava ser.
Aos 25 anos, fui mãe pela primeira vez. Nossa! Naquele momento percebi o quanto eu teria de mudar minhas convicções acerca de quem eu era e de até onde eu iria. Ser mãe me fez ver que eu não era mais o centro do meu próprio universo, mas por outro lado me abriu as janelas da alma e eu conheci, pela primeira vez na vida, o amor incondicional.
Aos 30 anos, amando incondicionalmente um ser que dependia completamente de mim, abri mão de mais alguns sonhos, não por escolha própria, mas por rumos que a vida tomou sem me dar chance de escolha. Nessa fase, algumas outras das minhas verdades absolutas se mostraram errôneas e fui obrigada a reconhecer que, talvez, seguir meus próprios passos não me levaria aonde eu queria chegar, então, percebi que eu precisava mudar minha trajetória.
Aos 35 anos, já mãe pela segunda vez, agora amando incondicionalmente dois seres que me amavam da mesma forma e com uma reviravolta completa em minha vida, descobri que era muito mais forte do que jamais pude supor e precisei recomeçar do zero, revendo metas, desarquivando sonhos. Foi a primeira vez que tive de plagiar a fênix, renascendo de minhas próprias cinzas.
Aos 40 anos, lutando uma batalha por dia, vencendo umas, perdendo outras, precisei ir reinvento-me dia-a-dia, a fim de manter minha sanidade. Nada foi fácil nessa fase da minha vida, quanto choro derramado, quantos sapos engolidos, quantas dores não doídas, quantos medos aflorados, quantas mágoas reprimidas. Mas, olhando por outro lado, foi nesse período conturbado que morri e renasci tantas vezes que superei a própria fênix na capacidade de ressurreição.
Hoje, com 46 anos, diagnosticada há 21 meses com Esclerose Múltipla, ainda amando incondicionalmente dois seres que já não dependem completamente de mim, tenho suportado todas as adversidades e, por mais que a vida tenha me sacudido, não desabei e posso afirmar, com toda segurança do mundo, que apesar dos percalços, apesar da minha companheira tentar, por diversas vezes, me monopolizar, chego aqui me sentindo mais bonita, mais sábia, mais segura, mais capaz, mais feliz... muito mais feliz! 

Um beijo carinhoso no coração de todos! 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Te quero fora da minha vida, entendeu?






Eu só não quero ser sugada por você. Não hoje. Não mais.


(Resabinar)







Definitivamente, estou cansada de ser esclerosada!
Chega, cansei desta história de acordar pior do que quando fui dormir! Cansei de, depois de uma noite de sono, me levantar com as pernas trêmulas, os braços sem forças até para pentear os cabelos, a fadiga me deixando ofegante ao escovar os dentes! De verdade, cansei disso tudo!
Eu quero ter o comando do meu corpo de volta!
Eu quero poder subir e descer as escadas da minha casa sem me sentir com 150 anos de idade! Eu quero poder arrumar minha cama de manhã sem parecer que a colcha pesa 1 tonelada! Eu quero poder lavar meus cabelos decentemente, sem ter os olhos marejados de lágrimas quando, ao passar o shampoo, perceber que ele está comprido demais para as forças dos meus braços!
Você está me ouvindo, Ilustríssima Senhora Esclerose Múltipla? 
Por acaso está prestando atenção ao que estou dizendo a você agora?
Isso mesmo, é com você que estou falando! É com você que estou revoltada por tudo o que tem feito comigo! 
Não quero mais você na minha vida! Não te quero mais me escravizando e me deixando frágil em todos os sentidos! Não quero mais chorar, como estou chorando agora, por perceber que por mais que eu possa afirmar que não vou me entregar nunca a você, tem momentos que tenho de admitir que você está no comando e isso me desestrutura completamente.
Te quero fora da minha vida, entendeu? 
Será que dá para você me dar uma trégua? 
Será que você não enxerga o quanto é indesejada por aqui?
Você não é capaz de se tocar que nunca vai conseguir seus intuitos por mais que possa parecer que vou me entregar completamente aos seus caprichos?
Eu não te quero mais! Aliás, eu não quero mais nada que me faça mal! Cansei! Cansei mesmo de me deixar ser dominada pelo que me consome! Por isso, fora, fora da minha vida! Chega, me deixa em paz, quero minha vida de volta! 
Quero acordar em um dia quente, como o de hoje e, ao invés de me arrastar para fora da cama como se tivesse 300 kg, ficar feliz por poder contemplar o dia ensolarado e aproveitar o calor para me sentir mais jovem e bonita! 
Quero me olhar no espelho e não ver sua sombra se esgueirando ao meu lado!
Quero poder voltar a ser eu, ser aquela que fui antes de você se dependurar em mim me fazendo suportar seu peso excessivo!
Quero minhas pernas firmes e sem dor! Meus braços capazes de executar minhas tarefas diárias sem um esforço aquém do suportável!
Quero meus equilíbrio físico e emocional de volta! Não quero mais oscilar, parecendo bêbada! Mesmo porque eu não bebo nenhuma gota de álcool sequer! Não quero mais tanto choro por medo da sua bipolaridade! Não quero mais ser um espelho para você! Não quero mais ser seu veículo! 
Eu, realmente, cansei!
Hoje, mais que em todos os outros dias, você conseguiu despertar minha ira e isso, já vou logo te adiantando, não faz bem a nenhuma de nós, portanto, deixe-me em paz e isso não é um pedido, mas sim, uma ordem, entendeu?

Beijos exaustos!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra...




[...]
Mulher é bicho esquisito
Todo mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
[...]

(Rita Lee/Roberto de Carvalho)







Definitivamente, eu tenho tido a confirmação mensal de que menstruação não combina com Esclerose Múltipla, Rebif e, muito menos, com pulsoterapia e pós-surto. 
Todos os meses, durante o período menstrual, todos os sintomas da minha companheira indigesta e as reações que o Rebif provoca em mim são maximizados, de tal maneira, que eu tenho ansiado cada dia mais que a menopausa chegue precocemente, coisa que nunca tinha me passado pela cabeça anteriormente.
Eu sempre tive enxaquecas e como já escrevi em um outro post, durante a TPM, ela fica muito pior e nos dias em que coincidem menstruação e Rebif, além das dores de cabeça insuportáveis, sinto dores horríveis nas pernas, a fadiga beira a níveis insuportáveis, fico fraca e emotiva demais, além de vez ou outra, como este mês, ter cólicas que mais parecem que estou prestes a ter um filho de parto normal.
Tudo isso que sinto mensalmente está sobremaneira acentuado neste mês em que meu organismo está sendo bombardeado pelos corticóides devido ao meu surto primaveril, o que está me deixando,  literalmente, prostrada. 
O Surto enfraqueceu demais meu corpo.
O Corticóide acentuou todos os sintomas do surto e da Esclerose Múltipla antes de desinflamar as lesões.
O Rebif me causa dores de cabeça e pseudogripes.
A menstruação faz tudo ficar muito maior, mais latente, mais doloroso, mais debilitante.
Estou com raiva por ter sido "agraciada" pela vida com uma doença impiedosa.
Estou revoltada por ter de depender de medicações que me causam efeitos colaterais extenuantes.
Estou inconformada por ter de sangrar todo mês e, ainda por cima, ter de ficar vários dias sentindo dores que não cedem com analgésico algum.
Hoje, estou exausta, com dores, com as emoções à flor da pele, com o coração apertado e a alma querendo voar para bem longe de tudo o que estou sentindo. 
Não, não estou querendo morrer, só queria que fosse mais fácil viver com a Esclerose Múltipla dependurada em mim. 

Beijos de um bicho esquisito!

domingo, 27 de outubro de 2013

Não sou perfeita, mas, e daí?

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.


Da Perfeição da Vida 
Por que prender a vida em conceitos e normas? 
O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer... 
Tudo, afinal, são formas 
E não degraus do Ser!


(Mario Quintana)



De repente, acordei numa manhã ensolarada de domingo,  me dando conta de que eu era uma pessoa completamente diferente da que foi dormir no sábado a noite, dopada de tantos analgésicos.
Simplesmente, dormi uma e acordei outra. Não sei exatamente o que houve, mas, se for verdade que durante o sono nosso espírito se desprende do corpo e sai em busca de novas experiências, o meu, durante essa noite que passou, viveu algo que o transformou completamente.
Sim, acordei com pensamentos diferentes no que se refere a mim mesma.
Por anos a fio eu denegri a mim própria: sou gorda, minha inteligência é limitada, doente, incompetente, instável... Era essa a imagem, mesmo que eu não assumisse para os outros, que eu tinha de mim mesma.
Meu corpo, de quase 46 anos, não é mais o mesmo de quando eu tinha 25. Ele ganhou contornos arredondados até demais (não precisava de tanto rsrsrsrs), ganhou vários quilos, mas, e daí? E daí que não sou mais a mulher de 20 anos atrás? A mulher que causava admiração e olhares de cobiça? E daí???? O que importa é o que eu sou agora, pois é esse corpo que minha alma habita e, muito provavelmente, habitará até o dia da minha morte física.
Nunca fui um Einstein em inteligência, mas, e daí? E daí que nunca dominei as ciências exatas e fui capaz de resolver problemas mirabolantes? O que importa é que aprendi o básico e o essencial para saber me comunicar decentemente, me expressar da melhor forma possível, ter sensibilidade suficiente para perceber quando erro e me retratar por isso. O resto, não me importa mais.
Sou doente. Mas acordei hoje percebendo que sou apenas uma doente do corpo, pois minha alma está sã, minha mente está sã, muito embora eu quase as tenha contaminado pelo meu desamor por mim mesma. Tenho Esclerose Múltipla que realmente limita meu corpo. Vez ou outra, como agora, se rebela e acaba por me bombardear com corticóides que me arredondam ainda mais (rsrsrsr). Meu corpo está enfraquecendo, mas, e daí? Eu não sou apenas um corpo, sou muito mais que isso. Sou uma mente, um coração, um espírito e, esses, a Esclerose Múltipla nunca vai tocar porque eu não vou deixar jamais. 
Depois que deixei de exercer qualquer atividade remunerada, passei a me achar a mais incompetente de todas as mulheres. Mas hoje eu descobri que a última coisa que sou é incompetente. Tive de deixar meu trabalho por conta da fragilidade física, sim, mas não deixei de ser esposa, mãe, cozinheira (é certo que não mais com tanta assiduidade), administradora do lar e etc etc etc e, isso, por si só, já é motivo mais que suficiente para que eu receba tudo o que eu preciso para minha subsistência sem me sentir culpada por não ser eu mesma a conquistar.
Instável? Sou sim, mas muito menos do que eu imaginava ser. Tenho meus momentos de choro, de tristeza infinita, mas, também tenho momentos em que consigo trazer alegria aos outros que precisam de mim. Então, e daí que não consigo sorrir o tempo inteiro? Mesmo porque, quem consegue? Saudáveis ou não, todos têm seus dias escuros.
Hoje, eu acordei decidida a não deixar mais que essa visão deturpada de mim mesma prevaleça ditando as regras da minha vida. Eu sou humana, tenho defeitos incontáveis, mas sou real, sou gente e, como tal, tenho direito a erros e acertos, a risos e lágrimas, por isso, nunca mais, mas nunca mais mesmo, vou me permitir me autodepreciar e, muito menos, me deixar ser depreciada por outros como muitas vezes me permiti ser. Não sou perfeita, mas, e daí?

Beijos ensolarados nos corações de todos!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Amores e amigos eternos...





Aprendi que amores eternos podem acabar em uma noite, que grandes amigos podem se tornar grandes inimigos, que o amor sozinho não tem a força que imaginei.

(Shakespeare)







Hoje, durante minha consulta neurológica, minha médica me perguntou como eu andava emocionalmente, pois um dos fatores desencadeantes dos surtos de Esclerose Múltipla era o estresse emocional. A esse questionamento dela eu falei, superficialmente, dos problemas pelos quais passei recentemente. Ela me ouviu e proferiu a seguinte frase: o nosso problema é pensar que amores e amigos são insubstituíveis, que se perdermos um grande amor ou uma grande amizade, jamais encontraremos um novo amor ou um novo amigo, quando na verdade nada é definitivo. No mundo existem mais de 7 bilhões de pessoas, então não é possível que não encontraremos um outro amor ou um outro grande amigo.
Saí do consultório pensativa. Voltei para casa com essa fala ecoando na minha mente e percebi que ela está certa no que disse, por mais que à primeira vista possa parecer que não.
Quantos amores eternos já passaram por nossas vidas?
Quantos melhores amigos, hoje, são apenas uma pálida lembrança?
Quantas vezes pensamos que se aquele grande amor não ficasse em nossa vidas jamais seríamos capazes de amar novamente?
Quantas não foram as ocasiões em que pensamos que nunca mais confiaríamos em alguém como confiamos naquele melhor amigo?
Posso dizer que foram diversas as vezes em que vivenciamos essas situações e, por mais que tenhamos sofrido, por mais que tenhamos mergulhado no fundo do poço da nossa dor pela partida de um grande amor ou a perda de uma grande amizade, sempre acabamos por emergir de volta à superfície, despedaçados, é verdade, mas capazes de recolher nossos cacos e montar nosso próprio quebra-cabeça de novo.

Beijos reflexivos!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

É primavera, outra vez...

A primavera sempre virá
Bete Tezine, 2011.
Colagem sobre fotografia, 25 x 35 cm.







Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.


(Cecília Meireles)












É primavera, outra vez... Não consigo entender bem minha estranha relação com esta estação do ano, mas sei que ela mexe comigo de todas as formas possíveis. Não há primavera que chegue e me deixe como estava. Eu sempre passo por metamorfoses nesse período e, esse que se iniciou há pouco, não está sendo uma exceção.
A primavera de 2013 chegou e me pegou em meio a diversos conflitos emocionais, me pegou fragilizada outra vez, o que escancarou as portas para a Esclerose Múltipla sabotar minhas defesas e se apossar de mim impiedosamente. Sim, estou em surto. Ganhei novas lesões no cérebro como presente primaveril, um verdadeiro presente de grego, mas, é assim que essa malvada age, sempre. 
Há quase duas semanas estou prostrada, de cama, sentindo meu corpo perder, dia-a-dia, as defesas contra os desmandos da Esclerose Múltipla. São tantas vertigens, fraquezas musculares, tremores internos, desequilíbrios, que chego a pensar que desta vez ela está prestes a me vencer. 
Outro dia, ouvi de uma pessoa que não tem Esclerose Múltipla e que nunca me viu pessoalmente, principalmente em dias como estou hoje, que eu sou dramática, que faço da minha vida uma novela, tudo porque jamais escondo o que sinto, não disfarço medos, tristezas, dores, angústias, alegrias, esperanças... sou transparente, mas isso nem sempre é visto com bons olhos, na maioria das vezes é interpretado como forma de autopromoção ou de autovitimização. 
Se isso me incomoda? Por momentos, até que sim, mas depois eu penso que a opinião alheia não interessa, muito menos daqueles que não sabem exatamente quem eu sou e nem convivem, de perto, com uma doença tão imprevisível e debilitante quanto a que tenho. Então, eu tento deletar esse tipo de comentário e seguir minha vida da maneira mais adequada às minhas reais necessidades.
Bem, voltando ao meu surto primaveril, devo confessar que estou realmente amedrontada, pois, nenhum dos outros que tive anteriormente, me deixou tão debilitada quanto este. A falta de energia é tão grande que digitar este texto está sendo um verdadeiro teste de resistência física. Minhas pernas estão se recusando a me levar aonde preciso ir, minha mente está cansando de pensar, meus olhos cansando de enxergar... falar está sendo exaustivo, fico ofegante, me perco no meio da frase, as palavras dançam na minha boca. Confesso, que de todos os medos que a minha companheira já me proporcionou, este está sendo o mais latente de todos. 
Como é difícil ver sonhos sendo arquivados sem possibilidades de realizações. Como é frustrante ter de abrir mão de partes da nossa vida sem ter sido nos dado a chance de escolha. Como é complexo carregar conosco uma enfermidade muitas vezes invisível aos olhares externos, mas que nos incapacita, debilita, amedronta e extenua covardemente. Hoje, muito mais que em outros dias, essa sensação está aflorada, talvez pela data (dia dos professores), talvez por estar olhando o mancebo, repleto de roupas dependuradas, no canto do meu quarto, e eu não ter forças para colocá-las de volta no armário. 
É muito difícil para quem não vivencia a Esclerose Múltipla, seja como portador, seja como alguém muito próximo, entender a real dimensão do que ela provoca em nós que a carregamos, por mais que haja boa intenção.
Então, para os que compartilham da opinião de que assumir os próprios medos e deficiências é fazer drama, deixo um recado: não é falta de otimismo, não é fraqueza, não é autopromoção, não é se fazer de vítima, mas, apenas, minha condição de vida como portadora de uma doença incurável, progressiva e imprevisível que vocês jamais entenderão de verdade. 

Beijos fadigados no coração de todos!

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Memórias de infância...

Minha primeira comunhão em 1977
( eu tinha 10 anos nesta fotografia)







As lembranças da infância são eternas - Fantasmas permanentes, selados, assinados, impressos, sempre visíveis.

(Cynthia Ozick)











Tenho tido falhas de memória. Palavras me escapam no meio de uma fala, comecei a trocar os nomes das pessoas, não lembro onde guardei objetos, esqueço datas de aniversários (coisa que eu nunca fiz até algum tempo atrás), porém, existem algumas lembranças da minha infância e início da adolescência que estão bem vivas, ainda, dentro da minha mente e espero que continuem até o fim dos meus dias.
Eu tinha apenas 3 anos quando meu avô paterno faleceu, no entanto, lembro nitidamente dele sentado sobre um tronco de árvore no fundo do quintal, em meio às verduras que ali cultivava, com sua boina xadrez, fumando cachimbo com o olhar preso às nuvens, pelo menos era o que eu achava enquanto o observava de perto. Lembro do seu bigote farto, dos seus cabelos negros e lisos e da sua pele amorenada pelo sol. Essas são imagens que jamais se perderão, pois eu a desenhei na minha mente com tinta a prova d'água e de Esclerose Múltipla.
Meu irmão tinha cerca de 1 ano quando teve uma grave desidratação e precisou ficar hospitalizado por alguns dias. Naquela época, não existia lei que dava o direito à mãe de ficar com o filho no hospital, então minha mãe ia visitá-lo todos os dias. Trago muito nítido o dia em que ele voltou para casa de alta médica, ele chegou com tanta fome, deve ter estranhado a alimentação do hospital, que minha mãe passou vários minutos dando bolachas molhadas no leite na boca dele. Eu ria de alegria por ele estar de volta. Eu tinha 4 anos quando isso aconteceu.
Minha irmã nasceu quando eu tinha 5 anos. Me recordo que estava na casa da minha avó, brincando com meu irmão que na época tinha 2 anos e um vizinho mais ou menos da minha idade. Estávamos no quarto quando minha avó, apoiando-se no batente da porta, disse alegremente: o bebê nasceu, é uma menina. Passaram uns dias, para mim naquela época foram meses, minha mãe voltou do hospital com minha irmã no colo, toda embrulhada, parecendo um pacote e essa visão eu nunca esquecerei.
Poucas crianças, na década de 70 frequentavam a pré-escola. Foi assim que, em 1975, aos 7 anos de idade, eu fui segurando na mão da minha avó para o meu primeiro dia de aula. Eu ainda não tinha uniforme, então estava com um vestido listrado de amarelo e branco, com botões dourados e bolsos na frente. Nos pés eu calçava uma "legítima havainas" (rsrsrsrsrs) e levava um caderno, um lápis e uma borracha em uma sacolinha de papel. Na hora do recreio, como chamávamos o intervalo para o lanche naquela época, eu comprei um pão doce e uma fanta uva na cantina da escola, me sentindo o máximo. Foi um dia marcante demais na minha vida e, também, está gravado a tinta aqui dentro da minha memória.
Nunca fui boa em matemática, mas, não sei o que aconteceu quando eu tinha 10 anos, que fui considerada a melhor aluna da escola e fui para as olimpíadas de matemática da minha cidade. Eu não ganhei o prêmio, no entanto, durante os dias que antecederam a prova final,  tive muitas regalias em sala de aula (rsrsrsrsrs): fiquei isenta de fazer lições de casa, não precisava fazer cópias, nem quando a sala inteira teve de escrever 100 vezes que não devia jogar papel no chão eu precisei cumprir o castigo. Isso também é uma das lembranças que serão perpétuas, tenho certeza.
Quando eu tinha 11 anos, minha mãe engravidou do meu irmão caçula. Ele nasceu 4 dias antes de eu completar 12 anos e, daquele dia em diante, eu deixei de ser criança. Troquei as bonecas por um bebê de verdade, pois aprendi a dar banho, trocar fraldas, dar mamadeiras e me tornei a babá do meu irmão. Um ano depois, assumi o sustento da casa, mas isso eu já contei em outro post.
Hoje, ao procurar uma fotografia minha de quando criança, fui tomada por uma nostalgia que me trouxe à tona todas essas recordações.  Essas são as lembranças mais marcantes da minha infância, porém, tenho muitas outras, algumas já pálidas, outras ainda bem vivas, algumas alegres, outras tristes, mas cada uma delas é um pedaço do começo da minha história como pessoa. É um ponto na colcha de retalhos da minha vida...

Feliz dia das crianças para todos nós que seremos eternas crianças!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A dor não mente...


A dor não mente
a dor escraviza
martiriza
tiraniza
fazendo feridas no corpo e na alma.

A dor não mente
a dor grita
dor maldita
que ressuscita
lembranças há muito sepultadas.

A dor não mente
A dor nos vence por nocaute
causando blecaute
na razão
embaçando a visão.

Dor, pra que dor?
Dor, pra que tanta dor?
Dor, por que tanta dor?
Dor, o que causa dor?
Dor, dor, dor, dor...

A dor não mente
A dor é o corpo (ou a alma)  que se ressente
por uma enfermidade demente
que se torna latente
e para a qual analgésicos já não bastam...


Beijos...

P.S.: Há dias estou atravessando a pior crise de dor de cabeça que já tive em toda minha vida, alguns médicos dizem que é enxaqueca, um outro disse que pode ser fibromialgia, mas, a verdade, é que até agora não houve analgésico capaz de domar essa dor lancinante que está quase me enlouquecendo.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Carta aberta de repúdio à Esclerose Múltipla

São Paulo, 30 de setembro de 2013.

À
Ilma. Sra. Esclerose Múltipla 
Av. Lesões na mielina, nº indeterminado
Jd. Cervical -  Diversas regiões do Cérebro
00000-000 - Meu corpo/EM

Prezada Senhora:

A presente tem por finalidade trazer à V. Sa. o meu repúdio à sua presença na minha vida, pelas razões de fato e de direito relacionadas abaixo:

1. A Constituição Federal garante a todos o direito à liberdade, por este motivo, quando V. Sa. resolveu se instalar junto a mim, sorrateiramente, sem fazer qualquer barulho que pudesse me dar a chance de aperceber-me da sua presença, violou esse princípio constitucional, pois não me deu a oportunidade de decidir se a aceitaria ou não a sua companhia. 

2. Outro direito que a Carta Magna me garante e V. Sa., descaradamente, não respeita, é a liberdade que tenho de ir e vir, o que nem sempre consigo mais fazer sendo obrigada a carregá-la comigo, suportando todo o vosso peso e, em acréscimo, levar vossa bagagem desproporcional, afinal, há momentos em que por mais que eu queira ir, sou obrigada a ficar por conta do vosso peso excessivo que exaure todas as minhas energias.

3. Tenho direito, também, de poder  realizar minhas atividades diárias sem que fique completamente nocauteada, pois estou farta de subir uma escada e sentir reações no meu corpo como se tivesse corrido uma maratona inteira.

4. Por vossa culpa, tão somente vossa culpa, eu sou obrigada a suportar os efeitos colaterais dos medicamentos que V. Sa. me obriga a usar para não me entregar completamente aos vossos desmandos, sobremaneira o Rebif, vosso aliado em me provocar mal estares debilitantes.

5. Eu sou a dona do meu corpo, portanto, eu decido o que fazer com ele, porém, V. Sa. ignora isso da forma mais repugnante que existe, uma vez que quer controlar minhas pernas, meus braços, minha visão, minha fala, tudo, afinal.

6. Minhas memórias são minhas e, embora V. Sa. saiba que nunca poderá tirá-las de mim, fica o tempo todo tentando me confundir, escondendo palavras, me fazendo trocar o nome das pessoas, me levando a parar frases no meio, esquecer de coisas tão corriqueiras por pura maldade.

7. V. Sa.  é uma covarde, pois tenta se manter invisível aos olhares externos a mim que a carrego. Trapaceia, se esconde, não se mostra, tudo a fim de que eu seja vista como alguém que reclama demais e nada faz.

8. V. Sa. é sádica, pois não se contenta em viver grudada em mim feito um parasita, uma vez que, para satisfazer sua perversão, precisa me provocar dores, tremores, formigamentos, fraquezas, choques, descoordenação motora, desequilíbrios e toda a gama de sintomas que só alguém como você é capaz de me impingir.

9. Por vossa causa, sou obrigada a enfrentar filas intermináveis todos os meses para receber o malvado do Rebif, afinal, mesmo que eu vendesse minha casa, meu carro, meus filhos, minha cachorra, minha gata, uma parte do meu fígado e um rim, eu não teria como arcar com seus custos pela quantidade de anos que ainda pretendo viver.

10. V. Sa. é responsável, completamente responsável, por vez ou outra meu corpo precisar ser bombardeado por altas doses de corticóides, este hormônio que desinflama tudo, mas que me infla, me põe fel na boca, desestabiliza minha glicemia e minha pressão arterial. 

Sendo assim, após a exposição das razões acima elencadas, reitero meu repúdio à V. Sa. e espero que, se não puder me deixar livre da sua presença de uma vez por todas, ao menos respeite o máximo possível os meus direitos de cidadã livre e dona das minhas próprias vontades.

Atenciosamente,

Bete Tezine

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Rebif + TPM = Quase explosão nuclear

Moço, cuidado com ela! 
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... 
Imagine uma cachoeira às avessas: 
cada ato que faz, o corpo confessa. 
Cuidado, moço 
às vezes parece erva, parece hera 
cuidado com essa gente que gera 
essa gente que se metamorfoseia 
metade legível, metade sereia. 
Barriga cresce, explode humanidades 
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar 
mas é outro lugar, aí é que está: 
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.. 
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente 
que vai cair no mesmo planeta panela. 
Cuidado com cada letra que manda pra ela! 
Tá acostumada a viver por dentro, 
transforma fato em elemento 
a tudo refoga, ferve, frita 
ainda sangra tudo no próximo mês. 
[...]

(Elisa Lucinda, Aviso da Lua que menstrua)


Antes de iniciar o uso do Rebif, eu nunca havia reparado nas alterações pelas quais eu passo durante o período pré-menstrual, a tão famosa TPM. Na verdade, eu sempre achei que não sofria de TPM. Para ser sincera, eu não entendia bem as alterações sofridas pelo sexo feminino nos dias que antecedem a menstruação.
Eu sempre sofri de enxaqueca, mas ela sempre foi tão imprevisível que não a ligava à TPM. 
Eu sempre fui muito emotiva. O choro sempre rolou fácil, mas nunca prestei atenção que ele vertia por quase nada durante a TPM.
Entretanto, ao ser diagnosticada como esclerosada e ao iniciar o uso do Rebif, tanto as crises de enxaqueca, quanto a emotividade, ficaram sobremaneira acentuadas, que não tive como deixar de perceber sua relação com o meu período pré-menstrual. 
Um dos principais efeitos colaterais que o Rebif provoca em mim, são as dores de cabeça. Não há analgésico ou anti-inflamatório que eu possa tomar que previnam as dores pós-aplicação. 
Porém, passei a observar que durante a TPM as dores se transformam em crises de enxaqueca nocauteantes, ficando tão fortes a ponto de me tirarem de cena, me jogando na cama e, nem o mais potente dos analgésicos, tem dado conta de fazê-la me dar uma trégua. Sinto mesmo como se uma explosão nuclear fosse ocorrer dentro do meu cérebro, transformando-o em milhões de pedaços.
Por outro lado, percebi, também, que choro por qualquer motivo nesse período, para ilustrar o tamanho da minha emotividade, tenho chorado até com comerciais de margarina na TV, sem exagero algum.Tudo tem me arrancado lágrimas copiosas. Tudo me deixa sensível, tudo me magoa... é incrível como eu não havia percebido isso antes.
Sem contar, que agora tenho tido duas TPMs por mês, pois, depois do Rebif, meu ciclo menstrual passou a ser de 21 dias, então, quem merece isso? 
Hoje, estou  no meio de mais uma TPM e, para não fugir à regra, estou com uma enxaqueca daquelas que não desejamos nem para os nossos piores inimigos, quanto mais para nós mesmos. E, quanto ao choro fácil, vou terminar o post por aqui, porque estou ficando com tanta dó de mim mesma que as lágrimas já estão marejando meus olhos...

Um beijo todo especial para todas as mulheres que compartilham comigo da tenebrosa TPM!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Perdoar... perdoar-se...




Aquele que não consegue perdoar aos outros, destrói a ponte por onde irá passar.

(Francis Bacon)





Temos de ter muito cuidado com nossas verdades absolutas. Se tem algo que a vida não perdoa nunca, é nos sentirmos donos da razão em detrimento a pensamentos contrários aos nossos. 
Na verdade, a vida tem uma estranha maneira de nos provar que, na verdade, nada sabemos, que somos todos leigos, somos seres imperfeitos em busca de firmação pessoal, o que, muitas vezes, nos leva por caminhos tortuosos que ao invés de nos trazerem o contentamento que procuramos, só nos trazem amargura, dor e decepções com nós mesmos.
Por outro lado, estamos em constante mutação, o que ontem nos servia, hoje não nos serve mais. O que ontem nos fazia bem, hoje não nos faz mais. O que ontem foi nosso tudo, hoje pode ser mais ou menos e, amanhã, nosso nada. 
Ninguém está livre de passar por desilusões, porém, o que fazemos conosco depois disso é responsabilidade tão somente nossa, de mais ninguém. Em um ou outro momento das nossas vidas todos nós seremos decepcionados, seja por outras pessoas, seja por nós mesmos, mas o que a vida cobrará de nós é como lidaremos com isso. Jamais seremos perdoados se optarmos por carregar o peso desnecessário da falta de perdão, sobremaneira, se não perdoarmos a nós próprios, deixando que um fato nos defina como pessoa e nos torne seres amargurados e vazios. 
O perdão liberta a alma, solta as amarras do rancor e nos deixa prontos para prosseguir por novos caminhos, desviando dos erros passados e aprendendo com eles a sermos pessoas melhores, mais felizes e mais em paz com a vida.
Verdades absolutas não existem, o que existe é a verdade de cada um, de acordo com o momento de cada um, portanto, ninguém tem o direito de julgar ninguém, porque apenas cada um sabe o que é ser ele mesmo, sabe das dores e das alegrias de ser quem é, ninguém mais.

Beijos no coração!

sábado, 21 de setembro de 2013

Um dia me disseram...



Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração

[...]

(Somos quem podemos ser, Humberto Gessinger)

Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão e eu, teimosamente, me recusei a acreditar. Como assim? Como as nuvens não eram de algodão? Impossível, elas eram, sim, de algodão, foi o que pensei.
Um dia me disseram que pessoas podem ser más, que elas podem estraçalhar nossos corações em um piscar de olhos. Eu me recusei a crer que seres humanos pudessem ser tão cruéis assim e continuei acreditando na bondade das pessoas.
Um dia me disseram que o amor aprisiona almas. Eu, categoricamente, não quis acreditar, porque, na minha visão, o amor sempre liberta, não amarra, não prende, mas traz vida plena, livre e isenta de dor.
Um dia me disseram que decepções nos tornam amargos. Eu, mais uma vez, não cri nessa fala, pois decepções, na minha visão, não matam, apenas nos tornam mais fortes para buscar o melhor das pessoas.
Um dia me disseram que uma grande amizade pode se perder no tempo. Eu, de forma alguma, dei atenção a essas palavras, pois, para mim, uma grande amizade nunca se perderá no tempo, uma vez que mesmo longe, amigos verdadeiros, continuarão presentes um no coração do outro.
Um dia me disseram que tempestades podem se tornar uma constante em nossas vidas. Eu nunca acreditei nisso. Tempestades vêm, mas sempre são sucedidas por um período de calmaria, no qual o sol volta a brilhar e a brisa sopra doce, trazendo esperança outra vez. 
Um dia me disseram que o "para sempre" sempre acaba. Eu nunca vou acreditar nisso, porque têm coisas, sim, que são eternas dentro de nós, que nunca irão embora, que sempre estarão vivas nas nossas lembranças. 
Um dia me disseram que o tempo apaga tudo. Eu não tive como crer que a ação do tempo pode apagar uma história, uma lembrança, pois, há coisas que se tornam eternas e não há tempo capaz de tirá-las de nós.
Um dia me disseram que têm feridas que não cicatrizam nunca. Eu acreditei nisso. Mas, hoje, admito que me enganei, porque por mais que doa, sangre, lateje, toda ferida, uma hora, deixa de ser uma dor lancinante para se tornar, tão somente, uma cicatriz. E é isso que me dá forças para fazer, todo dia, um novo curativo nesta chaga que ainda está aberta, mas que uma hora vai fechar, deixando em seu lugar apenas uma marca que o tempo não apagará, no entanto, não vai mais latejar. Essa tempestade aqui dentro, um dia vai passar...

Beijos leves feito nuvens de algodão!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A cura sempre virá...

Bete Tezine, Autorretrato, 2013.




A cura não significa que a ferida nunca existiu. Significa que ela não controla mais a nossa vida. 

(Autoria desconhecida)










Existem momentos nas nossas vidas que não há palavras que possam nos confortar. Nada do que possamos ouvir é capaz de nos trazer a paz de espírito de que tanto necessitamos.
Há situações que vivenciamos que nos causam uma dor tão pungente, tão latente e contundente  que só o que pode nos desafogar o coração é um abraço apertado, um olhar compreensivo e um ombro para amparar nosso choro.
Não há o que dizer, não há o que ouvir, não há palavra que sare. Tudo fica embaçado, congestionado de dor e só queremos, na verdade, alguém que chore junto conosco, que misture suas lágrimas às nossas, que se cale no nosso silêncio e nos ouça com o coração.
Há dores tão doídas que abrem feridas latejantes na alma, fazendo jorrar sangue vivo, quente, ardente que escorre pelas arestas abertas dentro de nós, ganhando dimensões dilacerantes e impingindo sofrimentos que, só são amenizados, pelo entendimento calado que se vislumbra no olhar daquele que compartilha conosco da mesma dor.
O choro rola solto. As lágrimas escorrem queimando a face e colocando um gosto amargo na boca. As emoções se confundem. O medo vira desespero. O desespero vira desesperança. E, a desesperança, se torna carrasca da maior das amarguras experimentadas pelo ser humano: a descrença em seu próprio poder de superação.
Os pensamentos se aceleram dentro da nossa mente, atropelando uns aos outros e ganhando velocidades inimagináveis, tornando-se monstros prontos a devorarem a nossa própria razão.
Não se vislumbra mais nenhuma luz no final do túnel. Não se enxerga uma saída. Não se crê na calmaria que advém após toda tempestade. Simplesmente, nos entregamos ao desespero e deixamos que fantasmas, muitas vezes apenas imaginários, ditem as regras de conduta para nossas atitudes naquele momento em que parece que fomos expulsos da nossa própria existência.
São momentos de travessia. Momentos em que somos testados pela vida, a fim de que ela se convença de que somos fortes o suficiente para atingirmos a outra margem sem nos afogar nas mágoas e dores pelas quais fomos obrigados a nadar.
A vida não nos poupa, nos testa a cada despertar. Ela nos coloca em situações que, aos nossos olhos, são impossíveis de suportar. Porém, por mais que seja difícil, na verdade quase impossível, vislumbrar uma cura, mesmo que incompleta, podemos ter certeza de que ela virá.
Não há dor que não cesse. Não há medo que não se transforme em coragem. Não há fantasma que não evapore no tempo. Não há lágrima que não se transforme em riso. Tudo, a seu tempo, se transforma e nos faz crescer em força, fé e certeza de que por maior que seja a ferida, um dia ela fechará e se tornará, apenas e tão somente, uma cicatriz a nos lembrar que mesmo tendo jorrado sangue, latejado e nos causado sofrimento imensurável, ela nos deixou, unicamente, uma recordação de que fomos fortes o suficiente para dar a volta por cima, recolocar um sorriso no rosto, reabrir as janelas da alma e pegar nossas vidas de volta, muito maiores em força, esperança e certeza de que nada é para sempre, nem mesmo a dor.

Beijos compreensivos no coração de quem está atravessando um momento de dor!