terça-feira, 4 de setembro de 2012

A dor da perda

Bete Tezine, Luto, 2012. Objeto, 25 x 35 cm.


Perder, ganhar
Com as perdas, só há um jeito:
Perdê-las.
Com os ganhos,
O proveito é saborear cada um
Como uma fruta de boa estação.

A vida, como um pensamento,
Corre à frente dos relógios.
O ritmo das águas indica o roteiro
E me oferece um papel:
Abrir o coração como uma vela
Ao vento, ou pagar sempre a conta
Já vencida.

(Lya Luft)





Quando a morte arrebata alguém a quem amamos, uma sensação indescritível de dor psíquica traduzida em ódio, raiva, revolta natural, se apossa de nós. Constantemente nos questionamos: por que comigo? Por que agora? É um sentimento de indignação que não é voltado contra ninguém especificamente, mas que é a interpretação de que a perda é um  fato voltado contra nós.
No entanto, não é apenas na morte que o sentimento de luto se manifesta. Quando vemos a impossibilidade de realização de nossos sonhos e desejos, também somos apossados pela mesma sensação de perda. Indignando-nos contra as situações que impediram a realização de nossos projetos.
 O mesmo acontece quando recebemos o diagnóstico de uma doença grave. Também nos revoltamos, também sentimos raiva, também questionamos o porquê de ter sido conosco. Somos envoltos por uma real sensação de efemeridade. Nesse momento nos damos conta de quão frágil é a vida. 
Vivenciar o processo de luto é essencial ao ser humano para que ele sobreviva à dor da perda e consiga retomar   sua vida , aceitando e adaptando-se a uma nova realidade.
"Viver nossos lutos é ter humildade para perder, para sobreviver essa dolorosa experiência: daí o luto ter um tempo adequado para nos refazermos do trauma."
(Carlos Vieira)
Muito embora não seja possível prever o tempo de duração e a intensidade do luto, ele não pode durar por tempo indefinido, senão ele acaba por se  transformar em depressão ou melancolia.
Quanto a mim, ainda estou vivenciando meu luto pela descoberta da Esclerose Múltipla e,  minha forma de lidar com ele, é falando sobre minhas angústias e inquietações. É claro que chorei demais. É claro que às vezes me pego questionando o porquê de tudo isso. É claro que tenho meus momentos melancólicos. É claro que há dias em que a dor parece que nunca irá doer menos. É claro que o medo do que ainda está por vir me ronda constantemente. 
Mas, apesar disso, encontrei no compartilhamento de minhas emoções e na materialização da minha dor em meus trabalhos artísticos uma forma de tornar menos traumático esse momento da minha vida.
O luto dá sinais de que está sendo superado quando conseguimos ressignificar e reorganizar nossa vida como forma de adaptar-nos a novos papéis. É o que tenho tentado fazer com esse desafio que a vida me impôs. Não digo que está sendo fácil, pois não está. Mas, chorando uma lágrima de cada vez, vou vivendo um dia por vez.


Um beijo que ainda está dolorido (mas vai passar)....



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