domingo, 23 de setembro de 2012

Quando chega a primavera....




Quero uma entrega maior, 
como dias de primavera 
que as flores se abrem 
e se dão ao mundo, 
se deixam acariciar pelo sol e, 
ao escurecer, mais resguardadas,
 recebem o orvalho da noite, 
mas estando pronta ou não, 
é assim que me encontro, 
desabrochando, 
amanhecendo, 
se dando para a vida.

(Angella Reis)


Em meados da primavera passada, tive meu primeiro surto, diagnosticado, de Esclerose Múltipla. Digo diagnosticado, pois, hoje, sei que nos últimos quinze anos tive alguns outros que foram tratados como uma outra anomalia qualquer, exceto, a que era realmente.
Passaram-se o verão, o inverno, o outono e eis que a primavera chega hoje e me encontra sob a suspeita de um novo surto. Mas, não quero pensar na possibilidade que se confirmará, ou não, amanhã, no dia de hoje. Deixarei para amanhã o infortúnio de amanhã e, procurarei viver hoje, toda a dádiva de presenciar a chegada da estação da esperança e renovação.
Foi na primavera, também, que recebi de presente da vida, os dois bens mais preciosos que poderiam ter chegado às minhas mãos: meus filhos. 
Eu me renovo, sempre, nessa estação e, essa que está chegando, mais que qualquer outra, irá encontrar em mim, um renovar-se diário, um permanente adaptar-se à minha nova condição de vida.
Não sou mais a mesma pessoa que a primavera anterior deixou quando se foi, pois, venho me remodelando e remodelando minha própria história. 
Quantas mudanças fiz no meu modo de agir e de pensar... 
Quantas coisas disse que jamais faria e hoje faço...
Quantas angústias reprimidas foram liberadas.... 
Quantos projetos de vida foram desarquivados...
Quantas falas engolidas agora foram ditas....
Quantas deficiências tem sido superadas....
Quantos medos estão sendo encarados de frente....
Quantas alegrias gratuitas, sem razão especial de ser, estão sendo vivenciadas...
Quantas batalhas interiores estão sendo travadas, a fim de banir de dentro de mim, feridas não cicatrizadas....
Quantos sonhos adormecidos estão sendo novamente sonhados...
Quantas histórias novas agora tenho para contar....
São tantas mudanças ocorridas em minha vida entre a primavera ir e a primavera voltar que, mesmo eu, ainda não fui capaz de assimilar todas elas. 
Porém, posso afirmar sem reservas que, quando a primavera se foi, na estação anterior, deixou uma pessoa e, quando hoje ela retorna com toda sua nostalgia e esperança, encontra uma nova mulher... renovada... amadurecida.... e disposta a ser dona da sua própria vida.

Um beijo primaveril!


Nenhum comentário:

Postar um comentário