terça-feira, 30 de setembro de 2014

Minhas estações


Fonte: Google imagens
Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?

Pablo Neruda



Existem várias maneiras de contar o tempo. O relógio marca as horas, os minutos, os segundos... os meses marcam as semanas, os dias... os anos marcam os meses... as estações marcam o florir, o ensolarar, o desfolhar, o invernar...
O tempo não passa igual para todos, pois sua contagem é relativa. Um minuto pode durar toda uma vida ou passar tão rápido como um sopro de vida. Tudo depende do que estamos à espera.
Esperar é um ato de coragem quando não sabemos exatamente o que nos aguarda quando chegar o tempo pelo qual ansiamos. 
E todo dia, quando acordo, eu me pergunto: o que me espera? Como será hoje? Vou ensolarar ou vou invernar? Vou florescer ou vou desfolhar? E nem eu mesma sei qual a reposta e é bem provável que eu passe por mais de uma estação no decorrer do dia.
Eu tenho minha primavera, meu verão, meu outono e meu inverno particulares. Eu sou feita de estações e cada uma determina meus momentos sem que eu possa interferir nos seus ciclos, pois o que posso, unicamente, é não me permitir estacionar numa delas, sobremaneira naquela que acinzenta meus dias, gela minha alma e escorre pelos meus olhos em forma de chuva...

Beijos na alma!


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quando a vida vale a pena...


A vida vale a pena quando você torce pra ela não acabar...

(Clóvis de Barros Filho)



O vídeo que faz a abertura deste post fala da felicidade, ou melhor, sobre a definição do que seja felicidade, o que me fez refletir sobre "um instante de vida que vale por ele mesmo", sobre aquele momento da vida que não queremos que acabe nunca, que nem queremos olhar no relógio pra não ver o tempo voando rápido, com uma pressa incompatível com o nosso querer naquele instante. E eu percebi que tenho vivido sob a égide da escola da tristeza, aquela escola que nos educa para esperar a vida passar, para torcer para que o tempo passe rápido, para que esperemos o final do dia, para que ansiemos pelo final da semana e do mês e do ano e da vida, tamanha a falta de perspectiva que tem se abatido sobre mim.
Eu tinha sonhos, tantos projetos, tanta vontade de viver, mas paulatinamente vi cada um deles sendo colocados cada dia mais longe das minhas mãos e eu, dominada pelo sentimento de impotência, não fui capaz de me agigantar e pegar cada um deles de volta ou, ao menos, os mais significativos pra mim. Eu enfraqueci na minha solidão comigo mesma e me matriculei na escola da tristeza.
Mas, ontem, depois de ouvir esse vídeo por horas seguidas, descobri que não quero mais estudar nessa escola por mais que hoje eu esteja contando os segundos pra que o meu repouso forçado termine. Eu quero reencontrar minha força interior que se desvencilhou de mim, pouco a pouco, durante as bofetadas que levei vida afora.
Eu quero sentir alegria, que é aquela força que nos impulsiona rumo aos momentos felizes. Quero retomar planos, projetos, mesmo que eles não possam mais ser os mesmos que tinha antes do diagnóstico da Esclerose Múltipla. 
Quero ter coragem e sabedoria para identificar o que me serve, o que me trará momentos que não vou querer que acabem e descartar aqueles que me fazem torcer para que o relógio ganhe impulsão e seus ponteiros girem descontroladamente.
Eu tenho de readquirir alegria, a "passagem para um estado mais potente do próprio ser", porque isso para mim, agora, não é mais questão de escolha, mas sim, uma questão de sobrevivência.
Quero que minha vida volte a valer a pena...

Beijos na alma!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Eu quebrei...

Imagem: Google Imagens





As engrenagens da vida não param de rolar, porque eu caí, me estatalando no chão.

(Aimara Schindler)









Eu nunca aprendi, verdadeiramente, a dizer não. Na verdade, melhorei muito, mas ainda estava sendo difícil para mim falar não, mesmo quando eu não tinha condição alguma de realizar o que me era solicitado. Mesmo com dor, fraqueza, fadiga tomando conta, eu estava me forçando a não dizer não pra ninguém. Continuava fazendo tudo o que eu podia e o que eu não podia também.
Quantas vezes me arrastei para fazer alguma atividade com os olhos cheios de lágrimas pelo esforço e pela dor de não conseguir dizer: agora eu não tenho condições de fazer, desculpe. Vezes incontáveis, aliás, não tenho lembrança de ter dito essas palavras para ninguém.
Eu estava sobrecarregada de atividades que me exauriam e o que me dá prazer, me acalma, me preenche, foi deixado de lado, pois a fadiga não me permitia realizar mais nada ao final do dia. Andei ausente daqui, pouco escrevi nos últimos meses. Os trabalhos artísticos se extinguiram. Os sorrisos rarearam.
No entanto, a vida tem um jeito engraçado, peculiar e próprio de realizar o que deveria ter sido feito por nós e, por comodismo, covardia ou omissão, deixamos passar as diversas oportunidades que nos são dadas de colocar as coisas no lugar. E comigo não tinha porque ser diferente... eu não parei por mim, a vida me parou. 
Semana passada, mais precisamente na sexta-feira, prendi o pé no vão da calçada de casa e, as pernas que já estavam oscilantes, desequilibraram e eu caí, fraturando o tornozelo em 2 lugares. Isso por si só já seria motivo de desespero da minha parte, não fosse eu ter fraturado o outro tornozelo há 6 anos, o que resultou em 1 placa, 10 pinos e uma dor crônica. Desta vez, não vou precisar de cirurgia, desde que eu fique 60 dias sem pisar no chão. 
Eu quebrei... Eu chorei demais, ou melhor, tenho chorado demais. De início por dó de mim mesma, depois por dor física e agora por dor física e dor da alma. Meu freio de mão foi puxado compulsoriamente e eu estou me sentindo impotente e com medo, pois ao me ver completamente dependente fisicamente, os fantasmas se acercam de mim e me mostram suas faces gélidas. 
Porém, apesar de tudo isso, eu sei que é apenas a vida colocando as coisas no lugar para que eu possa ter melhor qualidade de vida e me dedicar ao que me faz feliz. 

Beijos na alma...

sábado, 13 de setembro de 2014

Falhas nas engrenagens...




O corpo humano está passível à doenças da mesma forma que o processo logístico está passível de falhas.

Elaine Stefani Santin







O corpo humano, segundo dizem, é a máquina mais perfeita que existe. No entanto, se nosso corpo é uma máquina, ele, por mais perfeito que seja, está passível de falhas mecânicas e nós, esclerosados, sabemos disso com propriedade de causa.
Eu tenho sentido, paulatinamente, minhas engrenagens emperrarem. Estou, cada dia mais, sentindo dificuldades para realizar tarefas corriqueiras, como me abaixar para pegar as chaves do carro que pularam, teimosamente, da minha mão que já não consegue segurar as coisas como antes. As escadas, ah! as escadas! Como podem ter ficado tão difíceis de serem transpostas? A impressão que tenho é de que os degraus ganharam vários centímetros na altura ou, então, minhas pernas estão encurtando.
Por que os meus braços estão tão pesados mesmo quando não estou carregando nada? Eles pesam por si sós, pesam tanto que parecem que vão se desprender dos meus ombros.
As distâncias, quando estou andando a pé, se multiplicaram vertiginosamente. Um quarteirão agora deve estar medindo uns mil metros ou mais de tanto que minhas pernas pesam. Meus passos estão ficando curtos, arrastados, cansados...
O que faz meus olhos se cansarem de olhar? Por que as letras embaralham, as retinas trocam de lugar? Por que sentir fadiga visual?
Como explicar o fato de ter tido uma noite de sono e acordar mais cansada do que quando fui dormir? O que está falhando no meu corpo que faz com que tudo se torne tão cansativo? Por que a fadiga me consome sem causa aparente? Por que é tão difícil conviver com esta falta de energia persistente?
Por que esta máquina que é o meu corpo resolveu se voltar contra ela mesma num dado momento da minha vida? Por que o sistema imunológico que deveria proteger meu organismo se pôs a atacá-lo? Por que a comunicação falha? Por que tanta bagunça no meu sistema nervoso central? 
Tantas indagações para tão poucas respostas... a verdade é que a engrenagem está emperrando dia-a-dia e não há lubrificação que dê jeito nos desgastes provocados pela Esclerose Múltipla.

Beijos carinhosos!