terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Quando eu necessito me perdoar...



Nem sempre a vida é boa conosco.

Assim como os pais não podem apenas dizer sim aos filhos, o universo também se encarrega de fechar algumas portas na nossa cara, dizer uns nãos bem sonoros e, muitas vezes, nos dar uma bagagem que julgamos bem além das nossas forças carregar.

Eu confesso que por muito tempo culpei a tudo e a todos, mesmo que na maioria das vezes inconscientemente, pelo que aconteceu ou deixou de acontecer comigo.  Eu, silenciosamente, atribui aos outros a responsabilidade por ter me colocado à margem da minha própria vida e permitido me quebrar em mil pedaços para deixar os outros de pé, ilesos, sem nem mesmo trincos ou rachaduras.

Eu culpei a tudo e a todos sem perceber que a culpa era minha, apenas minha, porque as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos.

A Esclerose Múltipla, assim como outras doenças autoimunes, configura-se no ataque do meu corpo a mim mesma e eu nunca tinha parado para refletir no porquê disso acontecer. As pesquisas até hoje esbarram apenas em teorias. Não existe nada que esclareça de forma elucidativa e inequívoca o que faz com que o que devia nos defender de invasões externas - o nosso sistema imunológico - como que num ataque de fúria, passa a entender que elementos essenciais ao perfeito funcionamento do nosso organismo sejam inimigos impiedosos e se empenha em combatê-los.

Então, fazendo uma analogia entre a patologia autoimune e os ataques que permiti acontecer às minhas emoções, os aviltamentos aos meus sentimentos e a voluntariedade, mesmo que sem perceber, com que abri as portas da minha existência para que fizessem bagunças imensuráveis, eu percebo o quanto fui responsável por ter deixado de viver alguns sonhos e por ter me deixado estraçalhar em pedaços, de tal forma, que tive de me remendar inteira.

Porém, se eu não posso apertar um botão de pausa e impedir que novos ataques ao meu sistema nervoso central aconteça, eu tenho o poder de mudar minha forma de enxergar o mundo e parar de atribuir a responsabilidade pelo que fiz ou pelo que faço comigo mesma aos outros. Eu sou a única responsável pela minha vida e pela minha própria felicidade. Apenas eu, e tão somente eu, posso escolher entre me fazer de vítima ou assumir as rédeas da minha vida, deixando de permitir que pessoas me estilhacem com suas atitudes, pois apesar de não ser inquebrável, posso me tornar bem flexível,  se eu quiser.

Eu sei que não é fácil, pois teorizar é bem mais simples do que colocar em prática, uma vez que têm dias que a bagagem fica tão pesada que não encontramos energia nem ao menos para pensar. No entanto, eu sei também que esses dias passam, que a inércia forçada provocada pela minha companheira de vida dá uma trégua e me permite sair do estado de repouso e partir para o movimento, retomando a responsabilidade de me permitir viver com alegria, buscando ser o melhor que eu puder ser para mim mesma.

Eu tenho Esclerose Múltipla, tenho sonhos perdidos, tenho cicatrizes profundas na alma, mas preciso enxergar que isso não é culpa de ninguém, não é culpa da vida, nem do universo e, mesmo as responsabilidades que posso atribuir a mim mesma, não são motivos para que eu me autoflagele, pois, muito mais que perdoar aos outros, eu preciso perdoar a mim mesma a fim de me permitir ser o suficientemente forte para seguir vivendo desprendida das culpas que, embora as assuma, não preciso carregar pela vida inteira.

Perdoar-se exige uma profunda introspecção, mas eu sempre mergulhei nas profundezas...

Beijos carinhosos!