segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Solidão


Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.

E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.

Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.

(Solidão, Fernando Pessoa)


Bete Tezine, Dor, 2012. Objeto.

Hoje acordei me sentindo só. Terrivelmente só. 
Não aquela solidão de estar desacompanhada, mas a solidão de estar realmente sozinha. Sozinha em meio a uma multidão. E essa é a pior solidão que existe.
Sozinha. 
Eu e a minha injeção. 
Eu e o interferon. 
Eu e a seringa. 
Eu e a agulha.
Eu e a dor da picada.
Eu e o sangue que saiu da pele. 
Eu e a seringa vazia. 
Ninguém mais.
Sinto-me terrivelmente só. Não sempre. Mas hoje me sinto só.
E quando acordo assim não há companhia que me tire dessa terrível solidão. 
Eu e a pseudogripe. 
Eu e a dor de cabeça. 
Ninguém mais.
E continuo sozinha em meio a multidão. 
Eu e a fadiga. 
Eu e a seringa vazia. 
Ninguém mais.
E vou dormir sozinha. 
Eu e o nariz congestionado. 
Eu e os olhos lacrimejantes. 
Ninguém mais.
Hoje foi o dia da injeção de Rebif e, nesse dia, sempre me sinto terrivelmente só.
Amanhã a solidão passa e volto a ter companhia...


Um beijo solitário!


P.S.: Esse trabalho foi criado por mim utilizando a primeira seringa da injeção de Rebif que fiz uso, tinta e uma caixa de fósforos.

4 comentários:

  1. Seus trabalhos refletem sensibilidade, seu ser. A vida é assim... Dias claros, de cores... Dias cinzas, sombrios... Dias e dias. Me lembrei agora de Frida Kahlo... Bjs

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  2. Oi Ana, ficou sempre feliz de te ver aqui! Essa é a vida, o melhor de tudo é que os dias cinzentos não duram muito, e o sol apaga as sombras da nossa alma.

    Um beijo enorme,

    Bete

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  3. Oi Bete... que foto interessante. Ainda bem que isso passa e no outro dia deixamos essa solidão de lado...
    Abraços,

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  4. Obrigada Drika! Às vezes necessitamos de momentos de profunda solidão, porque são esses momentos que nos fazem valorizar ainda mais as alegrias.

    Beijo,

    Bete

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