Bete Tezine. Multiplicação
da dor
(Maquete
projeto instalação), 2012.
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No último semestre do curso de graduação em Artes Plásticas, como proposta da disciplina de Evolução das Artes Visuais II, produzi um projeto de instalação, cujo resultado foi a confecção da maquete representada na imagem acima. Como justificativa do trabalho, escrevi o seguinte texto:
Receber o diagnóstico de portadora
de esclerose múltipla possibilitou-me dar nome aos diversos males que me
afligem há anos. A doença autoimune trouxe com ela uma série de modificações em
minha vida e, nem todas, foram para pior, apenas algumas são mais limitantes
que outras.
Tenho passado, nesses últimos meses,
por constantes adaptações emocionais e físicas, tentando descobrir e
compreender meus limites nestas duas esferas da vida e, isso, tem se refletido,
inquestionavelmente, na minha produção artística e, como não poderia deixar de
ser, meu projeto de instalação também é um retrato desse meu momento de vida.
A esclerose múltipla me acompanha há
muito tempo, hoje eu sei disso, todavia, ela esteve ao meu lado como uma
companheira invisível, sempre me lembrando de sua presença sem, no entanto, me
deixar vê-la por completo. Eu a sentia, mas não podia descrevê-la. Assim,
quando foi possível descobrir seus contornos, descobri, também, que para
mantê-la sob controle, dentro dos limites possíveis, seria necessário que eu me
submetesse periodicamente a uma série de exames, sendo o mais importante deles
a ressonância magnética – RM – do crânio e da coluna vertebral, pois,
atualmente, esta é a ferramenta que mais auxilia os médicos no diagnóstico da
enfermidade, haja vista que ainda não existe um exame que possa, por si só,
atestar a sua presença.
Dessa forma, é pelo exame de ressonância
que se verifica o surgimento de novas lesões ou o crescimento das já
existentes, tanto no cérebro quanto na coluna vertebral do portador. Trata-se
de um exame demorado e, mesmo sendo teoricamente indolor, pelo tempo em que
ficamos imóveis dentro da máquina e expostos a intensos ruídos, acabamos por
sentir dores pelo corpo, além de fobias pela restrição a um espaço sufocante.
Fiz minhas últimas ressonâncias, que
duraram cerca de 2 horas, no dia 01 de junho de 2012 e, durante esse tempo, com
a cabeça dentro de uma espécie de gaiola e com os ruídos a martelarem meus
ouvidos, comecei a imaginar a possibilidade de existência de outro tipo de
equipamento que pudesse captar as imagens do meu crânio de uma forma menos
traumática. E foi assim que, naquele momento, idealizei meu crânio dentro de
uma impressora que, com um simples toque de botão, começaria a imprimir, uma
após outra, com extrema velocidade, as diversas divisões de meu cérebro nos
filmes radiológicos.
Ainda pensando no
assunto, ao sair da sala de exames, resolvi materializar, em forma de
instalação, esse meu desejo de tornar as ressonâncias magnéticas a que me
submeterei constantemente em um exame menos desagradável e mais dinâmico.
Um beijo multiplicado por mil...
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