quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Resgatando minha vida


Já discorri, em alguns outros posts, sobre o que a descoberta da Esclerose Múltipla provocou em minha vida. Já abordei, outras vezes, alguns aspectos negativos e, outros, positivos, da sua presença junto de mim.
Todavia, em uma análise mais profunda, hoje posso dizer e, isso me parecia completamente improvável nos primeiros meses após o diagnóstico, que os aspectos positivos de me descobrir portadora da enfermidade degenerativa e sem cura, já estão superando, em muito, o lado negativo de viver com ela.
Falo isso com plena convicção e na total ausência de qualquer demagogia. Não sou hipócrita, não sou demagoga, não procuro passar uma imagem que, na verdade, não é minha. Sou verdadeira, realista, de pé no chão e tenho procurado, a todo custo, me reconciliar com a vida, pois, eu e ela andávamos tendo alguns desafetos por conta da condição de carregar comigo uma companheira invisível aos meus olhos, mas, completamente tangível no restante de mim.
Posso dizer, com total segurança, que minhas desavenças com o meu próprio viver chegou a níveis assustadores. Me desiludi de tal forma comigo mesma, me desencantei, sobremaneira, com a minha condição de ser humano inserido superficialmente no mundo, que ficou difícil encontrar motivação para viver a vida de forma plena. 
Por isso, me deixei, apaticamente, ficar a ver a vida passar diante de mim sem que eu tivesse coragem de embarcar em sua boleia, sem que eu tivesse a ousadia de viver, plenamente, tudo o que ela colocava ao meu alcance.
Quantas não foram as vezes que me esquivei de vivenciar sonhos por não achar que era merecedores deles? Por quantas vezes não me acovardei diante de situações que exigiam de mim um pouco de insanidade? Daquela insanidade boa, que nos faz ter coragem para fazer coisas que não faríamos se estivéssemos no pleno domínio das nossas razões.
Não sei a resposta exata para esses questionamentos, porém, o que sei, é que me deixei ficar por tempo demais presa a situações que não me fizeram progredir como pessoa, que me deixei ficar inerte diante da possibilidade de resgatar um pedaço de mim que ficou atado a um mundo de ressentimentos e autocomiseração.
Assim, no instante em que recebi o diagnóstico de Esclerose Múltipla, emoções conflitantes emergiram aos turbilhões, escapando de dentro da redoma da minha alma, para alcançar dimensões minhas que jamais imaginei existirem.
É óbvio que sofri, é evidente que passei por momentos de extrema angústia e ansiedade por conta de não vislumbrar um futuro muito promissor. Não posso negar que, durante vários dias, tive por companhia apenas lágrimas e questionamentos ao meu próprio eu. Chorei demais, me afligi em demasia, me deixei estar envolta por um estado de alma que me fez duvidar da minha própria capacidade de superação.
Porém, depois desse período de inércia e de entrega voluntária aos meus sofrimentos, descobri que era possível que eu, mesmo como portadora de Escleros Múltipla, pudesse encontrar nova motivação para prosseguir na busca por minha firmação individual.
Então, emergi, agora sem nenhuma intenção de voltar a mergulhar, das águas turvas dos meus sentimentos inquietantes. Voltei à superfície e inspirei longamente.... senti o pulsar do coração da minha própria vida, que batia no compasso do meu voltar a existir.
Sei bem que ainda tenho um longo caminho para trilhar. Entendo que os progressos que obtive são ainda muito ínfimos diante da magnitude do que posso atingir. Mas, vislumbro um futuro promissor, no qual as lágrimas só rolarão nos momentos de extrema comunhão com o milagre da vida.

Um beijo carinhoso!





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