quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Estou tentando aprender a ouvir....





Saber ouvir quase que é responder.

(Pierre Marivaux)







Há dias em que o queremos é apenas alguém que nos ouça. Precisamos, tão somente, de um ouvido que nos escute, sem interrupções, sem críticas, sem pré-concepções, sem comparações, sem julgamentos.
Nesses dias, só o que não  precisamos é do menosprezo pelas nossas inquietações, pelas nossas angústias, pelas nossas desilusões. Necessitamos, unicamente, de um consentimento velado, de uma palavra de aprovação, de uma concordância, mesmo que momentânea.
Escutar não é para todos, muito pelo contrário, poucos dominam a arte de saber ouvir. Ouvir de verdade, sem interferir, sem sobrepor os próprios problemas aos de quem precisa ser ouvido naquele instante.
Eu já senti isso na própria pele, pois quantas vezes precisei  falar, precisei dizer sobre minhas dores, sobre as feridas abertas que machucavam minha alma e o que encontrei foram apenas repreensões, comparações indevidas, olhares de piedade e falta de compreensão.
E isso se fez mais latente quando me descobri portadora de Esclerose Múltipla. Quantas foram as vezes em que eu queria apenas falar, mas que não encontrei ninguém que pudesse ou quisesse me ouvir, tão somente? Quantas foram as ocasiões em que me senti incompreendida e que não pude receber um gesto de assentimento por tudo o que vivi pelo recebimento do diagnóstico?
Posso afirmar, com certeza, que não foram poucas vezes, de verdade, aliás, posso mesmo dizer que não encontrei nas pessoas a minha volta a sabedoria de apenas me deixar falar, de apenas se disporem a respeitar a minha dor, sem tentarem me confortar com palavras vazias e que, eu tinha consciência, não eram sinceras.
Foram dias difíceis, dias em que remoí dentro do meu próprio eu sentimentos de medo, desamparo, dor e revolta. Foi um período em que precisei calar todas as palavras que queriam sair pela falta de alguém para simplesmente ouvi-las.
Quantas lágrimas derramadas poderiam ter sido poupadas por um gesto de apoio e compreensão? Não sei dizer, apenas sei que busquei derramar meus medos e incertezas por meio do meu choro, já que as palavras ficaram presas no meu interior pela inexistência de alguém para ampará-las.
Os meses passaram, as feridas estão quase cicatrizadas e a necessidade de ser ouvida foi se transformando, aos pouquinhos, em necessidade de escutar. Escutar outras pessoas, escutar outros corações, escutar dores que machucam o coração e entristecem a alma.
Assim, me dispus a aprender a arte de escutar. Não digo que já aprendi, pois ela demanda tempo, exercício e paciência, mas sou uma aluna aplicada e tenho tentado colocar em prática tudo o que procurei encontrar em alguém que pudesse me ouvir, mas que infelizmente não encontrei.
Não sei mesmo se tenho conseguido oferecer meu ouvido àqueles que precisam unicamente de serem escutados. Não sei se tenho feito algum bem àqueles que me contam suas histórias, buscando, tão somente, um gesto de compreensão e assentimento.
Mas, o que sei, de verdade, é que tenho dado o melhor de mim, tenho tentado ser uma pessoa melhor a cada dia, tenho me empenhado em deixar de lado minhas opiniões e convicções para não pré-julgar, não desvalorizar e nem sobrepor minhas próprias angústias às de quem precisa apenas ser ouvido por mim, nada mais.
Por tudo isso, minhas palavras de agradecimento vão para todos os amigos que fiz e que tenho feito a cada dia, vão para todos que confiam à mim suas inquietações, que buscam em mim apenas um ouvido que os ouça, sem críticas, sem interferências, sem incompreensão. Assim, muito obrigada pela confiança e por me permitirem, a cada dia, me tornar uma pessoa mais de bem com a vida.

Um beijo para todos que me têm permitido evoluir na arte de escutar!


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