sábado, 6 de outubro de 2012

Analisando meu eu: antes e depois da esclerose múltipla


A vida não é um acaso. O reinício não é uma circunstância. Felicidade não é um estado de espírito. Crer não é casual. Viver é recomeçar… todos os dias, pelo alvorecer da nossa compreensão, pela confiança do nosso entardecer, pela infância da brandura que todo ser humano deve ter no coração.
Recomeçar é acreditar que a vida se renova… nos nossos pensamentos e, sobretudo, nas nossas atitudes, no fazer e refazer de nossa conduta. É preciso agir, pois, não se pode, de si para si, pensar que a oportunidade de recomeçar é inexaurível, pois, a cada dia, vidas se iniciam e se findam.

(Autor desconhecido)


Hoje, estive a refletir acerca do que mudou em minha vida depois do diagnóstico da esclerose múltipla. 
Passaram-se doze meses desde o surto que levou à investigação da doença e, um ano, é tempo que não acaba mais quando analisamos as transformações pelas quais passamos em nossas convicções e expectativas de vida.
Analisei muito, refleti, repassei toda a minha vida até onde minha memória alcançou, antes e depois de ter sido diagnosticada como portadora da enfermidade.
Revi conceitos que eu julgava solidificados. Revi teorias de vida que acreditava que faziam parte do meu caráter. Revi sonhos e projetos que foram arquivados em uma página qualquer da minha história.
Assim, acabei constatando que, em termos emocionais, eu tive ganhos, durante esse último ano, imensuráveis. Posso dizer, verdadeiramente, que eles foram bem maiores do que todos os outros que tive durante os demais anos em que vivi. Foi um período difícil, não tenho como negar, mas, em uma análise despida de qualquer sentimento de autopiedade, posso afirmar que me tornei uma pessoa muito melhor, muito mais humana, acho que esse é o termo.
Antes do diagnóstico, como já abordei em outra oportunidade, eu sofria da "síndrome da falta de tempo", sofria de ansiedade em níveis que me levavam à beira de um colapso nervoso e, por conta disso,  estava sempre sofrendo por antecedência, sempre vislumbrando um futuro assustador que, na maioria das vezes, não se materializava.
Vivi angústias sem fim por conta de problemas que se resolveram por si sós. Calei-me quando deveria dizer e, falei, quando deveria ter me calado. Carreguei em meus ombros fardos que não competia a mim suportar. Engoli lágrimas de dor e decepção, apenas pelo fato de não deixar meu interior se revelar.
Por bem poucas vezes me permiti fazer o que realmente queria, dar-me de presente algo que me desse satisfação, sem precisar justificar o por quê ou sua utilidade para mim, fosse um bem material ou, mesmo, uma atitude. 
Vivi, assim, durante 43 anos da minha existência. Não digo que tenha sido uma existência em vão, mas, sinto como se não tivesse existido, na verdadeira acepção do termo.
Então, após essa triste constatação, me voltei para uma revisão de tudo o que se passou comigo nesse último ano. E, devo admitir, me surpreendi muito, muito mais do que eu ousava imaginar.
Confesso que foi uma época de muita dor, angústias, questionamentos, mas, por outro lado, vivi momentos que me propiciaram remodelar muitos aspectos de mim mesma, aspectos estes que não servem mais para fazer parte do que eu quero como meta de vida.
A primeira grande mudança e, sobre ela já falei em outro momento, foi deixar de correr contra o tempo e usá-lo a meu favor, não, contra mim. Hoje, dedico-me a coisas que fazem bem para minha alma, corpo e coração, coisas que, até bem pouco tempo, não faziam parte dos meus planos. A meu ver, me eram desnecessárias, eram coisas às quais eu não tinha direito, pois, para mim, eu não era prioridade. A prioridade sempre foram os outros, nunca eu. Eu era apenas alguém que não precisava de nada além do que o necessário, pois, mimos e afetos eram considerados supérfluos, não eram para mim.
Depois, percebi, também, que deixei de me preocupar tanto com a opinião alheia, resolvi ser autêntica, ser apenas eu mesma, dona das minhas opiniões e sentimentos. Não mais permiti disfarçar emoções por conta de olhares de reprovações ou de piedade. Não me interessa mais o que pensam sobre o fato de eu ser pura emoção.... não me interessa mesmo.
Me, descobri, também, como alguém que pode, sim, viver além do mundo que fizeram para mim, tenho planos, tenho sonhos, tenho projetos que executarei, independentemente do que possa a vir acontecer em minha vida por conta da esclerose múltipla, pois, todos são adaptáveis, podem ser revistos e terem traçados alterados a fim de que possam ser colocados em prática, mesmo que meu corpo não esteja como eu gostaria que estivesse.
Acredito, também, que passei a dar importância ao que realmente valha a pena, deixei coisas pequenas e insignificantes que, antes, me causavam amargura, relegadas ao que são de verdade, ou seja, insignificantemente pequenas para fazerem parte das minhas preocupações cotidianas.
Assim, depois de uma análise despida de sentimentalismos e autocomiseração, posso afirmar, seguramente, que estou melhor que antes, pois, mesmo que meu corpo não esteja mais tão bem como antes, minhas emoções se aquietaram, se fizeram menos tirânicas, assumindo o exato lugar que devem ocupar dentro de mim.

Um beijo carinhoso!

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