segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Eu, como ser individual...

Bete Tezine, 2012.



Fiz desaparecer a minha individualidade para nada ter que defender; afundei-me no incógnito para não ter qualquer responsabilidade; foi no zero que procurei a minha liberdade.

(Henri Amiel)




Estive pensando, dia desses, em como nossas convicções, em como coisas que tínhamos como imutáveis, podem se transformar, podem adquirir novos contornos e novas possibilidades. 
A bem da verdade, estamos, constantemente, mudando de opinião acerca de vários assuntos, assumindo novas posturas diante de fatos que nos eram inconcebíveis e, depois de um tempo, mudando o olhar, notamos que aquilo já não é tão impossível de ser assimilado como pensávamos anteriormente. Na verdade, tudo no universo é passível de transformação e, conosco, não tinha porque ser diferente.
Falando por mim, posso dizer que tenho sofrido um sem número de mudanças no meu modo de ver, pensar e agir. Tenho estado em constante mutação do meu olhar e do meu entendimento sobres coisas que, anteriormente, me eram inadmissíveis.
A começar pela minha individualidade, eu posso mesmo afirmar que somente a assumi há poucos meses, pois, antes disso, não me julgava um ser único, não mesmo. Na concepção do meu próprio eu, eu não me via como uma mulher, ou seja, um ser humano do sexo feminino, mas, era, tão somente, filha, irmã, mãe, esposa, amiga... Na minha visão, eu não existia individualmente, nada disso, pois, estava atrelada a um sem número de rotulações, que me via impedida de pensar em mim como um ser individual, dotado de vontade própria e motivos para querer viver minha própria vida, não apenas as dos outros, mas, a minha também. 
Foi aí que, de uma hora para outra, impelida pela descoberta da Esclerose Múltipla, eu fui praticamente obrigada a voltar meus olhos para mim. Precisei parar por um instante e me autoavaliar, me olhar no espelho e perguntar quem eu era, o que eu queria de mim e para mim, como seria dali para frente, o que e como fazer... Indagações, indagações e mais indagações. Repostas? Bem poucas, quase nenhuma, na verdade.
No entanto, me foi impossível deixar de perceber que todas as minhas convicções a respeito do meu papel como ser humano, estavam prestes a ruir, pois, eu não era mais, unicamente, filha, irmã, mãe, esposa, amiga... agora, eu era, também, portadora de Esclerose Múltipla. Fato esse que me mostrou o quanto estamos em constante mutação no que diz respeito aos nossos valores e às nossas opiniões.
Foi assim que, não digo que sem resistência, não digo que sem algum sofrimento, eu necessitei assumir-me como pessoa, sem rotulações, mas, como eu mesma, a Bete Tezine, a mulher. Não a filha, não a irmã, não a mãe, não a esposa, não a amiga... mas, a Bete Tezine, simplesmente. Eu, apenas eu, sem levar ninguém junto de mim. 
Essa, tenho certeza, foi a maior das mutações que sofri na minha visão de mundo, não significando com isso que foi a mais importante, mas, foi a partir dela que tenho, a todo momento, me desvinculado de algumas convicções que não me servem mais e, agregado outras mais compatíveis com a minha nova realidade.
Desse modo, posso afirmar que nada é imutável, nem mesmo, nós.

Um beijo de um ser individual...



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