terça-feira, 6 de novembro de 2012

Aceitando a minha nova condição de vida...

 


Todos os inconvenientes a nosso favor
E diferenças sim, mas
Nunca maiores que o nosso valor

(Charlie Brown Jr)




Conforme já afirmei em postagens anteriores, eu não tenho problema algum em dizer que sou portadora de Esclerose Múltipla, muito pelo contrário, a minha aceitação em me ver acometida por tal enfermidade veio muito rápida. As fases que antecedem-na foram transpostas brevemente, sem grandes mágoas e sofrimentos.

Sinceramente, eu acredito que isso se deve ao fato de eu ter sentido alívio, acho que essa é a palavra, ao poder dar um nome e delimitar contornos para tudo o que me afligia há anos e que, por falta de um diagnóstico, muitas vezes imaginei tratar de criações da minha mente.
Desse modo, ao aceitar a minha nova condição de vida, eu optei por não ocultar de quem quer que fosse que tenho Esclerose Múltipla, sempre frisando isso: sou eu quem a tenho e não ela quem tem a mim. Pois sempre deixo isso bastante claro quando revelo o nome da minha companheira de vida.
Desde o início foi assim, uma vez que recebi a confirmação do diagnóstico no dia 02 de fevereiro de 2012 e, no dia 07 de fevereiro de 2012, ao retornar para a faculdade, eu tive uma longa conversa com todos os meus colegas de turma e professores. Revelei minha nova condição, contei tudo o que estava sentindo, falei dos meus medos, minhas angústias e, principalmente, esclareci o que era a Esclerose Múltipla e o que significava conviver com ela.
Penso que essa foi a decisão mais acertada que tomei, pois, a partir daquele momento, o que recebi dos meus amigos foram olhares de admiração, de companheirismo, de solidariedade e, não, o olhar que eu temia muito, o olhar de piedade.... esse não, eles nunca sentiram pena de mim, muito pelo contrário, o que eu sempre senti em todos eles foi uma vontade imensa de ficarem ao meu lado, me incentivando, me dando forças para superar quaisquer dificuldades que atravessassem meu caminho e que pudessem me fazer desistir de concluir o último semestre do curso de Artes Plásticas. Hoje, mais do que nunca, eu sei que foi a melhor decisão que poderia ter tomado naquele dia e que, a aceitação, foi o melhor que podia ter me acontecido em relação à Esclerose Múltipla.
Quando falo em aceitação, não quero dizer com isso que devemos dar vivas, festejar mesmo o fato de que somos portadores da doença autoimune, nada disso, falo apenas que devemos aceitar o fato inevitável de que ela passou a fazer parte da nossa rotina para, assim, termos a melhor convivência possível com ela.
Não vou dizer que é fácil, não vou dizer que não há momentos em que temos vontade de chorar, de espernear e de nos descabelar quando ouvimos palavras tão ignorantes, na melhor acepção do termo, sobre nossa condição de portadores de Esclerose Múltipla, que nos faz ter vontade, mesmo, de não revelar a mais ninguém essa nossa condição. Porém o que tenho feito, e confesso com bons resultados, é respirar fundo e esclarecer sobre a doença, explicar do que se trata, como ela me afeta, como convivo com ela, quais são minhas expectativas e tudo o mais que se fizer necessário para que outra pessoa, na mesma situação que a minha, jamais um dia possa  vir a ouvir a besteira que ouvi daquela mesma pessoa.
Assim, é que respondo a comentários do tipo: nossa, você é tão jovem ainda, e já esclerosada? Pois, o termo esclerosada não provoca nenhuma reação negativa em mim, uma vez  que o que eu sou mesmo, não sou realmente esclerosada? Esclareço que tenho Esclerose Múltipla e não Alzmheimer. Falo da diferença entre as duas anomalias neurológicas e torno a pessoa com quem converso mais esclarecida. Sei que ela jamais vai deixar de lembrar das minhas palavras.
Assim, é que mostro meu cartão de estacionamento em vagas para portadores de necessidades especiais, juntamente com meu RG, quando ouço, como ouvi hoje mesmo, que não posso estacionar naquela vaga pelo fato de ter saído andando de dentro do carro. Isso acontece sempre comigo e, hoje, não foi diferente. Então, dei uma pequena aula à quem me interpelou e o deixei com informação suficiente para nunca mais agir dessa maneira.
É, desse modo, que respondo com bom humor à perguntas do tipo: você ainda está reconhecendo as pessoas à sua volta? Nossa, como você consegue estudar, escrever, conversar tão bem, tendo essa doença? Nesses momentos, sempre dou uma gargalhada e mais uma vez, pacientemente, conto sobre o que a Esclerose Múltipla pode fazer e o que ela não pode fazer comigo. Sei que essa minha atitude fará que essas pessoas nunca mais sejam ignorantes com relação a isso e que, qualquer outro portador com o qual elas tiverem contato, estarão livres do constrangimento de ouvir da boca delas tais questionamentos.
É dessa forma que, quando estou na fila preferencial de um supermercado ou banco e, ouço indiretas sobre o fato de aquela não ser a fila adequada para mim, eu opto, pacientemente, em esclarecer minhas condições físicas, falo sobre a Esclerose Múltipla, seus sintomas e o que me provoca ficar em pé durante muito tempo. Isso, com certeza, fará que aquelas pessoas que estão ali, naquele momento, pensem muito antes de falarem do mesmo modo em outra ocasião em que se depararem com outro esclerosado, como eu.
Essa foi a forma que encontrei de lidar com a minha amiga diária. Foi a forma que achei de fazer a minha parte para que a Esclerose Múltipla deixe esta orla de mistérios e se torne livre de preconceitos. Acredito, sem falsas demagogias, que será pelo conhecimento que deixaremos de ser tidos como pessoas absolutamente incapazes de viverem a vida plenamente.
Somos seres humanos normais que, apenas, em um ou outro momento da vida, fomos contemplados, por assim dizer, com uma companhia mal vinda, mas que, com muita paciência e cuidado, podemos torná-la menos insuportável, menos indigesta, de verdade.

Um beijo sincero...

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