sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Aceitar... a nossa família também precisa disso





Devemos aceitar o que é impossível deixar de acontecer.

(Shakespeare)






Acredito que viver com qualquer doença crônica e incurável traga mutações imensuráveis para a vida de qualquer pessoa. 
Aceitar e conviver com uma enfermidade que nos limita, nos remodela e, muitas vezes, nos incapacita para uma série de atividades tão corriqueiras anteriormente, mas que, com a instalação da anomalia, ficaram praticamente, ou mesmo, impossíveis de serem executadas, não é uma tarefa fácil, pelo contrário, é mesmo árdua e necessitamos de muita força de vontade, de muito equilíbrio emocional e espiritual para aceitarmos nossa nova condição de vida e nos adaptarmos a ela, sem causar danos irremediáveis em nosso próprio ser.
Por outro lado, se a nossa própria convivência com a doença, no meu caso, com a Esclerose Múltipla, já é uma missão pesada por demais, o que dizer da convivência dos que no rodeiam com ela? Não, não é nada fácil, uma vez que aceitação não é apenas primordial a nós, portadores, mas necessário se faz que ela aconteça na vida de todos aqueles que convivam conosco. E, isso, na minha concepção, é o mais difícil de todo o processo.
Conviver com o portador, aceitar sua nova condição, compreendê-lo e apoiá-lo incondicionalmente, não acontecem com a frequência que deveriam. Não mesmo. Pelo contrário, o que tenho sentido, e isso digo pela minha própria experiência, é um constante estado de negação por parte dos nossos entes queridos.
A negação, portanto, não é exclusividade nossa, eu a sinto mais latente nos nossos próprios familiares.
Eles não se informam acerca da doença. Eles não a abordam. Eles tentam, a todo custo, ignorarem a sua presença em nossas vidas. O que só nos faz sofrer ainda mais. Nos faz sentir menosprezados em nossa dor. Nos faz sentir menos amados.
Mas, embora nos traga mais sofrimentos ainda, essa é uma reação normal e esperada, pois, ao negarem a enfermidade em nossas vidas, nossos entes queridos acreditam, piamente, que ela deixará de existir e não falando abertamente sobre ela conosco, acreditam, também, que nos pouparão de mais dores e angústias. Porém, negar indefinidamente não é o que se espera, pois, a aceitação por parte daqueles que nos rodeiam, é que faz com que consigamos forças para prosseguirmos com nossas vidas dentro da maior normalidade possível.
Assim, é imperiosa a necessidade de que nossa família busque informações, que procure entender o que se passa conosco, que tente se colocar em nosso lugar com a finalidade de ver a doença sob o nosso ângulo de visão. Então, desconversar, fingir que não está vendo ou tentar minimizar a importância que a anomalia tem em nossas vidas, não vai fazer com que ela desapareça, mas apenas fará com que doa mais em nós e nos dê a impressão de que estamos sendo negligenciados nas nossas angústias por nos vermos acometidos por uma enfermidade incurável.
Diante de tudo isso, o que tenho visto com frequência é um nível tão alto de negação por parte de algumas pessoas que torna-se impossível a convivência delas com os portadores, pois não são poucos os companheiros, sejam cônjuges ou namorados, não importa, que preferem simplesmente abandonarem o barco, metaforicamente falando, do que buscarem compreender e se adaptar a nossa nova realidade de vida. Triste isso, mas é assim que acontece muitas vezes.
Então, aceitar e se adaptar não é fácil para ninguém, mas quem disse que é fácil nos submetermos aos desígnios da vida? Quem disse que é fácil conviver com tudo aquilo que nos tira da nossa zona de conforto? 
Realmente, nada disso é simples, mas o caminho para superação é a informação, é a interação com os sintomas, com as características, tratamentos e conflitos emocionais que se instalam quando da descoberta da doença, pois, só assim, nos sentiremos respeitados e compreendidos em toda dimensão do que se descobrir portador de uma enfermidade degenerativa e sem cura provoca em nós.

Um beijo no coração de todos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário