sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Memórias de infância...

Minha primeira comunhão em 1977
( eu tinha 10 anos nesta fotografia)







As lembranças da infância são eternas - Fantasmas permanentes, selados, assinados, impressos, sempre visíveis.

(Cynthia Ozick)











Tenho tido falhas de memória. Palavras me escapam no meio de uma fala, comecei a trocar os nomes das pessoas, não lembro onde guardei objetos, esqueço datas de aniversários (coisa que eu nunca fiz até algum tempo atrás), porém, existem algumas lembranças da minha infância e início da adolescência que estão bem vivas, ainda, dentro da minha mente e espero que continuem até o fim dos meus dias.
Eu tinha apenas 3 anos quando meu avô paterno faleceu, no entanto, lembro nitidamente dele sentado sobre um tronco de árvore no fundo do quintal, em meio às verduras que ali cultivava, com sua boina xadrez, fumando cachimbo com o olhar preso às nuvens, pelo menos era o que eu achava enquanto o observava de perto. Lembro do seu bigote farto, dos seus cabelos negros e lisos e da sua pele amorenada pelo sol. Essas são imagens que jamais se perderão, pois eu a desenhei na minha mente com tinta a prova d'água e de Esclerose Múltipla.
Meu irmão tinha cerca de 1 ano quando teve uma grave desidratação e precisou ficar hospitalizado por alguns dias. Naquela época, não existia lei que dava o direito à mãe de ficar com o filho no hospital, então minha mãe ia visitá-lo todos os dias. Trago muito nítido o dia em que ele voltou para casa de alta médica, ele chegou com tanta fome, deve ter estranhado a alimentação do hospital, que minha mãe passou vários minutos dando bolachas molhadas no leite na boca dele. Eu ria de alegria por ele estar de volta. Eu tinha 4 anos quando isso aconteceu.
Minha irmã nasceu quando eu tinha 5 anos. Me recordo que estava na casa da minha avó, brincando com meu irmão que na época tinha 2 anos e um vizinho mais ou menos da minha idade. Estávamos no quarto quando minha avó, apoiando-se no batente da porta, disse alegremente: o bebê nasceu, é uma menina. Passaram uns dias, para mim naquela época foram meses, minha mãe voltou do hospital com minha irmã no colo, toda embrulhada, parecendo um pacote e essa visão eu nunca esquecerei.
Poucas crianças, na década de 70 frequentavam a pré-escola. Foi assim que, em 1975, aos 7 anos de idade, eu fui segurando na mão da minha avó para o meu primeiro dia de aula. Eu ainda não tinha uniforme, então estava com um vestido listrado de amarelo e branco, com botões dourados e bolsos na frente. Nos pés eu calçava uma "legítima havainas" (rsrsrsrsrs) e levava um caderno, um lápis e uma borracha em uma sacolinha de papel. Na hora do recreio, como chamávamos o intervalo para o lanche naquela época, eu comprei um pão doce e uma fanta uva na cantina da escola, me sentindo o máximo. Foi um dia marcante demais na minha vida e, também, está gravado a tinta aqui dentro da minha memória.
Nunca fui boa em matemática, mas, não sei o que aconteceu quando eu tinha 10 anos, que fui considerada a melhor aluna da escola e fui para as olimpíadas de matemática da minha cidade. Eu não ganhei o prêmio, no entanto, durante os dias que antecederam a prova final,  tive muitas regalias em sala de aula (rsrsrsrsrs): fiquei isenta de fazer lições de casa, não precisava fazer cópias, nem quando a sala inteira teve de escrever 100 vezes que não devia jogar papel no chão eu precisei cumprir o castigo. Isso também é uma das lembranças que serão perpétuas, tenho certeza.
Quando eu tinha 11 anos, minha mãe engravidou do meu irmão caçula. Ele nasceu 4 dias antes de eu completar 12 anos e, daquele dia em diante, eu deixei de ser criança. Troquei as bonecas por um bebê de verdade, pois aprendi a dar banho, trocar fraldas, dar mamadeiras e me tornei a babá do meu irmão. Um ano depois, assumi o sustento da casa, mas isso eu já contei em outro post.
Hoje, ao procurar uma fotografia minha de quando criança, fui tomada por uma nostalgia que me trouxe à tona todas essas recordações.  Essas são as lembranças mais marcantes da minha infância, porém, tenho muitas outras, algumas já pálidas, outras ainda bem vivas, algumas alegres, outras tristes, mas cada uma delas é um pedaço do começo da minha história como pessoa. É um ponto na colcha de retalhos da minha vida...

Feliz dia das crianças para todos nós que seremos eternas crianças!

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