Um dom de fênix para renascer das minhas próprias cinzas,
Bete Tezine, Autorretrato, 2013. Pintura digital sobre fotografia. |
“No meio do caminho tinha uma pedra”
Como em todo caminho tem uma perda
Eu dei o melhor de mim, lutei com as armas que sabia lutar
Fui derrotado, eu assumo.
Apenas fui. Não sou. Não serei.
E agora?
Levantarei de novo, quantas vezes for preciso
Não usarei ninguém como espelho
Quero chegar à frente e ver minha própria imagem
O reflexo do que sou, do que fui e do que serei....
(Jefferson Cavalcante)
No dia em que completo 46 anos ou, como diria o poeta, 46 primaveras, parei para refletir um pouco sobre a trajetória pela qual a vida me guiou até o dia de hoje.
Quantas coisas eu vivi! Quantas ideias amadureci, quantas outras descartei e outras tantas agreguei! Quantas verdades desfizeram-se no tempo e quantas outras permaneceram como absolutas!
Na verdade, minha vida tem sido um constante aprendizado, sobremaneira no que tange à forma como passei a olhar para mim mesma nas várias etapas da minha existência. Para cada fase uma visão do mundo! Para cada período uma leitura das emoções humanas!
Voltei no tempo e me vi, novamente, a adolescente cheia de sonhos e projetos, determinada a seguir meus próprios passos, a chegar ao cume dos meus ideais. Nessa fase eu tinha tantas verdades absolutas, pensava que era quase indestrutível e que nunca permitiria que ninguém ditasse as regras da minha vida. Quanta ilusão, afinal a vida é feita de regras por mais que não queiramos enxergar!
Aos 20 anos, eu já tinha percebido que nem tudo o que eu havia sonhado era passível de ser vivido, pois muitos dos meus sonhos iam de encontro às minhas reais possibilidades. Assim, algumas das minhas verdades absolutas passaram a ser verdades relativas e eu compreendi que não era tão invencível como eu acreditava ser.
Aos 25 anos, fui mãe pela primeira vez. Nossa! Naquele momento percebi o quanto eu teria de mudar minhas convicções acerca de quem eu era e de até onde eu iria. Ser mãe me fez ver que eu não era mais o centro do meu próprio universo, mas por outro lado me abriu as janelas da alma e eu conheci, pela primeira vez na vida, o amor incondicional.
Aos 30 anos, amando incondicionalmente um ser que dependia completamente de mim, abri mão de mais alguns sonhos, não por escolha própria, mas por rumos que a vida tomou sem me dar chance de escolha. Nessa fase, algumas outras das minhas verdades absolutas se mostraram errôneas e fui obrigada a reconhecer que, talvez, seguir meus próprios passos não me levaria aonde eu queria chegar, então, percebi que eu precisava mudar minha trajetória.
Aos 35 anos, já mãe pela segunda vez, agora amando incondicionalmente dois seres que me amavam da mesma forma e com uma reviravolta completa em minha vida, descobri que era muito mais forte do que jamais pude supor e precisei recomeçar do zero, revendo metas, desarquivando sonhos. Foi a primeira vez que tive de plagiar a fênix, renascendo de minhas próprias cinzas.
Aos 40 anos, lutando uma batalha por dia, vencendo umas, perdendo outras, precisei ir reinvento-me dia-a-dia, a fim de manter minha sanidade. Nada foi fácil nessa fase da minha vida, quanto choro derramado, quantos sapos engolidos, quantas dores não doídas, quantos medos aflorados, quantas mágoas reprimidas. Mas, olhando por outro lado, foi nesse período conturbado que morri e renasci tantas vezes que superei a própria fênix na capacidade de ressurreição.
Hoje, com 46 anos, diagnosticada há 21 meses com Esclerose Múltipla, ainda amando incondicionalmente dois seres que já não dependem completamente de mim, tenho suportado todas as adversidades e, por mais que a vida tenha me sacudido, não desabei e posso afirmar, com toda segurança do mundo, que apesar dos percalços, apesar da minha companheira tentar, por diversas vezes, me monopolizar, chego aqui me sentindo mais bonita, mais sábia, mais segura, mais capaz, mais feliz... muito mais feliz!
Um beijo carinhoso no coração de todos!
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