domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma entidade chamada mãe...


Minha filha Carol

Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de agir corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.

(José Saramago)


Quando meu filho  tinha, mais ou menos, uns 5 anos de idade, a sua dentista me disse que se um dia eu tivesse R$ 200,00 para comprar um tênis para ele, para eu não comprar, mas sim, comprar um de R$ 100,00 para ele e um de R$ 100,00 para mim e, acrescentou, que não se tratava de um conselho, mas, de uma constatação de quem já tinha dois filhos adultos. Me disse, ainda, que isso não significava deixar de fazer o melhor possível pelos nossos filhos, mas, de não deixar de fazer por nós mesmos, também. 
Naquele dia, eu não concordei com as palavras dela, ou melhor, acho que, como mãe de um único filho ainda criança, eu não compreendi a real dimensão do que ela quis me dizer.
Os anos passaram, tive mais uma filha e, recentemente, em uma das minhas seções de psicoterapia, minha psicóloga me disse que, na visão dos filhos, mãe não era mulher, mas sim, uma entidade. 
Meu filho Guilherme aos 5 anos de idade
Essa fala ficou dias ecoando na minha cabeça e me fez relembrar as palavras da dentista do meu filho. Passei dias fazendo uma análise mental do que elas quiseram dizer com essas palavras e, só agora, consegui compreender o real significado delas.
Não é exagero dizer que sou a mãe mais coruja e protetora do mundo e que abri mão de muita coisa por amor e dedicação aos meus filhos. Não me arrependo disso, não mesmo, mas, olhando para trás, percebo que poderia ter sido diferente, poderia mesmo ter sido a melhor mãe do mundo e, a melhor mulher também. Hoje, descobri que é perfeitamente possível conciliar ambas as coisas, pois, não é preciso deixar de ser mulher para ser mãe, bastando, para isso, não deixar de lado a nossa individualidade, nossos sonhos e projetos de vida.
Nossos filhos crescem, tomam seus próprios rumos e trilham seus próprios caminhos e, isso, independe da nossa vontade, pois, eles irão de qualquer jeito, eles crescerão mesmo que não queiramos, eles alçarão voo mesmo que tentemos podar suas asas. E, quando isso acontece, restará a nós a nossa própria vida, a vida que sobrou após nossos filhos terem se tornado donos das suas próprias escolhas.
Meus filhos ainda não atingiram a total independência de mim, posto que o rapaz, hoje com 20 anos, ainda está iniciando seu processo de "desmame", por assim dizer, enquanto minha filha, uma adolescente de 13 anos, embora já queira se libertar de algumas das amarras que lhe imponho, é ainda quase que totalmente dependente dos meus cuidados.
Porém, independentemente disso, hoje eu compreendi, de verdade, as palavras da minha psicóloga ao dizer que os filhos não enxergam a mãe como uma mulher, pois, meus filhos têm deixado isso bem claro ao expressarem total desagrado com o fato de eu ter começado a dedicar meu tempo a outras coisas que não seja ser mãe 24 horas por dia. Eles me cobram a atenção que sempre tiveram, mas que nunca perceberam que tinham. Não é que eu tenha deixado de lhes dar atenção, apenas passei a dar um pouco para mim também. Passei a prestar mais atenção ao que me faz bem, ao que me deixa feliz e, isso, os incomodou demais.
Dia desses, eu consegui perceber ainda mais nitidamente o que minha psicóloga quis dizer ao afirmar que mãe, para filho, é uma entidade, quando falei para minha filha que estava sentindo saudades de pegar um bebê no colo e, acrescentei, que estava pensando em ter mais um filho. Ela, literalmente, surtou, disse que não queria de jeito nenhum mais um irmão e, finalizou, dizendo que, além do mais, eu não tinha mais idade para ser mãe. Foi, nesse momento, que descobri que minha filha já me considera uma mulher que deveria apenas se dedicar ao crochê, tricô, bordados ou outras coisas do gênero, pois, como entidade que sou (na visão dela), não posso recomeçar minha vida e retomar minha porção feminina, vivendo sonhos, projetos e, mais precisamente, renascendo para uma nova vida.

Um beijo no coração!

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