sábado, 26 de janeiro de 2013

Mudando o foco...

 Não foi mágica, apenas uma mudança consciente de foco. Troquei de canal para levar minha vida pra passear um pouco. Para soprar algumas nuvens. Para respirar melhor. Ao permitir que o pensamento se dissipasse, abri espaço para mudar meu sentimento. O problema continuava no mesmo lugar; eu, não. Nós nos encontraríamos outras tantas vezes até que eu pudesse solucioná-lo, mas eu não precisava ficar morando com ele enquanto isso.

(Ana Jacomo)


Ontem, no decorrer da minha sessão de psicoterapia, em um dado momento, minha psicóloga me perguntou se eu havia reparado que, há tempos, a Esclerose Múltipla não estava mais sendo o foco das nossas conversas. Na verdade, eu já vinha observando isso há algum tempo, pois, em outros aspectos da minha vida, também, a minha companheira tem assumido uma posição secundária.
Não vou dizer que ela tem estado adormecida nesse tempo todo, não mesmo, pois, ela teima em me lembrar da sua presença diariamente. Me cutuca, me chacoalha, me dá choques pelo corpo, balança minha cabeça intermitentemente, mistura minhas ideias, tira a força da minha perna e do meu braço esquerdos, me provoca espasmos, me extenua... afinal, continua completamente ativa.
No entanto, o que tenho percebido, é que depois que aceitei a sua presença na minha vida como fato, ao menos por ora, imutável, ela, realmente, assumiu um peso bem mais leve do que tinha quando eu, nem ao menos, sabia seu nome ou tudo o que ele trazia na sua bagagem. Verti um choro dolorido por algum tempo, é verdade, me senti a pessoa mais infortunada do mundo, tive pena de mim, mergulhei na autocomiseração e me senti refém da enfermidade autoimune. Todavia, tudo isso, gradativamente, foi sendo substituído pela redescoberta de um lado meu esquecido, há tempo suficiente, para que tivesse sido relegado à total insignificância para meu próprio eu.
Foi, assim, que percebi que o fato de ser "esclerosada" não me condenava, perpetuamente, a uma vida descolorida, na qual eu viveria em função, tão somente, das minhas dificuldades, dores e dissabores por conta da minha doença. 
E isso foi assim tão fácil? Sei que essa pergunta será formulada, mesmo que mentalmente, por diversas das pessoas que lerão este post. A resposta, de verdade? Não, não foi e não tem sido nada fácil. 
Tenho tido durante esses 15 meses que se passaram desde o surto que desencadeou o diagnóstico, momentos em que parece que vou sucumbir e me entregar de corpo e alma à Esclerose Múltipla, porém, sempre que sinto ela me rondando em busca de um oportunidade para me envolver nas suas tramas maléficas, eu me esgueiro, me disfarço, me distancio, faço malabarismos, mas, não permito que ela me alcance... levo comigo seus efeitos inevitáveis, mas, além disso, eu não carrego mais.
Por tudo isso, era mais do que esperado que, eu, ao invés da Esclerose Múltipla, passasse a ser o foco das minhas sessões de psicoterapia, afinal, eu estou no controle, sou eu quem a  carrego e, não, ela quem carrega a mim.

Um beijo focado no coração...

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