quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Minha escrita...



Eu escrevo para mudar o conceito de escrita. Eu escrevo pela falta de conceitos.
Eu não quero escrever por me sentir pequena demais, não tenho razões. Tenho impulsos que me levam a gastar canetas no lugar de lágrimas e papel ao invés de sofrimento.
Eu gosto da magia de descrever o que os olhos fogem da obrigação de dizer.
Escrever aproxima do céu.

(Verônica H.)



Desde criança, colocar minhas ideias sobre uma folha de papel nunca foi problema para mim, muito pelo contrário, sempre tive facilidade em derramar minhas emoções em forma de escrita.
Os que são contemporâneos meus, devem lembrar das comemoração cívicas nas escolas impostas pelo regime militar. Comemoravam-se todas as datas importantes registradas nos calendários, como independência do Brasil, dia do índio, proclamação da república e por ai vai. Nessas comemorações, além do Hino Nacional e do Hino da Escola, impreterivelmente, haviam apresentações de jograis e leituras de textos, tanto os que já estavam prontos na literatura, quanto os escritos pelos alunos e professores. Invariavelmente, ano após ano, eu fui encarregada de escrever ao menos um texto para ser apresentado nas diferentes datas comemorativas.
Assim, o tempo passou, eu cheguei ao Ensino Médio (naquela época o Colegial) escrevendo continuamente para os diversos tipos de eventos que ocorriam na minha escola. 
Daquela época, ainda tenho bem nítido na minha lembrança, a professora Mabel que lecionava uma disciplina chamada, se não me falha a memória, PIP - Programa de informação profissional, e que sempre me aconselhava a seguir a carreira jornalística, haja vista o meu entrosamento com a escrita. 
O tempo passou e, por uma série de circunstâncias, a minha vida tomou um rumo em que a escrita ficou arquivada por anos a fio, uma vez que eu não tinha mais razões para escrever nada além de cartas comerciais e alguns cartões de boas festas. Vale dizer que não segui a carreira jornalística e acabei, muitos anos depois do término do ensino médio, enveredando pelo estudo do Direito, sendo que, durante todo o curso, produzi boas peças processuais, mas, aquela escrita dos meus tempos de escola, continuou trancafiada em algum cantinho do meu cérebro.
Mais uns anos se passaram, o Direito, também, foi arquivado e acabei por realizar um sonho antigo: cursar uma faculdade de Artes Plásticas. Durante todo o curso, a expressão dos meus pensamentos e sentimentos por meio da escrita foi transparecendo, timidamente, nas justificativas para os trabalhos práticos desenvolvidos. Ao término da faculdade, meu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, nada mais foi, como o próprio título dizia, um retrato de mim. Nele, deixei fluir toda a minha essência interior e, por meio da escrita, talvez muito mais que pelo trabalho prático, produzi meu autorretrato.
Todavia, após o final do curso, já tendo sido diagnosticada como portadora de Esclerose Múltipla, eu me vi sem motivação para prosseguir minha caminhada, me senti completamente só, sem perspectiva alguma e me deixei levar pela autopiedade e pela desilusão com a minha própria vida. Me faltavam forças para reagir e prosseguir com minha história.
Desse modo, me deixei ficar em um real estado de inanição por quase 60 dias, mas, felizmente, eu emergi da apatia que me consumia em tempo de não me tornar refém permanente da falta de confiança em mim mesma e, decidi, após muito pensar sobre o assunto, usar a habilidade que descobri ainda criança, para por para fora de mim minhas inquietações como portadora de Esclerose Múltipla e, muito mais, as que carrego comigo 
como ser humano que sou. 
Foi, assim, que esse blog tomou forma, primeiramente na minha mente, para, depois, ganhar um corpo real e receber em seus posts, todas as minhas mazelas, dores, angústias, apreensões, expectativas, alegrias, vitórias, conquistas, superações, decepções... afinal, tudo o que tenho vivido ao longo de toda minha vida, antes e depois de me descobrir "esclerosada". 
Hoje, depois de mais de 4 meses do início do blog e, contando com este, 103 posts publicados, posso dizer, seguramente, que a escrita me salvou de uma depressão e de um mergulho, sem volta, na autocomiseração e na falta de amor próprio. 
Não sei dizer se o que escrevo faz sentido para alguém, além de mim mesma, mas, minhas palavras, nada mais são do que a tradução da parte mais íntima e profunda do meu ser. São, literalmente, um retrato de mim.

Um beijo por escrito!

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