segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Um momento traumático...




Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.

(Jean-Paul Sartre)




Ninguém continua sendo a mesma pessoa após ter passado por um momento traumático. Seja que trauma for, seja de que espécie for, por mais que tentemos, algo dentro de nós se modifica irremediavelmente, uma vez que é impossível que sejamos os mesmos de antes.
Falando por mim, eu já vivi momentos que me marcaram profundamente e que acabaram por me fazer ver muitas coisas que, antes, eu não enxergava ou, para ser muito sincera, fingia para mim mesma que não estavam ali, apesar das suas presenças me causarem diversos tipos de danos.
De todos os momentos traumáticos que vivenciei, sem sombra de dúvida nenhuma, posso dizer que o pior deles, foi um roubo que ocorreu em minha casa há 8 anos atrás. Até hoje quando me lembro, algo se move dentro de mim e me remete à toda gama de sentimentos que despertam as sensações de impotência, medo e raiva que sentimos ao nos vermos completamente dominados, dentro da nossa própria casa, o local onde devíamos nos sentir seguros, mas, no qual nos tornamos reféns de bandidos.
Foi em uma noite de domingo, voltávamos da igreja. O pai dos meus filhos dirigindo, meu filho, com 12 anos, vinha sentado ao seu lado e eu no banco traseiro com minha filha, de 5 anos, adormecida no meu colo. Mal paramos em frente ao portão, fomos dominados por 6 bandidos, armados, que nos renderam e entraram conosco em nossa casa. 
A arma o tempo inteiro apontada para a cabeça do meu filho. Ameaças. Violência moral. 
Durante 2 horas, eles reviraram minha casa, ameaçaram atirar na cabeça do meu filho, rasgaram lençóis pra nos amordaçar, cortaram os cabos dos telefones e nos amarraram com eles, tomaram sorvete na minha cozinha...
Tudo que tinha algum valor foi levado. Mas, o que não tinha muito valor também, como cofrinhos de moeda, desodorantes e carnes que estavam no freezer.
Levaram, também,  meu carro e nossa confiança na segurança do nosso próprio lar.
Durante o roubo, pude experimentar a mais completa sensação de impotência, que um ser humano pode sentir, ao ver a arma apontada para a cabeça do meu filho. Posso dizer que, naquele momento, eu fiz tudo o que podia para ajudar os bandidos a encontrarem o que queriam, tendo, inclusive, ido até a garagem, acompanhada por um deles, para desativar todos os alarmes do meu carro. É estranho como queremos que eles simpatizem conosco, nessa hora, a fim de não nos causarem nenhum dano físico, uma vez que os danos morais já se instalaram imutavelmente em nós.
Nos dias que se seguiram ao roubo, vários sentimentos foram se alternando. Primeiro, o medo pelo que poderia ter acontecido, perdurou por vários dias. Depois, veio a revolta, a raiva por ter me tornado refém dentro da minha própria casa. Um ódio infinito, uma sede de vingança, uma vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Em seguida, voltou o medo, o temor de que tudo o que vivemos naquele dia pudesse vir a se repetir, um medo desenfreado, pânico, pânico, pânico. Por fim, a desconfiança de tudo e de todos, ninguém mais era inocente, ninguém que estivesse andando pela rua, ninguém que olhasse para mim, todos eram suspeitos da iminência de cometer outro crime igual àquele.
Passados alguns anos, quando fecho os olhos ainda vejo a arma apontada para a cabeça do meu filho durante 2 horas seguidas, ouço a coação moral, revivo o medo, a raiva e a impotência, porém, tenho tentado me focar no fato de que por mais que, psicologicamente, tenha sido difícil demais, não sofremos nenhuma violência física além de termos sido amarrados e amordaçados. Não tocaram em nenhum de nós e isso, não tem preço para uma mãe que temeu pelos seus filhos como nenhuma mãe nesse mundo merece sofrer. 
Dificilmente, um dia irei deixar de reviver aqueles momentos, mas, hoje, falar sobre isso já está menos doloroso, pois já tenho conseguido não ficar trêmula quando relembro aquela noite de domingo, mais precisamente, dia 20 de fevereiro de 2005, das 21h30min às 23h30min, aproximadamente.

Um beijo...

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