segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Um grito de revolta!

Edvard Munch, O grito, 1893. Óleo
sobre tela, Têmpera e Pastel sobre cartão





Porque há o direito ao grito.
então eu grito.


(Clarice Lispector)










Hoje, eu quero expressar toda minha revolta contra viver acompanhada por uma doença multifacetada que me exaure, me tiraniza e ainda faz pouco de mim. E, por favor, não me diga que existem doenças piores que a Esclerose Múltipla, nesse momento, amanhã você me diz.
Hoje, eu quero gritar aos quatro cantos do mundo que levantar exausta depois de uma noite de sono é uma sensação odiosa, que me deixa completamente indignada por meu corpo não conseguir acompanhar meus pensamentos. E faça-me o favor de, apenas por hoje, não dizer que tenho de respeitar meu próprio ritmo, descansando de hora em hora, deixa para me falar isso amanhã, tudo bem?
Hoje, eu quero colocar para fora toda minha frustração por ter de descer escadas como uma criança aprendendo a andar ou um idoso desaprendendo a andar. Um pé, outro pé, os dois no mesmo degrau... eu só queria poder descer um pé, outro pé, um em cada degrau. E, por gentileza, não venha me dizer que eu devia agradecer por ainda poder descer escadas quando muitos não conseguem mais, amanhã você me fala, pode ser?
Hoje, eu quero gritar que estou farta de correntes elétricas percorrendo meu corpo, me arrancando tantos "ais" e olhares surpresos das pessoas. E não me diga que imagina o que eu sinto, completando que levar choques é ruim demais. Deixa para me falar isso amanhã. Hoje, não quero te ouvir.
Hoje, quero sapatear, fazer manha, me rebelar na hora da aplicação do Rebif, quero dizer que nunca mais vou tomar esse malvado, pois estou farta de sentir dores de cabeça e meu nariz congestionado, além dos outros sintomas que ele provoca em mim. E, não venha me dizer, eu lhe imploro, que é um mal necessário, que apesar dos efeitos colaterais eu necessito das injeções para poder ficar melhor o maior tempo possível. Transfira essa fala para amanhã; hoje, meus ouvidos estão fechados para você.
Hoje, quero gritar contra a solidão da sala de espera do consultório neurológico, contra a falta de um sorriso, uma palavra, um olhar compreensivo, um "estou aqui com você". E, não comece com o discurso de que eu, embora estando só, estava acompanhada em pensamentos por aqueles que se preocupam comigo, pois eu não queria companhia apenas em pensamento hoje, amanhã, eu volto a aceitar e me sentir menos só.
Hoje, quero me revoltar contra o calhamaço de receitas, relatórios, solicitações de exames que foram colocados, friamente, em minhas mãos, sem ao menos um "boa sorte" no final da consulta médica. E, não venha tentar me consolar, dizendo que a maioria dos médicos são assim, amanhã você me fala e eu prometo concordar com você.
Hoje, eu quero chorar por horas a fio, morrendo de dó de mim mesma por ser esclerosada, epilética, ter refluxo gástrico, hipertensão, fazer uso de antidepressivo, ter enxaqueca e TPM. E, não me faça discurso de que não devo chorar, que é necessário ser forte, encarar tudo de frente, porque hoje, sinceramente, quero ser fraca, impotente, chorar todas as minhas lágrimas entaladas na garganta. Então deixe para tentar levantar meu astral amanhã, tudo bem?
Hoje, vou dar meu grito de revolta contra surtar e pulsar, contra o gosto de fel na boca e o sentir-se inflar. E, eu te peço encarecidamente, não me venha com tentativa de consolo, dizendo que isso passa logo, que o inchaço vai embora e que o surto não vai deixar sequelas desta vez. Por favor, eu lhe peço, novamente, deixa para me falar isso amanhã, pois, quem sabe, quando eu acordar, eu volte a ser aquela que eu era quando acordei hoje cedo.

Hoje, não mandarei beijos, mas um obrigada por me escutar e me respeitar!

5 comentários:

  1. Chora, mulher, é teu direito. Amanhã estarei aqui, te acompanhando. Chore!

    ResponderExcluir
  2. Olá Vera!

    O choro entalado na garganta está saindo pra lavar a alma cansada de ser forte! Amanhã a força volta e a revolta dorme por mais algum tempo!

    Beijos, até amanhã!

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir