segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Não, não é apenas cansaço!




O que nos tranquiliza no sono é a certeza de que dele retornamos. E ele nos cura temporariamente da fadiga pelo mais radical dos processos, isto é, arranjando para que cessemos de existir durante algumas horas. 

(Marguerite Yourcenar)





Eu tenho certeza de que muitos esclerosados como eu irão se ver nestas minhas palavras, porém, eu gostaria de que os que não possuem, felizmente, a mesma enfermidade que nós, também prestassem muita atenção no que vou dizer acerca do que é  viver acompanhada por uma tirana bipolar feito a Esclerose Múltipla.
Sem dúvida alguma, ela provoca em quem a possui os mais diversos sintomas, que vão desde leves tremores, choques elétricos, formigamentos, desequilíbrios, até incoordenação motora, alterações visuais e descontrole urinário e intestinal, entre outros. No entanto, apesar de ter alguns desses sintomas também, o que mais me exaure é a fadiga desproporcional e debilitante que toma conta de mim sem aviso prévio e sem motivo que a justifique.
Quem compartilha comigo desse sintoma sabe bem o que estou dizendo. Sabe o que é perder o controle do próprio corpo de um minuto para o outro e necessitar de um repouso urgente, repouso este que nem sempre consegue restabelecer nossas energias. Entende o que é se levantar da cama pela manhã, depois de uma noite de sono, completamente exausto, como se não tivesse dormido nem um minuto sequer. Compreende o que é ficar ofegante até para falar, o que é ter os pensamentos embaralhados e a visão ficar turva e confusa de tanta exaustão.
Não, não é apenas cansaço o que sentimos quando a fadiga nos visita. Nós nos cansamos por fazer um esforço excessivo, enquanto nos fatigamos sem fazer qualquer tipo de esforço. Fadiga é muito mais que um cansaço, é um exaurimento sem causa aparente que nos debilita e nos tira de campo impiedosamente.
Por anos eu não entendi o por quê de tanto "cansaço", pois ainda não sabia o que me acometia. Me sentia culpada, pois os médicos não achavam nada que justificasse tamanha falta de energia. Sentia vergonha de não conseguir realizar minhas tarefas diárias e me arrastava tentando não demonstrar para os outros o que estava sentindo. 
Sofri demais, me violentei tantas vezes me obrigando a fazer coisas que meu corpo não suportava mais fazer que, por vezes, me entreguei ao desespero por me sentir a menor e pior das criaturas. Me sentia incapaz, insignificante e, como muitas vezes ouvi, preguiçosa, embora soubesse que havia algo errado comigo, mesmo que nada corroborasse com esse meu sentimento, ou melhor, pressentimento.
Os anos passaram, foram muitos, pelo menos uns 25, acredito que mais até, e o diagnóstico da esclerose múltipla veio tarde, mas veio, tirando de mim algumas toneladas ao descobrir que havia razão para todos os meus sintomas e, em especial, para a fadiga que me escravizava há tanto tempo.
Para finalizar, gostaria apenas de dizer para os que ainda não entendem como podemos perder tão de repente e sem qualquer esforço nossas energias, que apenas respeitem nossas necessidades de repouso, tanto físico como mental, e jamais nos digam que o que temos é preguiça ou falta de vontade de fazer alguma coisa, pois o que mais queríamos, tenham certeza, era podermos realizar todas as nossas atividades como fazíamos antes da EM resolver fazer parte das nossas vidas.

Um beijo que hoje está completamente fatigado!

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