sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O homem sem "temporâneo"


Ponto de ônibus do final do calçadão da Av. Oliveira Lima
 Centro - Santo André/SP
Em nosso último semestre do curso de Artes Plásticas, diante de uma proposta da disciplina Arte urbana, desenvolvemos uma intervenção urbana coletiva que foi realizada em um ponto de ônibus, no centro de Santo André/SP. Intervenção esta que consistiu na colocação de diversos relógios e no entrelaçamento de linhas coloridas na parte posterior do abrigo para passageiros no intuito de, com os relógios, buscar a materialização da falta de tempo dos passageiros e, com as linhas entrelaçadas, remeter aos emaranhados de pessoas que se formam dentro dos ônibus lotados. 


Montagem da intervenção  urbana



Visão da instalação finalizada














Como justificativa para a intervenção, nossa turma apresentou o seguinte texto:
[..]
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
[...]
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber ?
A vida é tão rara
[..]
(Lenine, Paciência)
           
Nos dias atuais, é comum ouvirmos das pessoas que o tempo está passando mais rápido. Fala-se, constantemente, acerca da aceleração do tempo. De fato, se compararmos quanto tempo demorava para chegar o Natal, ou o nosso aniversário, quando tínhamos sete anos, com o tempo em que essas mesmas datas demoram para chegar nos dias de hoje, teremos, nitidamente, a impressão de que o tempo está, realmente, passando mais rápido. Mas será mesmo? Será que está havendo um encurtamento dos dias? Ou será que estamos imersos em tal número de atividades que as 24 horas do dia não são mais suficientes?
            Para Carlos Alberto de Farias:
Na realidade a aparente falta de tempo é uma percepção errônea do que acontece, pois temos os mesmo 31.536.000 de segundos por ano, tais como nossos ascendentes pré-históricos tinham.
O que mudou foi que o conhecimento aumentou, os chamamentos à nossa atenção aumentaram, as possibilidades de entretenimento aumentaram, as múltiplas opções, facilidades e possibilidades estão presentes em nossas decisões mais simples - veja, por exemplo, as possibilidades oferecidas na compra de um simples detergente lava-louça.
Todo este conjunto de possibilidades nos coloca imersos em um mundo que nos é impossível apreender em sua totalidade, podendo gerar também ansiedade pelo desejo de fruição deste conjunto inumerável de facilidades colocadas à nossa mão.
           
A bem da verdade, no mundo globalizado, cada vez mais as pessoas estão envoltas em uma rotina que envolve a execução de inúmeras atividades: trabalho, estudos, família, cursos, compras, médico, dentista, academia, reuniões... Enfim, é uma maratona a ser seguida, dia após dia, desencadeando estresse e impaciência com os atrasos, mesmo os mais ínfimos.     E o lugar onde essa impaciência se mostra com muito mais intensidade, sem dúvida nenhuma, é nos pontos de ônibus, uma vez que a espera pelo transporte público se traduz em verdadeira tortura para o Homem cujo tempo é tão escasso.
            Assim, se prestarmos atenção nos passageiros que esperam seus ônibus, veremos que eles, a cada fração de minuto, verificam as horas, expressando no rosto uma impaciência que cresce proporcionalmente ao número de consultas ao relógio.
            A população dos grandes centros cresce desordenadamente e a frota de ônibus urbanos não acompanha esse crescimento, o que, aliado aos infinitos congestionamentos de trânsito provocados pela falta de planejamento urbano e a expansão vertiginosa do número de veículos particulares nas ruas, estendem, ainda mais, o tempo de espera nos pontos de parada.   
Tudo isso faz com que os ônibus, principalmente nos horários de picos, além dos constantes atrasos, circulem com lotações muito acima da capacidade máxima de cada um. Os passageiros se apertam, dentro dos coletivos, na tentativa de não perderem ainda mais tempo à espera do próximo ônibus.
            Outro aspecto decorrente da falta de tempo que podemos observar nos pontos de parada de ônibus é a solidão, uma vez que o avanço da tecnologia torna o ser humano cada vez mais solitário, pois, se ela aproxima os que estão longe, acaba por afastar quem está próximo. Desse modo, ao observarmos, mais uma vez, as pessoas que aguardam a chegada dos transportes urbanos, nota-se que, raramente, uma fala com a outra. Não se fala com as pessoas que estão ao lado, porém, fala-se com o marido, ou com a mulher, ou com o filho, ou com o amigo, ou com a namorada, que estão a quilômetros de distância, mas não se fala com aquele que está ao lado, não se compartilha a angústia pelo atraso do ônibus que lhe fará, também, atrasar para um dos inúmeros compromissos do dia. Cada passageiro se fecha em sua própria concha, mergulhado em uma profunda solidão e na angústia por perder tempo à espera de um ônibus que não chega.
Mas, de acordo com  Ana Reis:
A falta de tempo é, muitas vezes, uma ilusão que nos esforçamos por manter. Para não termos que lidar com o medo de estar a desleixar uma parte importante da nossa vida.
E é esse medo que nos mantém dentro da nossa zona de conforto. Uma concha dura que nos isola de tudo, incluindo, de nós próprios.

 Referências:



FARIA, Carlos Alberto de. Culpa por falta de tempo? Disponível em: <http://www.merkatus.com.br/10_boletim/155.htm>.  Acesso: 21 mai. 2012, 16:00:35.

LENINE, Paciência. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/lenine/47001/ >. Acesso: 21 mai. 2012, 17:35:15.

REIS, Ana. A ilusão da falta de tempo. Disponível em: <http://www.arevolucaodamente.com/a-ilusao-da-falta-de-tempo/>. Acesso: 21 mai. 2012, 16:14:17.


Obs.: Intervenção realizada no dia 26/5/2012 pelo 6º semestre da Habilitação em Artes Plásticas, da FAINC. Alunos: Alexandre Barasino – Alíria Barbosa – Diana Miron – Bete Tezine – Letícia Barrionuevo – Ligia Mara Rodrigues – Rosalda Rolim – Rosana Rossi – Tânia Turcato

Um beijo grande!

3 comentários:

  1. Parabéns pela arte de vocês! Gostei demais!!!!

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  2. Esse trabalho ficou realmente legal, adorei o/

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  3. Que ideia bacana que vocês tiveram. Realmente a falta de tempo é uma das principais queixas da humanidade atual!!!

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