quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Meu filho...

Bete Tezine, Guilherme, 2012.
Lápis sanguínea e sépia sobre fotografia, 20 x 30 cm.




Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida.

(Friedrich Nietzsche)






Meu filho querido, ontem você completou 20 anos. Nossa! Como o tempo passou rápido! Ainda ontem você era um bebê, o meu bebê, tão lindo, tão terno, tão dependente de mim. Não consigo acreditar que já é um homem, que já está começando a trilhar sua própria história sem a necessidade de que eu segure sua mão.
Ainda trago completamente nítido na minha lembrança o dia em que você nasceu. Foi em uma quinta-feira, às 14h24min, de uma tarde ensolarada e de um calor intenso. Você chegou ao mundo gritando a plenos pulmões e me trouxe uma felicidade, até então, desconhecida, a alegria intraduzível de ser mãe, de pegar no colo um ser que saiu de dentro de mim, de acalentar, amamentar e sentir que eu era imprescindível na vida de alguém. 
É, meu filho lindo, foi o momento mais importante da minha vida o dia em que você chegou ao mundo, trazendo contigo uma nova razão para eu existir.
Você foi crescendo, sempre muito precoce, e nunca me esqueço das suas primeiras palavras, bem antes de começar a andar, de quando começou a sentar, engatinhar, não me esqueço dos seus primeiros passos e das longas gargalhadas quando eu lhe fazia cócegas.
E o seu primeiro dia de aula, então? Como ele está vivo em minha memória! Você só tinha 3 anos e eu sofri por antecedência durante vários dias, imaginando você grudando em mim, chorando e dizendo que não queria ficar sozinho na escola. Como sofri com a cena que se formava, teimosamente, na minha imaginação! Todavia, quando chegou o seu primeiro dia de aula, qual não foi a minha surpresa quando, ao te deixar no portão, você me deu um beijo e me disse: tchau, mãe, mais tarde você volta para me buscar, tudo bem? E entrou sem nem mesmo olhar para trás... nesse momento eu percebi o quanto eu estava apreensiva por algo que para você era esperado e completamente natural.
Outras lembranças que nunca deixarão de me acompanhar são nossas idas ao cinema, teatro, os programas que assistíamos juntos na televisão. Nossas gargalhadas com as palhaçadas, seus comentários surpreendentes, suas perguntas inteligentes. Ah! Meu filho querido, como sinto saudades desse tempo! Mas, crescer faz parte do processo e, mesmo tento sentido uma imensa vontade de parar o tempo para que você permanecesse indefinidamente criança, eu sempre tive consciência de que você cresceria muito mais rápido do que eu poderia imaginar.  E, aconteceu, você cresceu e, agora, se tornou um homem. 
Tudo o que falei até agora, meu filho, é apenas um pretexto para te dizer que continua sendo meu eterno menino. Que, para mim, você ainda é o meu menino lindo, terno e dependente de mim, pois, como mãe, me recuso a aceitar que agora pode caminhar sozinho, sem minha mão para te guiar.
Mas, apesar disso, eu sei que de agora em diante, você vai começar a viver sua própria vida e, daqui há algum tempo irá conhecer alguém e constituir sua própria família. Esse será outro momento de emoção intraduzível.
Por fim, meu querido filho, quero que saiba que torço por você incondicionalmente, que sou sua fã nº 1 e que sempre estarei aplaudindo de pé suas vitórias!

Um beijo de uma mãe profundamente coruja!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Maratona em busca do Rebif






O que vale a pena possuir, vale a pena esperar.

(Marcelo A. Pereira)







Todo primeiro dia útil do mês, eu me dirijo à farmácia de dispensação de medicamentos de alto custo do Hospital Estadual Mário Covas, que é o local, aqui na minha região, onde é entregue o Rebif. 
Hoje, como sendo o primeiro dia útil do mês de dezembro, como faço todos os meses, fui até lá para retirar minhas injeções. Porém, já de longe, percebi que seria um dia difícil, pois, vi um aglomerado de pessoas na rampa de acesso e no pátio que antecede a entrada da farmácia. Era gente que não acabava mais. Confesso que fiquei assustada, uma vez que, nesses 9 meses de uso do Rebif, nunca antes vi tamanha quantidade de pessoas para retirarem medicamentos como vi hoje.
Assim, munida de coragem, subi a rampa de acesso e me dirigi à entrada da farmácia que, embora seja um local razoavelmente amplo, não cabia mais uma pessoa sequer. Recebi a senha de nº 3569 e, no painel, estavam chamando a de nº 3199. Todavia, existem quatro ou cinco sequências diferentes de numeração de senhas, uma para cada tipo de serviço que é oferecido no local. Desse modo, acredito, que haviam, ao menos, umas 1000 pessoas na minha frente. 
O pior de tudo, não foi isso, o pior mesmo é que hoje eu não acordei me sentindo bem. Minha garganta está horrível, estou gripada e com dores nas pernas. Olhei ao redor e não achei um único lugar para sentar. O salão de espera, embora amplo, tem pé-direito baixo, acredito que menos de 3 m de altura, o ar condicionado do local não vence a demanda, pois as portas ficam constantemente abertas, o que fez o calor lá dentro ficar insuportável, além do aglomerado de pessoas que se apertavam à espera de atendimento, aumentando, ainda mais, a sensação de abafamento. 
Quem é esclerosado, como eu, sabe bem o que significa ficar em um lugar abafado e em pé durante horas. Assim, permaneci ali durante mais ou menos uns 20 minutos e, nesse tempo, da minha sequência de senha, foram chamadas, apenas, 4 pessoas. Fiz um cálculo mental do tempo médio de espera e conclui que havia tempo mais que suficiente para eu ir para casa, almoçar e depois retornar. Assim o fiz.
Depois de mais ou menos duas horas, retornei e, para meu desânimo total, ainda faltavam 170 pessoas para serem atendidas, apenas da minha sequência numérica. Pensei comigo: fazer o que, não é? Eu precisava das injeções para hoje, pois é dia de aplicação e não tinha nenhuma sobressalente.
O calor estava intenso, do lado de fora sol escaldante, do lado de dentro um inferno na terra. Desse modo, encostei em um canto qualquer e fiquei a espera de que, por um milagre, as senhas fossem chamadas em uma velocidade mirabolante, o que, para minha mais profunda decepção, não ocorreu. Após mais ou menos 1 hora e meia em pé, naquele calor infernal, consegui uma cadeira pra sentar, pois, minhas pernas não estavam mais me suportando. Todavia, o que parecia ser a solução para minhas dores, se mostrou completamente fora de cogitação, pois, as cadeiras do local são bastante altas e eu, no alto dos meus 1 m e 50 e poucos cm de altura, não conseguia apoiar os pés no chão, o que, apenas, intensificou as dores que estava sentindo. 
Nossa! Sentia dor, sentia sono, sentia a fadiga me dominando, as horas se arrastavam e minha senha nunca chegava. Como foi difícil hoje!
Devo dizer que fui atendida após cerca de 3 horas de espera, isso porque eu fui para casa, pois, se não tivesse feito isso, tranquilamente teria ficado lá por quase 6 horas esperando para retirar minhas preciosas injeções.
A essa altura, acho que já podem imaginar o estado lamentável que cheguei em casa, não é mesmo? De verdade, me senti feito gelatina exposta ao calor de um dia de verão. Literalmente, me senti derretendo, tal a fadiga que tomou conta de mim.
Assim, depois de um dia de retirada de medicação totalmente atípico, pois, nem mesmo os funcionários do local sabiam explicar o por quê de tal acúmulo de pessoas, eu me joguei na cama e dormi, dormi muito, apaguei de verdade e, quando acordei, a fadiga tinha me dado uma trégua e as dores também, tinham adormecido. Dessa forma, sem fazer nenhum barulho que pudesse chamar-lhes a atenção, voltei para a vida, porque a fadiga e a dor, ao menos por hoje, não têm mais lugar junto a mim.

Um beijo carinhoso!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Atriz coadjuvante...





Coadjuvante de uma história de mil facetas; por isso sou toda alívio. Compartilho a nobre coragem protagonista, de só desejar a felicidade.

(Camila Custodio)





Eu já afirmei, algumas vezes, que aceitei, plenamente, a presença da Esclerose Múltipla na minha vida, porém, isso não significa que, de vez em quando, eu não me estranhe com ela, chegando mesmo a odiá-la, de verdade.
Ontem,  foi um desses dias em que ela esteve me importunando tanto, mas tanto, que tive vontade de bani-la da minha vida de uma vez por todas, se isso fosse possível,  é claro.
Como ela ficou indisciplinada! Quis, a todo custo, chamar a minha atenção, pois eu acredito que tenha percebido que anda perdendo espaço na minha vida, uma vez que eu, por um período de tempo considerável, mal me lembrei da sua presença. Não fosse pelo fato de ter de me autoaplicar as injeções de Refib, três vezes na semana, ela teria passado incógnita por vários e vários dias.
No entanto, toda vez que se sente ignorada, relegada a segundo plano, como uma criança birrenta, ela se agarra às minhas pernas, se pendura em mim, não me dá um instante de folga, me obrigando a arrastá-la para aonde quer que eu vá.
Assim, minhas pernas se arrastam... nossa! Como fica difícil caminhar!  
Meu corpo parece que está eletrizado, sinto mesmo que, se ligar algum aparelho elétrico em mim, ele irá funcionar perfeitamente, tal a intensidade dos choques que me acometem.
Meu braço esquerdo perde, de vez, o pouco da força que lhe resta.
Minha cabeça gira, gira, gira, me deixando mais tonta que o habitual.
E o meu humor, então? Esse fica completamente desestabilizado. Como eu choro em dias como esse! Pareço uma criança querendo colo.
São tantos sintomas juntos que, tenho a nítida impressão, que fizeram um conluio para me desestabilizarem totalmente e, assim, ficar mais fácil  deixar minha ingrata companheira tomar conta de mim.
Porém, apesar disso tudo, o que ela ainda não percebeu é que eu já desvendei boa parte das suas artimanhas, motivo pelo qual eu até me deixo levar por ela, durante um curto espaço de tempo, como forma de aplacar um pouco dos seus caprichos de menina indisciplinada que é. Porém, quando lhe dou corda, minha intenção verdadeira é puxar de volta, trazendo e imobilizando-a até  vislumbrar que ela vai me deixar em paz por mais algum tempo. 
Ela é assim. É o que eu tenho aprendido nesse meu processo de convivência com essa impulsiva e imprevisível companheira de vida. Ela quer atenção, quer chamego, quer mimos, me quer exclusivamente para ela. Então, eu a deixo acreditar que me entreguei aos seus desmandos e, quando pensa que me dominou, em um momento de descuido, eu me levanto e  a coloco em seu devido lugar, ou seja, o de atriz coadjuvante, pois, o papel principal, apesar da insatisfação dela, ainda é meu e, continuará sendo, pelo tempo que eu quiser.

Um beijo carinhoso!