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O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação.
(Ayrton Senna)
"Sinceramente, eu não entendo porque você tem medo de ficar inválida por conta da Esclerose Múltipla, sendo que qualquer pessoa, mesmo saudável, também pode ficar a qualquer momento.".
Eu ouvi essa fala de uma amigo, não esclerosado, quando lhe disse que não estava muito bem estes dias pelo fato de que estar há quase 6 semanas de cama, me recuperando da fratura no tornozelo e, por não ter força na outra perna, ter muitos desequilíbrios, o médico determinou que eu me locomovesse o mínimo possível, o que me torna completamente dependente, tem tornado inevitável que eu sinta medo de ficar dependente fisicamente no futuro.
No momento em que ele me disse isso, eu me calei, desconversei, porque percebi que qualquer argumento meu seria rebatido com discursos de que tenho de pensar positivo, ser otimista, ter fé, porque comigo, com certeza, não irá acontecer nada, porque até mesmo ele, que me conhece bem, não consegue ver que eu tenho uma doença grave, de tão "normal" que eu pareço ser quando olham para mim. Eu me calei, desconversei, porque tem dias que ouvir essas palavras, mesmo que ditas com boa intenção, na tentativa de me animar, dói muito, pois sinto toda a gama de emoções, sintomas, dores, dificuldades que eu enfrento carregando a Esclerose Múltipla dependurada em mim, serem menosprezadas, serem diminuídas em toda sua dimensão, quando o que eu precisava, para me sentir mais forte, era apenas um "eu te entendo e estou aqui para te ouvir se quiser falar a respeito". Isso me bastava, isso minimizaria meus medos, isso me fortaleceria.
Mas, como explicar para alguém que não consegue nem vislumbrar o que significa sentir suas pernas perdendo força, dia-a-dia, que é inevitável que, em certos momentos, o medo se torne mais latente?
Como dizer que você não faz do medo o norte da sua vida, mas que ele te ronda, te espreita quando te sente mais frágil?
Eu pensei, pensei muito, e apenas quero dizer que, realmente, qualquer pessoa, por mais saudável que seja, em um dia qualquer, pode cair da escada, pode ser atropelada por um caminhão, pode sofrer um acidente de carro, ou de moto, ou despencar de um andaime, ou do topo de um prédio, ou ser atingido por um objeto qualquer e se tornar inválido. Porém, nenhuma pessoa que não viva acompanhada por uma doença potencialmente degenerativa e incurável, acorda pensando que aquele pode ser seu último dia de independência física.
Eu não tenho medo todos os dias... mas quando minhas pernas falham, meus braços cansam e comer se torna algo complexo, quem dirá lavar os próprios cabelos, sentir medo se torna inevitável e o que eu preciso, nesses momentos, é de respeito e apoio, apenas isso, nada mais.
Beijos na alma!
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