domingo, 11 de agosto de 2013

Pai, você me faz muita falta...

Uma das poucas fotografias que
 tenho junto com meu pai:
 meu casamento em dezembro/ 90.







Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

(Augusto dos Anjos)













Neste ano, no dia 26 de julho, completou 13 anos que perdi meu pai para um aneurisma cerebral. Foi um momento complexo em todos os sentidos. Ele teve morte cerebral, mas seu coração continuou batendo por quase 1 semana sem ajuda de aparelhos, porém, não pudemos doar seus órgãos porque ele era alcoólatra e tudo estava comprometido.
Foi muito difícil ver a vida abandonando seu corpo aos poucos, porém, nada se compara à dor por me sentir impotente diante da morte e, principalmente, por sentir que eu não havia feito nada para impedir que ele chegasse àquela situação. Eu não o ajudei a abandonar a bebida, eu não lhe dei minha mão enquanto eu podia, eu não o compreendi, apenas me revoltei com as suas atitudes, com as suas ofensas morais, sem no entanto me perguntar o porquê dele ter se entregue ao vício da bebida. 
Meu pai sempre bebeu desde que eu tenho lembrança, todavia, quando completei 13 anos, ele passou a substituir o café da manhã por bebidas alcoólicas e o almoço e o jantar... passava o dia inteiro alcoolizado e isso durou todo o restante dos seus dias.
Ele nunca foi agressivo fisicamente, nunca deu um tapa sequer em nenhum de nós, porém nos agredia moralmente e isso doía mais que qualquer bofetada. Eu me revoltei contra ele, eu evitava sua presença, eu chorava, tinha crises nervosas e quantas não foram as vezes que desejei que ele simplesmente fosse embora e nos deixasse em paz. E, de repente, ele se foi e nesse momento meu chão se abriu e e me senti a pior filha do mundo.
Por muitos anos carreguei o peso de não ter feito nada para resgatar meu pai do alcoolismo, pelo menos sempre pensei que nada tivesse feito para que ele abandonasse o vício. Porém, depois da Esclerose Múltipla, quando fui fazer terapia, percebi que fiz, sim, tudo o que eu pude, dentro do que me era possível fazer em face do que fui forçada a viver desde muito criança. Aos 13 anos assumi meu próprio sustento, mais o dos meus 3 irmãos e da minha mãe. Fui trabalhar de dia e estudava à noite em uma escola muito longe de casa. Desde muito cedo aprendi que a vida não perdoaria se eu não desse o melhor de mim. 
Foi muito difícil, confesso, e não posso dizer que ainda não bata uma angústia vez ou  outra, principalmente em dias como o de hoje, mas estou aprendendo que não sou culpada por meu pai ter se tornado alcoólatra e nem por sua morte prematura. 
Hoje, foi a primeira vez que consegui falar abertamente sobre esses sentimentos e estou me sentindo aliviada por isso.
Por fim, quero dizer ao meu pai, onde quer que ele esteja, que apesar de eu nunca ter sabido demonstrar, meu amor por ele sempre existiu. Queria muito que tivesse sido diferente entre nós dois, mas eu sei, também, que a sua maneira, ele sempre nos amou, embora não entendêssemos sua forma de amar enquanto esteve conosco. 
Pai, você me faz muita falta...

Um beijo meu pai! Continue descansando em paz...

2 comentários:

  1. Querida Bete!

    Fico feliz por dividir sua história e parte da sua vida com seu pai. Eu que sou filha uma das gemeas da minha mãe, não conheci meu pai. Ele também é falecido desde os meus 15 anos e agora estou com 40(passa rápido)! Sempre sonhei em conhecer ele e tentar descobir (ouvir dele proprio)porque casou com minha mãe e não quis filhos (abandonou ela dps que nós nascemos)...
    Fica sempre a vontade de ao menos ter conversado com ele e dar um abraço... Pai é pai, assim como minha mãe é ùnica (obrigada aos nossos pais (mesmo com seus defeitos) e qualidades. Somos frutos de nossos pais- Parabéns a eles. bjao.

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  2. Olá Esclerose Múltipla virtual!

    Fico feliz por você, também, ter compartilhado comigo um pouco da sua história com o seu pai. Lamento por não ter sido diferente pra você e sua irmã, mas admiro a força de vocês!

    Um beijo

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