quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Silêncio! Eu tenho direito de escolher...

Bete Tezine, Silêncio, 2012. Arte objetual. 








A ciência sem fé é loucura, E a fé sem ciência é fanatismo.

(Lutero)











Tenho acompanhado, assiduamente, as discussões recorrentes, nas redes sociais, sobre o uso da vitamina D no tratamento da Esclerose Múltipla. E, confesso, tenho ficado preocupada com o rumo que essas discussões vêm tomando.
Todos nós sabemos que ainda não existe cura para a enfermidade autoimune que acomete milhares de pessoas no mundo e, até alguns anos atrás, não existiam tratamentos possíveis que pudessem mantê-la sobre controle pelo maior tempo possível. Descobrir-se portador de Esclerose Múltipla era, praticamente, uma sentença de que, cedo ou tarde, a dependência física se tornaria uma realidade.
Todavia, as pesquisas científicas avançaram nessa área e foram descobertos os interferons que, apesar de não curarem a patologia, desaceleram sua progressão, reduzindo, em número e gravidade, os surtos, o que diminui a possibilidade de sequelas graves e incapacitantes. Assim, hoje, ser diagnosticado como portador de Esclerose Múltipla, já não é, como antes, uma quase sentença de deficiência física. Contudo, todos nós que fazemos uso dos interferons, sabemos que, se por um lado, eles desaceleram a progressão da doença, por outro lado, nos provocam efeitos colaterais bastante desagradáveis. Decidir pelo uso de tais medicamentos é uma tarefa que cabe ao paciente, sob a orientação do seu neurologista de confiança, pois, nem todos respondem aos tratamentos disponíveis da mesma forma, assim como a Esclerose Múltipla não se manifesta do mesmo jeito em todos os portadores. Cada paciente é único e, como tal, deve ser medicado em sua unicidade da maneira que obtiver melhor resposta e controle da enfermidade.
Assim, voltando às discussões sobre as vitaminas, tenho percebido um certo fanatismo por parte dos adeptos à elas. Tenho visto, constantemente, o "endeusamento" dos médicos que difundem e prescrevem seu uso. Longe de mim, criticar, tanto o uso das vitaminas, quanto a admiração que tais pacientes demonstram pelos médicos que as receitam, pois, minha intenção, nessa postagem, não é essa. Na verdade, o que me preocupa é a forma como os "vitaminados", como têm sido chamados os usuários das vitaminas nas redes sociais, têm radicalizado e tentado impor, aos demais portadores, tal tratamento como um verdadeiro "milagre", como se ele fosse a cura para todos os sintomas da doença neurológica.
Tenho presenciado, e mesmo sido vítima, de abordagens diretas em prol do uso das vitaminas como solução para a convivência com a Esclerose Múltipla. Recebo mensagens em minha caixa de texto falando dos benefícios milagrosos de tal tratamento. Alguns leio, outros não me dou ao trabalho, e não tenho me chateado com isso, uma vez que a minha decisão sobre a continuidade do meu tratamento com o Rebif permanece inabalada, pois confio plenamente na minha neurologista, tenho tido bons resultados com o uso das injeções e, ainda não fui convencida dos reais benefícios, a longo prazo, do uso das vitaminas. 
Todavia, o que me preocupou demais, na discussão que acompanhei ontem em um dos grupos de portadores de Esclerose Música do qual faço parte, foi o rumo que os debates tomaram, com ofensas pessoais e uma falta de educação mórbida, que me deixou estarrecida e envergonhada por fazer parte da mesma espécie de alguém que, não pensou duas vezes, antes de ofender da maneira mais deprimente possível outros seres humanos.Me vesti de luto ao ler tais comentários, me senti ultrajada no meu direito de escolha pelo tratamento que melhor se adeque a mim, me senti repugnada ao ver o que o fanatismo pode provocar em todas as esferas em que ele se instala.
Defendo, aqui, o direito de todos escolherem o melhor tratamento, o direito de procurarem o que lhes trazem melhores resultados, no entanto, eu me coloco contra as abordagens intermitentes e as tentativas de conversões que, os usuários das vitaminas, têm feito com os usuários de outros tratamentos medicamentosos, uma vez que todos somos livres, vivemos em uma democracia e somos acompanhados por neurologistas da nossa mais inteira confiança. 
Diante disso, quero dizer que no dia em que a ciência comprovar que o uso de altas doses de vitamina D é o caminho para o controle, ou mesmo, a cura da Esclerose Múltipla, certamente, cada um de nós, não usuários, até então, juntamente com nossos médicos, faremos a opção pelo tratamento dentro das possibilidades terapêuticas de cada um. Porém, até que esse dia chegue, gostaria de ver uma convivência pacífica entre os adeptos ao uso das vitaminas e os usuários dos demais medicamentos para controle da Esclerose Múltipla. 
Sei que sou apenas alguém insignificante diante de toda a comunidade de portadores, porém, sinceramente, não gostaria de ver mais, em nenhuma hipótese, tamanha falta de educação e amor humano como vi ontem, gostaria, de verdade, que as discussões se mantivessem em níveis saudáveis e que não degringolassem para a falta de respeito e fanatismo indiscriminado. Toda crença, seja no que for, precisa ser racional, para que não nos ceguem e nem nos tornem intransigentes e desrespeitosos com opiniões contrárias às nossas.

Um beijo, com todo respeito às mais diversas opiniões!


2 comentários:

  1. Oi Bete, Boa noite.
    ME chamo Iliene e tbm sou portadora fui diagnosticada em 2000, já passei por muita coisa tbm,faço uso de Interferon 1b, tbm comecei com o tratamento das vitaminas mas infelizmente não deu certo e voltei com o tratamento convencional e estou bem agora. Mas li o que escreveu e a unica coisa que posso fazer é DAR LHE OS PARABÉNS!!! Sabias palavras, me identifiquei com tudo, Tbm estou a espera de algo maior!!!
    Um grande beijo.
    E fique com Deus.

    ResponderExcluir
  2. Olá Iliene!

    Obrigada por suas palavras! Com certeza algo maior virá para todos nós!

    Beijos no <3

    ResponderExcluir