quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Educando para a vida







Não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los.

(Platão)








Acho que a mais árdua das tarefas que a vida impõe, a nós, é educar nossos filhos para que eles se tornem homens e mulheres de bem, seres humanos na verdadeira acepção do termo, pessoas que valham a pena conhecer e compartilhar de uma amizade sincera.
Filhos são presentes valiosos e, como tal, devemos cuidar deles com o maior zelo possível, no entanto, diferentemente de uma joia ou de uma obra de arte, não podemos fechá-los em uma redoma de vidro a fim de protegê-los das agruras do mundo. Apesar dessa ser a nossa vontade, infelizmente, esse não é o melhor que podemos fazer, pelo contrário, isso só trará  sofrimentos futuros para os filhos que tanto tentamos proteger.
Conforme já mencionei em outros posts, sou mãe de um rapaz, com 20 anos, e de uma adolescente , com 13 anos. Não posso afirmar que sou a melhor mãe do mundo para eles, pois, sou repleta de falhas e coleciono muitos fracassos nas minhas tentativas de fazer o melhor para os dois, no entanto, acho que tenho conseguido dar a eles o rumo a seguir para serem o melhor que puderem ser diante dessa vida, muitas vezes, tão incerta e injusta, também.
Eu sempre tive como convicção que não são nossas palavras que educam, mas, os nossos exemplos. Ditar uma conduta não resolve se a nossa própria conduta não for condizente com a nossa fala. Eu penso que mais vale dar o exemplo do que reprimir ou proibir alguma atitude de nossos filhos.
Eu me lembro bem que meu filho, quando tinha mais ou menos uns 5 ou 6 anos de idade, começou com a mania de pedir algo para comer, fosse em casa ou em outro lugar qualquer e, após apenas provar, dizer que não queria mais sem, ao menos, ter tocado direito no alimento e, por mais que eu dissesse para ele que aquilo era errado, ele continuava fazendo a mesma coisa sempre. Então, eu resolvi mudar a forma de agir com ele e, ao invés de ficar batendo sempre na mesma tecla, passei a mostrar-lhe imagens de crianças famintas da África e, quando saíamos juntos, mostrava-lhe as crianças pedindo nos semáforos e sempre frisava que elas não tinham nada para comer, diferentemente dele, e que a comida que ele mal tocava seria motivo de festa para elas. Assim, ele passou a pedir somente o que iria comer e nunca mais desperdiçou alimentos, pelo contrário, jamais deixou de lembrar das imagens que eu lhe mostrei.
Uma outra situação em que precisei lançar mão de exemplos foi com relação à minha filha que, tremendamente apegada a tudo que lhe pertencia, se recusava a dar para outras crianças as roupas e sapatos que não eram mais usados por ela, bem como os brinquedos dos quais ela havia enjoado. Então, usando o mesmo recurso que usei com o meu filho, eu mostrei para ela crianças de rua, durante o inverno, descalças e desagasalhadas, lembrando-a que as suas gavetas e armários não cabiam mais nada de tanta roupa acumulada que não lhe servia mais, aproveitei e perguntei para ela se ela achava isso justo. Desse dia em diante ela mesmo passou a separar o que não queria mais e a pedir para que eu doasse a alguma criança que estivesse precisando muito.
Outra coisa que aprendi muito cedo, na minha carreira de mãe, é que dizer não machuca muito mais quem diz do que quem ouve. Eu sei o quanto é difícil negar algo aos nossos filhos quando temos plenas condições de fazê-lo. Mas, acredito mesmo que, dizer sim para tudo, gerará verdadeiros futuros tiranos. Com isso, não quero dizer que não podemos atender um pedido de nossos filhos, muito pelo contrário, significa apenas que o que eles querem lhes será dado quando nós pudermos e, não, quando eles quiserem. Ouvir não, muitas vezes, é o que leva um ser humano a atingir o sucesso como pessoa.
Nós podemos poupar nossos filhos por algum tempo, podemos tentar viver as intempéries do mundo em seus lugares por determinado período, porém, vai chegar o tempo que nossos filhos soltarão as amarras e alçarão voo rumo ao mundo que se abre diante deles e, nesse momento, então, o que valerá serão os ensinamentos e valores que eles carregarão com eles e que foram incutidos, paulatinamente, por nós. Serão nossos exemplos e não nossas palavras que eles levarão por toda a vida, uma vez que não terão mais as nossas mãos a guiarem os seus passos, tendo, indubitavelmente, de fazerem suas próprias escolhas, discernindo entre o que fazer e o que não fazer para serem, verdadeiramente, pessoas de bem.

Um beijo maternal!


sábado, 26 de janeiro de 2013

Mudando o foco...

 Não foi mágica, apenas uma mudança consciente de foco. Troquei de canal para levar minha vida pra passear um pouco. Para soprar algumas nuvens. Para respirar melhor. Ao permitir que o pensamento se dissipasse, abri espaço para mudar meu sentimento. O problema continuava no mesmo lugar; eu, não. Nós nos encontraríamos outras tantas vezes até que eu pudesse solucioná-lo, mas eu não precisava ficar morando com ele enquanto isso.

(Ana Jacomo)


Ontem, no decorrer da minha sessão de psicoterapia, em um dado momento, minha psicóloga me perguntou se eu havia reparado que, há tempos, a Esclerose Múltipla não estava mais sendo o foco das nossas conversas. Na verdade, eu já vinha observando isso há algum tempo, pois, em outros aspectos da minha vida, também, a minha companheira tem assumido uma posição secundária.
Não vou dizer que ela tem estado adormecida nesse tempo todo, não mesmo, pois, ela teima em me lembrar da sua presença diariamente. Me cutuca, me chacoalha, me dá choques pelo corpo, balança minha cabeça intermitentemente, mistura minhas ideias, tira a força da minha perna e do meu braço esquerdos, me provoca espasmos, me extenua... afinal, continua completamente ativa.
No entanto, o que tenho percebido, é que depois que aceitei a sua presença na minha vida como fato, ao menos por ora, imutável, ela, realmente, assumiu um peso bem mais leve do que tinha quando eu, nem ao menos, sabia seu nome ou tudo o que ele trazia na sua bagagem. Verti um choro dolorido por algum tempo, é verdade, me senti a pessoa mais infortunada do mundo, tive pena de mim, mergulhei na autocomiseração e me senti refém da enfermidade autoimune. Todavia, tudo isso, gradativamente, foi sendo substituído pela redescoberta de um lado meu esquecido, há tempo suficiente, para que tivesse sido relegado à total insignificância para meu próprio eu.
Foi, assim, que percebi que o fato de ser "esclerosada" não me condenava, perpetuamente, a uma vida descolorida, na qual eu viveria em função, tão somente, das minhas dificuldades, dores e dissabores por conta da minha doença. 
E isso foi assim tão fácil? Sei que essa pergunta será formulada, mesmo que mentalmente, por diversas das pessoas que lerão este post. A resposta, de verdade? Não, não foi e não tem sido nada fácil. 
Tenho tido durante esses 15 meses que se passaram desde o surto que desencadeou o diagnóstico, momentos em que parece que vou sucumbir e me entregar de corpo e alma à Esclerose Múltipla, porém, sempre que sinto ela me rondando em busca de um oportunidade para me envolver nas suas tramas maléficas, eu me esgueiro, me disfarço, me distancio, faço malabarismos, mas, não permito que ela me alcance... levo comigo seus efeitos inevitáveis, mas, além disso, eu não carrego mais.
Por tudo isso, era mais do que esperado que, eu, ao invés da Esclerose Múltipla, passasse a ser o foco das minhas sessões de psicoterapia, afinal, eu estou no controle, sou eu quem a  carrego e, não, ela quem carrega a mim.

Um beijo focado no coração...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Depois de certo tempo...





O tempo é o mais sábio dos conselheiros.

( Plutarco )






Depois de certo tempo e após várias desilusões, acabamos por aprender que nossa felicidade jamais deve ser delegada a outras pessoas ou coisas. 
Aprendemos que felicidade é um estado de espírito que só pode ser encontrado dentro de nós mesmos e, nunca, do lado de fora.
Com o tempo aprendemos que ninguém é dono de ninguém, que pessoas entram na nossa vida, algumas ficam, outras, no entanto, vão embora, sem ao menos nos dizerem a que vieram.
Percebemos, também, que o que hoje nos faz feliz, amanhã pode se transformar na razão de nossas lágrimas. Por isso, é preciso que tenhamos consciência de que a felicidade é efêmera, pois felicidade constante é utópica, o que temos na verdade são momentos felizes que se soubermos preservar se tornarão eternos em nossas lembranças.
O tempo, também, nos leva a entender que nem tudo o que queremos nos trará a alegria que pensamos, pois muitas vezes, quando alcançamos nossos objetivos, ao invés de contentamento, somos tomados pela mais pura decepção. 
É preciso que aprendamos, também, que as dores não duram para sempre, que as angústias se desfazem, que as lágrimas se transformam em riso e que as tempestades da alma precedem um amanhecer ensolarado.
Passamos a compreender, conforme o tempo passa, que batalhas sempre existirão em nossas vidas, mas que vencê-las ou não, muitas vezes é uma questão de escolha pessoal. Podemos nos deixar abater ou lutar para superar cada obstáculo do caminho, até que superemos todos e saiamos vencedores do embate.
É com o passar do tempo que também passamos a enxergar nossas próprias deficiências e nossos medos que, uma vez identificados, cabe a nós decidir o que fazer com cada um deles. Podemos enfrentá-los, buscando uma superação, ou nos tornarmos reféns deles indefinidamente.
É apenas com o tempo que passamos a compreender que maturidade nem sempre é sinônimo de mais idade e que o tempo tem o poder de envelhecer nosso corpo físico, mas, nunca, a nossa alma, pois a juventude não está atrelada à quantidade de velinhas postas sobre o nosso bolo de aniversário. Há pessoas que já nascem velhas enquanto outras morrerão, na mais avançada das idades, completamente crianças.
Será tão somente com o passar do tempo que aprenderemos que de nada adiantam os discursos de boa conduta se nossos exemplos de vida contradizem o que sai da nossa boca.
Por isso mesmo, devemos ficar atentos a todos os sinais que o passar do tempo nos dá sobre nossos sentimentos, crenças e convicções, pois ele sempre nos mostra o que está funcionando, ou não, para nosso crescimento pessoal. Nem sempre, o que ontem nos fazia bem, continuará trazendo os mesmos benefícios no dia de amanhã, por isso, é essencial que adaptemos nossas condutas e revisemos nossas convicções sempre que elas nos trouxerem algum incômodo, pois, na maioria das vezes, esse é o sinal de que elas não nos servem mais.

Um beijo amadurecido pelo tempo...