Bete Tezine, Autorretrato, 2013. |
(Pe. Fábio de Melo)
Pois bem, foi assim que eu acordei hoje e, em dias assim, eu deixo fluir de dentro de mim toda a revolta que sinto pela minha companheira indigesta, a Esclerose Múltipla para quem ainda não sabe, e toda a gama de sintomas e efeitos que ela me provoca, inclusive o malvado do Rebif que, se aproveitando da minha vulnerabilidade momentânea, resolve me tiranizar também, provocando as dores de cabeça, as pseudogripes, as dores no corpo e tudo o mais que só ele sabe lançar mão para me deixar, literalmente, prostrada.
Já fazia algum tempo em que o Rebif não me maltratava tanto quanto tem feito nessas últimas aplicações, mas, nos últimos dias, ele tem me tomado por refém dos seus caprichos e me deixado doente mesmo e, quando isso acontece, eu sinto maximizar o medo e a angústia que essa doença imprevisível provoca em mim.
Hoje, acordei com uma vontade danada, não de bater na porta do vizinho e desejar bom-dia, como diz a letra de uma música, quisera eu que fosse essa a minha vontade, mas, de banir a Esclerose Múltipla da minha vida aos gritos. Acordei com uma vontade de que tudo não passasse de um sonho ruim, daqueles que agradecemos por termos acordado antes que ele nos assustasse ainda mais. Mas, não foi um sonho, nem mesmo um pesadelo, essa é a minha realidade, infelizmente.
Sei que muitos vão me achar pessimista, dizerem mesmo que a revolta não ajuda em nada, muito pelo contrário e eu, antecipando-me, já respondo que tenho plena consciência disso, de verdade. No entanto, como ser humano que sou, não tenho como ser forte o tempo inteiro e nem me permito camuflar sentimentos e emoções, a fim de passar uma imagem que não é real, mesmo que momentaneamente. Eu sou completamente transparente e a minha escrita é um autorretrato do meu estado emocional.
Amanhã, quem sabe, estarei melhor. Talvez, e eu torço demais por isso, o Rebif que eu vou me autoaplicar hoje não faça tamanho estrago no meu organismo. Talvez, a dor de cabeça resolva dar uma trégua e meu nariz pare de arder e coçar tanto. Quem sabe meu corpo não amanheça doendo tanto, nem minhas pernas pesando 1 tonelada cada uma. Vou crer que isso irá acontecer. Viram como não sou completamente pessimista?
Assim, vou ficar de molho hoje, dar ao meu corpo o tempo que ele precisa para reagir e não se deixar levar por muito tempo por esses tiranizadores. Amanhã, é um novo dia e, com ele, tudo pode mudar para melhor.
Beijos otimistas!