terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Qual é o seu normal?






A normalidade é tão-somente uma questão de estatística. 


(Aldous Huxley)







O que fazer naqueles dias em que acordamos com a sensação de que não dormimos, de que passamos a noite inteira correndo uma maratona, tal é a fadiga que toma conta de nós ao despertarmos?
O que fazer naqueles momentos em que o barulho nos incomoda a ponto de termos a impressão de que nosso crânio vai explodir e deixar escapar pedaços do nosso cérebro?
O que fazer quando as pernas falham, os braços falham, a memória falha, os olhos falham, a fala falha?
O que fazer quando as dores debilitam, tiram a tolerância e nos transformam em um poço de mau humor?
O que fazer quando os choques elétricos nos atingem em alta voltagem nos fazendo, por reflexo, contrair o corpo e gritar?
O que fazer quando a medicação que nos permite surtar com menos frequência, nos faz adoecer a cada aplicação, tal o índice de reações negativas que ela nos provoca?
O que fazer quando nosso corpo não demonstra aos olhares externos o quanto está debilitado, mas, internamente, sentimos todas as dificuldades que temos de superar para nos colocar de pé diariamente?
O que fazer quando o calor nos deixa entregues, sem energia até para falar?
O que fazer quando no auge do verão, sentimos sede, mas temos medo de ingerir líquidos porque vamos precisar sair de casa e nem sempre terá um banheiro ao nosso alcance?
Qual a fórmula para vivermos "normalmente" como ouvimos todos os dias de pessoas que nem de longe são capazes de mensurar a real dimensão de ser esclerosado?
O que é ser ser normal tendo Esclerose Múltipla?
Será que o normal é vivermos fadigados, tomados por dores, por tremores, fraquezas, formigamentos, medo, incertezas, inseguranças, descontroles emocionais e toda a gama de sintomas e sentimentos conflitantes que carregamos como bagagem?
Será que receber olhares de desconfiança, às vezes de desaprovação, outras de incredulidade é o nosso normal, também?
O que é normal para alguém saudável e o que é normal para alguém que tem uma doença crônica?
Poderíamos dizer que a normalidade é muito relativa e que depende muito das condições de cada um?
Eu acredito que sim, pois o que é normal para mim, pode não ser normal para você e absolutamente anormal para outro.
O que dizer então se compararmos nossa vida de antes com a de depois da Esclerose Múltipla. São iguais? Nada mudou? Temos a mesma capacidade laborativa de antes? Temos o mesmo grau de energia de antes? Temos o mesmo rendimento de antes?
Eu acredito que não, pois, mesmo para os que descobriram a patologia precocemente, não têm sequelas, não apresentam reação alguma à medicação, houveram alterações substanciais no seu dia-a-dia, portanto, seu normal agora será o normal de alguém que convive com uma doença grave, incurável e imprevisível.
Hoje, o meu normal é acordar fadigada, sentir dores diariamente, tomar 3 injeções por semana, ingerir vários outros medicamentos, não suportar o calor, assustar os outros com meus gritos quando os choques e pontadas  tomam conta do meu corpo, esquecer palavras no meio da frase, ter urgência urinária... antes, eu não tinha nada disso, então meu normal era outro.
E você, qual é o seu normal?


Um beijo no coração!

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