terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Não se torne um aprisionador de almas...


Depois de algum tempo a gente aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. 

(Shakespeare)

Ontem estive refletindo no erro que estaremos cometendo caso façamos de outra pessoa, que não seja nós mesmos, a única razão da nossa vida. 
Não estou dizendo que pessoas não serão tão ou mais importantes para nós que nós próprios, pois nossos filhos, por exemplo, serão sempre colocados em primeiro lugar e não tem como ser diferente. Mas, o que estou querendo dizer, na verdade, é que temos de ter consciência de que não podemos nos agarrar a alguém, de tal forma, que nos tornemos pesados demais para sermos carregados. Nesse ponto, dá pra fazer uma analogia com alguém que está se afogando e, na ânsia de salvar a própria vida, se torna tão pesado para quem tenta lhe salvar que o arrasta para o fundo, não se permitindo ser salvo e ainda quase levando o outro à morte também.
Não podemos ser pesados porque peso sufoca e, se sufocar, corta a respiração e, sem respirar, morre-se... morre-se em vida, a pior forma de morte que alguém pode ter.
Pessoas sempre entrarão nas nossas vidas e nela permanecerão pelo tempo que quiserem ficar. Temos de ter sempre a consciência disso. Temos de entender que chantagens emocionais, dependência de todos os tipos, amor unilateral, não serão capazes de aprisionar uma alma ao nosso lado, pois, por mais que consigamos aprisionar um corpo, será apenas isso, um corpo inanimado cedendo aos nossos apelos, uma vez que o que contam mais, ou seja, a alma, o coração e o querer, estarão em outras sintonias; o brilho nos olhos terá se apagado e a morte será quase certa... estaremos cometendo, inconscientemente, um homicídio espiritual.
Outro erro terrível que cometemos é acreditar que porque alguém está conosco, ele se fundiu a nós, transformando-nos em uma única pessoa. Isso não existe. Por mais que haja amor e vontade de compartilhar a vida, cada um permanecerá um ser individual, caminhando paralelamente, mas cada qual com a sua própria personalidade, seus próprios anseios e sua individualidade. Portanto, quando passamos a não respeitar o espaço do outro, exigindo dele que seja uma extensão de nós mesmos, estaremos, mais uma vez, nos tornando um peso desnecessário pronto para ser descartado assim que houver a primeira oportunidade. 
Refleti, também, sobre o egoísmo do ser humano no que se refere ao amor. É engraçado como superamos mais rapidamente a morte do que um divórcio. Ficar viúvo não pesa tanto quanto uma separação. Sei que pode parecer exagero, mas analisando friamente, saber que o outro partiu sem volta e que não haverá mais ninguém na vida dele é mais fácil de carregar do que ver o outro reconstruindo a própria vida, principalmente se for ao lado de outra pessoa. A dor de ser preterido é mais contundente, embora poucos tenham coragem de admitir isso, do que a dor da perda para a morte. 
Por fim, percebi que relacionamentos não significam abrir mão da própria existência para viver a vida do outro, mas significam ser tão leve de ser carregado que o outro não sinta nosso peso e nos leve por muito tempo, de preferência para sempre, dentro dele. 
Então respire, mas deixe o outro respirar também e não se torne um aprisionador de almas...

Beijos leves e livres!

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