domingo, 21 de abril de 2013

Ausências...





Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma.

(Clarice Lispector)




O vocábulo ausência é definido pelos dicionários como: afastamento, falta de presença. Então, estar ausente, significa deixar de estar presente e, em alguns casos, deixar de existir.
Há ausências de todos os tipos, nas mais diversas esferas da nossa existência. 
Pessoas se ausentam das nossas vidas por um motivo ou outro, nos privando de suas presenças às vezes temporariamente, às vezes definitivamente. 
Não são raras as vezes em que as motivações para realizações de sonhos e projetos se ausentam, nos deixando inertes e sem perspectivas e, tantas outras vezes, são os próprios sonhos que se tornam ausentes, se afastam, deixando um vazio dentro de nós.
Existem amores ausentes... amores que não são recíprocos, que apenas um ama, que só um se doa, que só um se entrega... esta é uma ausência dolorosa, que machuca, traumatiza e endurece a alma.
A total ausência de medo, a princípio, parece algo positivo, mas é o medo que nos preserva de muitas situações degradantes e até mesmo mortais. Não sentir medo de nada não nos faz corajosos, uma vez que é como lidamos com o medo que nos engrandece, nos levando à superação. 
Ausência de um sorriso espontâneo.
Ausência de um ombro amigo em uma hora de angústia e dor. 
Ausência de uma amizade verdadeira nas horas em que precisamos de apoio.
Ausência de uma palavra de incentivo nos momentos em que nossas forças se esvaem.
Ausência de um ouvido pra escutar nossas mais loucas divagações.
Ausência de "eu te entendo" quando é só disto que precisamos.
Ausência de uma mão estendida quando mergulhamos nos calabouços da alma.
Ausência de um silêncio compartilhado nos instantes em que palavras são desnecessárias.
Ausência de um olhar de aprovação quando precisamos de aceitação.
Ausência de um afeto verdadeiro que nos aquece, nos conforta e nos fortalece.
Ausência de tudo o que nos arranca sorrisos iluminados.
Todas essas ausências causam feridas dentro de nós, algumas cicatrizam, outras sangram por toda a vida, porém não há ausência mais dolorosa e extenuante do que a ausência de nós mesmos, pois toda vez que nos ausentamos da nossa própria vida, relegando ao acaso ou, a outros, a responsabilidade pela nossa felicidade ou mesmo pelas nossas decisões e realizações, estamos abrindo mão da nossa presença no bem mais precioso que nos foi confiado: a nossa própria vida.

Um beijo completamente presente...


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