segunda-feira, 18 de maio de 2015

Saber enxergar por dentro...




Como é difícil sentirmos em nosso corpo efeitos que não são visíveis aos olhos alheios. 
A Esclerose Múltipla tem muito disso... Muitas vezes ela nos castiga invisivelmente, sem mostrar sua face maléfica. Dissimuladamente ela nos tiraniza, impingindo dores no corpo e na alma, tirando a força dos nossos membros, nos deixando desequilibrados física e emocionalmente, nos levando a sofrer com os efeitos colaterais dos medicamentos que ingerimos na tentativa de domá-la, mas ninguém enxerga isso quando nos olha superficialmente e acabam nos julgando sem piedade alguma.
A bem da verdade, por mais que nos rebelemos, acabamos escravizados por esta doença impiedosa, multifacetada, imprevisível e tão incompreendida.
Eu estou me recuperando, lentamente, de um novo surto e, principalmente, das reações da pulsoterapia que me fez, sem demagogia alguma, mais mal do que o surto em si. Tive uma crise de gastrite medicamentosa que está fazendo meu aparelho digestório entrar em erupção, tal a dor e a azia que está me provocando, além do descontrole da pressão arterial, fadiga extrema, fraqueza acentuada, insônia e toda a gama de coisas ruins que as altas doses de corticoide provoca em nosso corpo.
Semana passada, voltando de uma consulta com a minha neurologista que me recomendou muito repouso a fim de resguardar minha precária energia para me restabelecer, ouvi da minha empregada (hoje ex): repousar do que mais? 
Ela não disse com todas as letras, mas nem precisava, pois ficou bem subentendido nas entrelinhas da pergunta o que se passou em sua cabeça, afinal, como alguém que vive descansando precisa descansar mais? Pois é, minhas pausas para descanso quando a fadiga me extenua eram vistas por ela de uma maneira que ficou bem clara em outras falas que ela me dirigiu. Coisas do tipo: você deve se sentir mal por ver seu marido trabalhando tanto e você não fazendo nada, nem da sua casa você cuida. Quer dizer, ao seus olhos eu sou, declaradamente, uma preguiçosa, afinal eu não dou conta de cuidar de uma casa que possui 57 degraus internos e 300 m², não por ser esclerosada, mas porque eu repouso o tempo todo. Seria cômico se não fosse trágico...
Mas, isso não me atinge mais como antes. Simplesmente desisti de tentar a esclarecer sobre o que é a Esclerose Múltipla porque percebi que ela não quer compreender, não quer enxergar a realidade desta doença implacável e cruel, então, que fique com seu próprio entendimento sobre a invisibilidade dos sintomas que carrego comigo. De verdade, percebi que essas tentativas de justificar o que eu sinto só me fazem dispender do pouco de energia que tenho e que é por demais preciosa para eu a desperdiçar com quem não tem interesse algum em tentar me enxergar com olhos de quem sabe ver de verdade. 

Beijos fadigados...


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