quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Quando a bagagem é pesada demais...




Um dia de trabalho exaustivo, o corpo cansado, o chegar em casa, um banho relaxante, uma boa noite de sono... e o corpo pronto, de manhã, para mais um dia de trabalho.
Uma virose daquelas de derrubar, dor no corpo inteiro, até os fios de cabelo doem, medicamentos, muito líquido... e o corpo recuperado para retomar a rotina diária.
Uma noite de insônia por um motivo qualquer, um rolar na cama de um lado pro outro, sonolência diária, uma noite de sono compensatória e, no dia seguinte, um corpo renovado.
Todos estão sujeitos a situações como essas e muitas outras que mexem com nosso corpo, com a nossa rotina e a nossa alma. Todos podem contrair doenças, ficarem exaustos por várias razões, mas, excetuando as doenças crônicas, são situações transitórias que passam após um período de tratamento ou descanso.
Eu tenho Esclerose Múltipla e minha fadiga não passa após uma noite de sono, minha dor não cede com analgésicos, minha insônia não se cura sozinha quando eu relaxo...
Eu não estou superestimando minha doença e os sintomas que ela me provoca em detrimento do que os demais seres humanos, enfermos ou saudáveis, sentem, longe disso... o que eu quero é que não menosprezem o que eu sinto, não comparem minhas dores com as dores dos outros, mesmo porque, dor não se compara. 
O que eu quero é que não digam que minha fadiga é sedentarismo, ou preguiça, ou um cansaço que umas horas de descanso e um banho podem resolver. 
O que quero é que entendam que a Esclerose Múltipla não tem cura conhecida e que o fato de eu aceitar isso não significa que não tenho fé, pois, se não tivesse fé na vida, nos dias em que não consigo achar posição para dormir de tanta dor, eu simplesmente desistiria e não me levantaria mais da cama
O que quero é que se conscientizem de que se eu fosse fraca como muitos acreditam, eu não me autoaplicaria uma medicação que, notadamente, me deixa pior no dia seguinte, que me provoca reações debilitantes, mas que por outro lado desacelera a progressão da doença. Se isso não é ser muito forte, o que é então???
O que eu almejo é nunca mais ser comparada com outros esclerosados, não porque os meus sintomas sejam piores ou mais importantes do que os deles, mas porque apenas somos diferentes, uma vez que a Esclerose Múltipla não evolui da mesma forma em todos que a possuem.
O que eu quero é que respeitem meus momentos de melancolia, de choro, de desabafo e que não me tachem de depressiva ou de negativa, afinal, eu sou tão humana como o restante da humanidade.
O que eu preciso é que não me olhem com piedade, mas sim, que me olhem com respeito e enxerguem o quanto eu luto para ficar o melhor possível, dentro do que é possível estar, carregando essa bagagem tremendamente pesada que se atrelou a mim.
O que eu necessito é de compreensão, de apoio e de poder viver meus momentos de desalento sem críticas, seja dos dito saudáveis, seja dos próprios companheiros de doença que, muitas vezes, como tenho visto, por terem esclerosado recentemente, por não terem reações aos medicamentos, por não terem sequelas, acreditam que a bagagem vai continuar sendo leve para sempre (de coração, espero que tenham razão nisso) e se sentem no direito de julgar os que já estão usando todas as suas forças para arrastarem a mala sem alça da Esclerose Múltipla.

Beijos doloridos e fadigados no coração de todos!


Um comentário:

  1. Um beijinho no coração,com a esperança de remição de todas as dores.
    LuisaVilaça

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