(Pe. Fabio de Melo)
Quando da descoberta de uma doença crônica, grave e incurável, seja ela qual for, nos deparamos com um dilema: revelar ou não a nossa condição aos familiares, amigos, empregadores...
Muitas pessoas preferem manter isso o mais restrito possível, não divulgando a ninguém, além dos familiares e amigos mais íntimos, o que é perfeitamente compreensível, pois, penso que o pior de tudo, até mais do que a descoberta da doença, são os olhares de piedade e os comentários desconexos que nos são lançados no momento da revelação.
Eu, particularmente, optei por revelar a todos sobre ter Esclerose Múltipla. Não escondi, não disfarcei, contei, esclareci e penso que foi o melhor que poderia ter feito, apesar da reação dos meus familiares não ter sido, nem de perto, a que eu esperava.
Primeiramente, li no rosto de cada um deles uma interrogação sobre o que era a doença neurodegenerativa. Diante disso, parti para uma "aula" sobre o que era e o que significava viver com Esclerose Múltipla. Tendo feito isso, notei uma transfiguração do desconhecimento em uma expressão de perplexidade. Li no rosto de cada membro da minha família que tomou conhecimento da minha condição, uma dúvida latente que teimava em questionar a veracidade do que estava ouvindo. Em seguida, após eu ter reafirmado que não restava nenhuma dúvida quanto ao diagnóstico, mais uma vez, vi uma expressão se transformando em outra: o espanto se transformou em piedade.
Ah! de todas, essa foi a pior das emoções que li estampadas nos rostos de cada um deles... eu não queria, de forma alguma, piedade. Não queria ninguém sentindo dó de mim. Muito pelo contrário, eu só queria respeito e compreensão, nada mais.
Hoje, transcorridos 13 meses desse momento doloroso, eu posso dizer que o respeito e a compreensão que tanto quis naquele dia eu consegui, por parte de alguns, no entanto, de outros eu ainda não consegui, nem mesmo, a aceitação do fato de que sou "esclerosada", sim, pois percebo, claramente, a negação dessa minha condição, uma vez que sempre que ela é abordada, ouço evasivas, desconversações, mudanças de focos, menos o enfrentamento de que eu, realmente, fui acometida por uma doença autoimune, progressiva, degenerativa e sem cura até o momento.
Conviver com a Esclerose Múltipla não é uma das tarefas mais fáceis que a vida me impôs, todavia, conviver com o fato de que algumas pessoas próximas a mim ainda não aceitaram esse fato é bem mais difícil, doloroso e decepcionante do que a doença em si. No entanto, eu tenho plena consciência que o tempo de aceitação de cada um é individualizado, cada qual tem o seu tempo de digerir e maturar as dores do mundo. Assim, sei que no tempo de cada um, a aceitação irá acontecer e, cada vez que isso ocorrer, o fato de ser portadora de Esclerose Múltipla irá pesar menos em meus ombros.
Um beijo terno no coração de cada um...