domingo, 1 de março de 2015

Uma longa trajetória...




Um dia você acorda com dores tão fortes nas pernas que não tem como deixar de ir ao médico. Lá você tem suas pernas examinadas e ouve: não há nada que justifique estas dores, mas, se quiser secar os vasinhos, basta ver o valor e marcar com a recepcionista. Você sai frustrada do consultório e sem qualquer diagnóstico. As dores vão, voltam, vão voltam, as idas aos médicos se repetem e nada de saber o que te provoca as dores...
Outro dia você acorda e o mundo inteiro gira ao seu redor, seus pés parecem que flutuam, você balança de um lado pro outro sem ao menos sair do lugar. Agora você vai ao neurologista, ele te pede um exame otoneurológico e você depois de fazê-lo volta vomitando pelo caminho, sentindo a cabeça rodar insanamente e as tonturas vão a níveis insuportáveis. O resultado não detecta alterações, mas te medicam para labirintite mesmo assim. Passados alguns dias você melhora, mas vez ou outra a tontura volta, o ciclo se repete, vários neurologistas e nenhum solicita uma ressonância magnética. As tonturas vêm e desaparecem mesmo sem tratamento...
Numa madrugada você acorda com dores fortíssimas no joelho, amanhece, você vai ao ortopedista e ele te engessa a perna inteira. Diagnóstico: tendinite. Outra madrugada, dores nas mãos, mesmo ortopedista, mãos engessadas. Diagnóstico: tendinite. Outro dia, dores pelo corpo inteiro, tiram o gesso, te mandam para o reumatologista, bateria de exames, nada alterado, você perambula por onze especialista e ninguém te diagnostica. Quatro meses de cama, sem andar, até que aos poucos as dores cessam e você vai retomando a rotina, mesmo que a cada dia com mais dificuldade e sem saber o mal que te afeta...
Você dorme a noite inteira e acorda pior do que quando se deitou. Se arrasta diariamente para sair da cama. Faz um esforço sobre-humano pra realizar as tarefas diárias. Começa a ser vista como preguiçosa, dramática e outros adjetivos nada agradáveis. Idas ao médico novamente. Diagnóstico: carência de vitaminas e sedentarismo. Você se entope de vitaminas, se matricula numa academia, vai um dia e fica sete quase imóvel de tanta fadiga. Seu corpo não responde aos comandos do cérebro, mas você vai além dos seus limites, até que se vê obrigada a desistir das aulas de musculação e voltar ao sedentarismos por exaustão física e emocional...
Diante de tantos sintomas, você não consegue mais ficar longe da depressão, pois seu lado emocional vive numa gangorra, oscilando entre as dores, a fadiga, a incompreensão e o não saber o que te acomete. Você tem uma crise emocional e no hospital o médico te diz que tudo o que você sente é psicológico e, para te derrubar de vez, te manda ler a bíblia que você vai melhorar. Você sai de lá pior que chegou e procura um psiquiatra que te passa antidepressivos e você, ao ingeri-los, se sente um pouco melhor, mas é só um paliativo, pois o corpo continua igual...
Até que um dia você acorda e acredita que teve um AVC, seu lado esquerdo está sem sensibilidade, mas dói, sua perna não obedece aos seus comandos e você, terrivelmente assustada, volta ao hospital. Diagnóstico: inflamação na região dos pinos que você possui no tornozelo. Recebe receita de anti-inflamatório e mais nada. Nenhum RX sequer foi feito. Os dias passam, a medicação não faz efeito algum e a perda de sensibilidade divide seu corpo ao meio. Cinco médicos te examinam e reafirmam o diagnóstico inicial até que o que operou seu tornozelo descarta a possibilidade ortopédica e te encaminha para um neurologista...
Chega o dia da consulta e você acha a médica maluca, afinal, você está com o corpo dormente, sem coordenação na perna e ela te pergunta se você enxerga direito e se urina normalmente. Mas, pouco tempo depois você entende o porquê de tantas perguntas, pois você recebe o diagnóstico de Esclerose Múltipla e, junto com ele, medo e alívio. Medo pelo futuro, alívio por acabar, ao menos em tese, as perambulações pelos consultórios e hospitais. 
Isso tudo que descrevi foi minha trajetória até descobrir o mal que me acometia. Durou certa de uns 18 anos aproximadamente. Verdade, se passaram pelo menos 18 anos desde os primeiro sintomas até o diagnóstico há 3 anos. 
Não foi nada fácil, vivi momentos de desolamento profundo, de dores imensuráveis, de desespero mesmo. Mas sobrevivi e estou sobrevivendo a cada dia. Por isso, quando ouço que tenho de ser forte, que não posso desistir, que devo olhar ao redor pra ver quantos estão em situações piores que eu, eu só tenho como resposta que, se diante de tudo o que vivi até saber o que tinha, eu não desisti, por que iria desistir agora que sei exatamente quem é meu oponente nessa batalha que a vida me deu?

Beijo corajosos!


2 comentários:

  1. Olá! Meu nome é Karina e lendo seu blog me surgiram algumas dúvidas... Estou com suspeita de esclerose múltipla, fazendo ainda os exames. Comecei sentindo uma fraqueza nas pernas e uma dor intensa no quadril. Junto com a dor veio a fadiga, o cansaço, o desânimo. Se faço atividades simples como, por exemplo, lavar uma louça, fico muito cansada, derrubada mesmo. Estou com essas dores e esta fadiga há 4 meses, porém tem dia em que eu me sinto bem, sem o cansaço e fadiga (a dor até acalma, mas sempre permanece). Já estive em ortopedistas especialistas em coluna, em quadril, já fiz fisioterapia e nada resolveu. Resolvi procurar um neurologista, por causa da fraqueza nas pernas e ele suspeitou de esclerose múltipla, apesar de dizer que a esclerose pode causar fraqueza muscular, mas não dor.... Fiz as ressonâncias magnéticas e na medula não apareceram lesões, apenas no crânio e são poucas. O neurologista pediu que eu fizesse o exame do liquor para fechar o diagnóstico. Como é um exame muito invasivo, estou com medo de fazer a toa. Nestes 4 meses minhas dores aumentaram, sinto dor na articulação do quadril, meu abdômen é tão dolorido que parece que fiz abdominais, sinto espasmos musculares ao longo das pernas, e uma "vibração nos pés", além da fadiga. Se você puder me dar sua opinião, eu gostaria de saber de saber algumas coisas: como são as dores que você sente? Você sente dores nas articulações (quadril, tornozelo, ombro) ou só musculares? Outra dúvida... sou de Santo André e vou colher o exame do liquor... Estou com medo de sentir dor, de ter a dor de cabeça depois do exame (o médico disse que isso pode acontecer). Como foi a sua coleta do liquor? Você sentiu dor???

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    1. Olá Karina!
      Desculpe a demora em te responder, estou em surto e fazendo pulsoterapia. Lendo o seu relato me vi em cada uma das suas palavras. As dores sempre foram uma constante na minha vida e continuam sendo. Sempre digo que até meus cabelos doem. Quanto ao liquor não é o melhor exame a se fazer, mas também não é tão ruim assim, dá pra enfrentar bem e ele é essencial para fechar o diagnóstico. Fiz aqui em Santo André mesmo. Eu te adicionei no Google + e se você tiver face me adiciona lá por favor, para podermos conversar melhor. Em tempo, essa afirmativa de que a Esclerose Múltipla não causa dor já caiu por terra há tempos, hoje os médicos sabem o quanto ela é dolorida para a maioria de nós.Eu me trato na Casa de Esperança de Santo André, com uma ótima neuro. Bjs e aguardo seu contato.

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