Plágio
Sempre fui sonhadora
uma xerox imperfeita
de uma estrela que brilhou
em um tempo que passou.
Sempre fui aventureira
de um poeta contestador
que decanta revolução e amor.
Sempre fui bandoleira
fui do romântico ao rock pauleira
um misto de Rita Lee e Ângela Maria
cheia de manhas e manias.
Já fui musa de verão
fui tema de canção
fui estrofes de poesia
e até Chico Buarque e agonia.
Hoje sou som, luz e fogo
sou silêncio, medo e desejo
sou frases soltas ao vento
sou poema lido ao relento.
(Bete Tezine, 1985)
Desde nosso nascimento, até quando deixamos o corpo físico, atravessamos diversas fases. Nem todas boas, regadas a sorrisos e conquistas, pois muitas são banhadas em lágrimas e perdas nas mais diversas esferas das nossas vidas. Mas, assim como a lua, a fase chega, permanece por um tempo e é substituída por outra que, por sua vez, é substituída por outra, num constante ciclo.
Eu sou feita de fases.
Desde onde minha memória alcança, tenho atravessado momentos que, se eu parar para pensar, alguns deles tiveram tudo para me atirar ao subsolo existencial. Vivenciei dores que imaginei não sobreviver às feridas dilacerantes que elas abriram na minha alma, mas, com o passar do tempo, elas se transformaram em cicatrizes que, embora não me deixem esquecer que o sangue jorrou dali um dia, hoje não doem mais.
Fui criança pelo tempo que me permitiram ser. Adolescente, não tenho lembrança de ter sido, o que significa que pulei esta importante fase da minha vida, não pela minha vontade, mas pelas circunstâncias que me lançaram da infância à idade adulta sem piedade alguma. Encontrei pessoas pelo caminho que desencadearam inúmeras fases. Fases em que me senti feliz como jamais havia sido, outras em que experimentei o gosto amargo da manipulação, das mentiras, da falsidade, da perda, da decepção, da desilusão, da revolta...
Tive períodos em que me senti agigantar em coragem, força e determinação. No entanto, passei por fases em que me senti tão pequena, impotente e vulnerável que o medo se fez latente, o choro uma constante e vi minha força se esgueirando pelas frestas da janela do meu eu.
E essas fases se repetem, se alternam, se intercalam com frequência por mais que eu me iluda pensando que tenha controle sobre minhas emoções, pois, assim como não tenho controle sobre os desmandos da Esclerose Múltipla, também não controlo meus momentos de riso e de choro, de vitórias e de perdas, pois sou humana e, como tal, dona de emoções complexas e, sou mulher que, mais que qualquer outro ser vivo, é dona de fases.
Um beijo repleto de fases...
P.S. A poesia que usei como epígrafe, escrevi quando tinha 15 anos e hoje percebo que, naquela época, eu já sabia que era feita de fases.